domingo, 30 de outubro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – reflexões sobre o desfecho da história e frustrações decorrentes; Antônio Claro se antecipa para confirmar o encontro; frente-a-frente

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/10/o-homem-duplicado-de-jose-saramago-sem.html antes de ler esta postagem:

Após a conversa com a mãe, Tertuliano refletiu sobre suas palavras... Não conseguia crer que acabara se comprometendo a contar-lhe sobre o estranho caso da duplicação no qual estava envolvido... Nem mesmo sabia se algum dia teria disposição de revelar-lhe história!
Não conseguia entender por que terminou deixando dona Carolina na expectativa da visita... Era certo que assim que a semana começasse ela anotaria no calendário o dia previsto de sua chegada. Ele seria cobrado por eventuais atrasos...
(...)
Depois pensou que tinha feito o melhor... Por que haveria de permanecer com todo aquele peso sobre as costas? Isso também não significa que teria condições de partir naquele mesmo momento para a casa da mãe e “colocar todas as cartas na mesa”...
Não teria condições de dizer que há um tipo tão parecido com ele que nem mesmo ela teria condições de saber dos dois qual era o seu verdadeiro filho!
Pensou em como seria a conversa com dona Carolina depois de se encontrar com o Antônio Claro... Admitiria o encontro com o “seu igual” e isso o deixara um tanto confuso, a ponto de não reconhecer-se mais a si mesmo.
(...)
Essa conclusão fez com que seu estado de ânimo tivesse uma recaída... Sentiu medo e se lembrou das palavras de sua mãe a respeito de não sabermos “tudo do que nos espera para além de cada ação nossa”.
(...)
O domingo logo chegaria... Haveria um encontro? O futuro do outro estava intimamente ligado ao que viesse ocorrer a ele.
O professor estava a pensar sobre essas coisas quando o telefone tocou... Era Antônio Claro.
O tipo quis saber se ele havia recebido o croqui e se havia alguma dúvida sobre como chegar ao local. Tertuliano respondeu que estava tudo muito bem explicado...
O ator quis se justificar por ter se antecipado, já que pelo que haviam combinado ele deveria telefonar apenas no sábado... Reforçou que o mais importante era a confirmação do recebimento das orientações e do encontro.
Tertuliano respondeu que estaria no local marcado às seis... Antônio Claro adiantou que ele não precisava se preocupar ao passar pelo povoado, já que ele dirigiria por um atalho... Isso evitaria estranhamentos dos moradores locais.
Em relação ao carro também não havia motivos para preocupações... Se o vissem, pensariam que o ator trocou o veículo... Antônio explicou que, além disso, já não iam à casa como antes, então o mais provável era ninguém notar absolutamente nada.
Nada tinham a acrescentar... Despediram-se com um “até depois de amanhã”, “até domingo”.

(...)

Tertuliano chegou a casa cinco minutos depois do horário combinado.
O carro do Santa-Clara (que era o nome artístico de Antônio Claro em seu início de carreira) era mais novo do que o do professor e já estava estacionado.
A cancela estava desimpedida... As portas também estavam abertas... As janelas estavam trancadas... O interior era uma penumbra só...
Tertuliano se aproximou da escada e ouviu a voz de Antônio Claro solicitando que ele entrasse...
O professor se aproximou do portal... O ator insistiu que ele entrasse.
Tertuliano estava em desvantagem, pois não podia ver o tipo escondido na parte escura da casa... Antônio pronunciou que, pelo que podia observar, aquele parecia não ser quem ele estava esperando.
Tertuliano retirou a barba postiça e entrou na sala. Antônio o comparou a certos personagens do teatro dramático... Disse isso, retirou-se da penumbra e também se colocou sob a claridade que entrava pela porta.
Antônio Claro parou diante de Tertuliano... Os dois se olharam silenciosamente... Tertuliano estava preparado para encarar o outro... Antônio ficou estupefato com o que viu...
Tertuliano apresentou-se dizendo que era ele quem havia lhe telefonado. Depois fez questão de manifestar que não pretendera em nenhum momento divertir-se com a inusitada situação... Insistira no encontro para que ele mesmo pudesse se certificar que eram mesmo iguais.
Antônio Claro se pronunciou quase que a gaguejar... Disse que, devido à insistência de Tertuliano, começou a imaginar que deviam possuir mesmo alguma semelhança... Mas quase não podia crer no que estava vendo com os próprios olhos... Sentia-se como se estivesse diante do “próprio retrato”.
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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