domingo, 16 de outubro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – fim do jantar; Tertuliano pede desculpa e revela que andava mentindo para Maria; conjecturas a respeito da parte ainda não esclarecida; a noite dera em positiva, e em solidão

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/10/o-homem-duplicado-de-jose-saramago-fim.html antes de ler esta postagem:

Tertuliano pensou que podia contar tudo à Maria... Falar-lhe a respeito da extraordinária história talvez trouxesse um pouco de entendimento aos dois... Talvez suas atitudes marcadas pela grosseria fossem perdoadas por ela.
Provavelmente Maria lhe daria conselhos que o levassem a desistir da empreitada... Diria que ele não podia esperar nada mais do que fatalidades... Essas coisas. Pode ser que quisesse saber se ele já colocara a mãe a par da situação... Ele responderia que ainda não... Então Maria se mostraria disposta a ajudá-lo no enfrentamento de seu drama.
(...)
Mas não foi bem isso o que ocorreu...
O jantar foi silencioso... Logo o garçom apareceu para saber se desejavam mais alguma coisa... Tertuliano aceitou um café e pediu a conta. Os olhos de Maria já não denunciavam lágrimas.
O carro levou-os à rua onde Maria morava... Tertuliano desligou o motor. Sem olhar diretamente nos olhos dela, começou a dizer que tudo o que ele lhe falara nas últimas semanas, e isso incluía a conversa que tiveram no jantar, era mentira...
Ela espantou-se... A voz de Tertuliano era tensa enquanto prosseguia dizendo que não adiantava ela perguntar a respeito da verdade porque ele não teria como respondê-la.
Maria concluiu que ele não buscava “esclarecimentos estatísticos” da produtora de filmes... O rapaz confirmou. Era assim mesmo. Ela emendou que, então, não adiantaria nada perguntar-lhe a respeito do real motivo que o levara àquele projeto.
Mais uma vez Tertuliano confirmou. Evidentemente Maria prosseguiu refletindo a respeito do que acabava de ouvir... Perguntou se a situação tinha a ver com as fitas de vídeo que ela mesma verificara em seu apartamento.
Tertuliano sugeriu que ela devia se contentar com as informações que ele lhe passara... Não adiantava questionar ou fazer suposições... Ela respondeu que de fato não faria perguntas, mas era inevitável que fizesse suposições... Não seria de estranhar que algumas fossem bem “disparatadas”.
Ele observou que a revelação que acabara de fazer não a deixara surpresa... Maria argumentou que em algum momento ele teria de dizer-lhe... Evidentemente não esperava que o fizesse naquela mesma noite.
Tertuliano quis saber por que ela considerava que “certamente” ele acabaria lhe contando... Maria explicou com sinceridade que o considerava mais honesto do que ele mesmo se julgava... Ele observou que não era bem do jeito que ela estava dizendo... Tanto é que não conseguia contar-lhe toda a verdade.
Para Maria não se tratava de uma questão de honestidade... Havia um problema que afligia o namorado, e era isso o que o impedia de falar.
O próprio Tertuliano quis que ela explicasse o que seria aquilo. Então Maria disse que talvez se tratasse de alguma dúvida, algo angustiante ou um temor...
Ele quis saber em quê ela se embasava para fazer aquele tipo de afirmação... Ela respondeu que percebia tudo em sua fisionomia e nas palavras que proferia.
Tertuliano objetou ao dizer que havia mentiras em suas palavras... Maria explicou que se referia ao modo como suas palavras soavam.
Ele brincou com a ideia de imitar os políticos ao dizer que “nem confirmava nem desmentia”... Maria afirmou que aquele expediente, um truque de “baixa retórica”, não enganava a ninguém... E garantiu que a frase tendia “mais para o lado da confirmação do que para o desmentido”.
(...)
E não é que o final da noite estava dando em proveitoso?
Mais uma vez Tertuliano se surpreendera com a inteligência de Maria.
Pararam com o “jogo de palavras”... Tertuliano se referiu ao choro dela durante o jantar e pediu desculpas... Ela disse que ao “saber da metade do que havia para saber” estava se sentindo melhor e não podia se queixar.
Tertuliano observou que apenas havia confessado que mentira... Ela respondeu que “essa metade” contribuiria para que sua noite de sono fosse melhor.
Ele advertiu que talvez ela perdesse totalmente o sono se soubesse da outra metade.
Isso assustou Maria da Paz... Mas ele a acalmou ao citar a frase da mãe sobre como “tudo acaba por se resolver”.
Maria pediu-lhe que tomasse cuidado... Ele prometeu isso e também que contaria o resto de seus segredos em ocasião oportuna.
Ela garantiu que esperaria. Deu-lhe um beijo e se preparou para sair... Mas neste momento ele segurou-a pela mão e sugeriu que fossem para a sua casa.
Maria respondeu que já estava agraciada com o que ele havia lhe contado... Tertuliano perguntou se faria diferença se lhe contasse o resto ainda naquela noite.
(...)
Resoluta, Maria abriu a porta e disse que nem mesmo essa possibilidade a faria seguir com ele.
Sorriu e retirou-se do veículo.
Tertuliano funcionou o carro...
Aguardou que ela desaparecesse no prédio.
Na sequência dirigiu no rumo de seu apartamento, onde a solidão o aguardava.
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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