segunda-feira, 24 de outubro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – Antônio Claro telefona e marca o encontro com Tertuliano; desconfianças e incertezas; sobre o que reflete Helena?

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/10/o-homem-duplicado-de-jose-saramago_23.html antes de ler esta postagem:

Passaram-se três dias...
O telefone da casa de Tertuliano tocou... Não era a mãe, Maria da Paz ou o diretor da escola.
Antônio Claro desculpou-se por considerar demasiado cedo... O professor de História garantiu que não havia problema nenhum, pois o que estava a fazer podia ser interrompido.
O ator foi explicando que depois de pensar, e de entrar em acordo com a esposa, chegou à conclusão de que tinham de se encontrar. Tertuliano aprovou a ideia e confirmou que não via sentido em não se conhecerem.
Para Antônio Claro, o encontro não podia ocorrer em local público... Considerava mesmo que naquela história ele é quem tinha mais a perder... Depois emendou que não conseguia admitir que fossem idênticos como o outro aludia.
Estando de acordo no principal ponto, restava saber onde se encontrariam... Tertuliano explicou que havia alguns inconvenientes de marcarem em sua residência... Principalmente porque os vizinhos, a senhora do andar de cima em particular, notariam os “dois Tertulianos”...
Antônio Claro sentenciou que haveria de ser num local deserto e afastado da cidade... Ele conhecia o ambiente ideal, localizado há uns trinta quilômetros. Então acertaram que o ator enviaria uma carta com o mapa e as orientações para se chegar sem atropelos ao local... Dariam um tempo para que a correspondência chegasse... Antônio Claro voltaria a telefonar no sábado para confirmar se Tertuliano já estava com o mapa... No domingo se encontrariam.
Antônio Claro fez questão de dizer que iria armado ao encontro... Tertuliano quis saber o motivo da desconfiança... O ator explicou que não o conhecia e que não tinha a menor ideia sobre suas intenções...
Indignado, Tertuliano disse que não pensava em sequestrá-lo ou eliminá-lo... Queria apenas esclarecer e tirar a limpo a verdade sobre o fenômeno. Ele também não o conhecia! É certo que o vira representando nos filmes, mas isso significava muito pouco.
Estavam “empatados”, mas Tertuliano fez questão de afirmar que não iria armado nem mesmo de um simples canivete.
Antônio Claro finalizou dizendo que era melhor não discutirem... Deviam se encontrar em paz... Tertuliano argumentou que a contradição estava com quem levaria uma arma... O outro disse que não havia motivos para se preocupar, pois a arma estaria descarregada...
Outra contradição! Tertuliano fez a observação, porém o tipo explicou que faria como se estivesse a ensaiar para um novo filme... No final saberia que daria tudo certo porque o script assim o garantia. O professor observou que na História não ocorre da mesma forma, já que só depois da concretização dos fatos é que se pode afirmar algo a respeito.
(...)
Os “iguais” se despediram cortesmente. Tertuliano disse qualquer coisa gentil ao se referir à Helena.
Antônio Claro havia dito à esposa que telefonaria para Tertuliano... Mas não queria que ela estivesse presente no momento em que se falassem.
Helena não fizera nenhuma objeção... Do escritório onde trabalhava telefonou para casa e na sequência para o número de Tertuliano... Desse modo pôde constatar que os dois se falavam conforme o marido havia determinado.
Ela nem conseguiria dizer por que precisara conferir.
Segundo Saramago, há que se considerar que Helena não daria sequência a qualquer tipo de conversa se o telefonema a Tertuliano fosse atendido... Dessa maneira não reconheceríamos nenhum “subtom” que pudesse despertar qualquer suspeita.
Evidentemente é melhor considerarmos que não havia entre eles intimidades que justificassem uma troca de ideias no meio de um dia de trabalho normal para a maioria das pessoas.
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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