sábado, 29 de outubro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – reconhecendo o ambiente do encontro; impressões e conclusões sobre o lugar ermo; de volta à cidade grande

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/10/o-homem-duplicado-de-jose-saramago-um_28.html antes de ler esta postagem:

Com a barba postiça colada no rosto, Tertuliano seguiu pensando sobre o propósito de não faltar ao encontro de domingo...
Também para essa expedição não podia deixar o disfarce... Seria a casa propriedade do ator? Tratava-se de imóvel que ele alugava com certa frequência para desfrutar dos ares interioranos? Em qualquer um dos casos seria bem provável que, ao topar com algum vizinho, o tomassem pelo próprio Antônio Claro. Algo inconveniente, sem dúvida.
E se a casa de campo do homem fosse a última de uma estradinha ladeada de pequenas propriedades? Neste caso os locais desconfiariam do veículo conduzido por um desconhecido barbado...
(...)
Tertuliano chegou à parte final de sua viagem conduzindo o veículo com todo cuidado... A estradinha era tão estreita que só a custo dois carros podiam passar um pelo outro. À sua volta inúmeras árvores e a sensação de que nas proximidades passava um rio.
Mais adiante avistou uma casa... Só podia ser a indicada por Antônio Claro! A estradinha seguia adiante a se perder entre colinas. Talvez existissem outras casas mais à frente. Do ponto onde estava era certo que ninguém o avistava... Se existiam vizinhos, eles habitavam residências distantes e não tinham como dedicar atenção à propriedade do ator que passava a maior parte de seu tempo na cidade.
Apesar do ambiente desabitado, Tertuliano tomou o cuidado de notar se por perto havia algum pastor com o seu rebanho... Achou que sua presença provocaria uma reação à moda dos medievos que se armavam de foices e varapaus para perseguir estranhos.
Esforçou-se para representar o típico viajante que raramente tem oportunidade de contemplar paisagens bucólicas. Parou o carro e desceu...
Observou a casa, flores e folhagens que deviam decorá-la... Concluiu que em tempos não tão remotos o imóvel passou por reforma. Deu para notar também que seus donos a frequentavam cada vez menos.
O muro que a separava da estrada era baixo... Deu para ver que na parte de trás havia dois castanheiros nitidamente mais antigos do que a casa.
Quem teria uma propriedade daquelas? Apenas os amantes da natureza... Aqueles que se contentam com o que ela tem a oferecer em qualquer época do ano. Muito silêncio e ambientes ideais para a contemplação... Isso era tudo por aquelas paragens.
Caminhando pelo terreno localizado na parte de trás, conheceu um matagal que tomava conta da área destinada ao jardim... Uma macieira e um pessegueiro também estavam sendo sufocados por líquens e por trepadeiras diversas.
Antônio Claro e a esposa devem ter curtido por algum tempo a casa e a possibilidade de se distanciarem da correria da cidade grande por alguns dias durante o ano... A impressão de Tertuliano era a de que aquele passatempo tenha durado pouco.
É verdade que teve curiosidade de enveredar-se pelo matagal na parte dianteira da casa... Poderia encontrar um atalho que chegasse ao rio... Mas levou em consideração que quanto menos circulasse pela área menor seria a chance de ser observado por alguém.
Então, depois da inspeção que fizera no ambiente que havia sido um florido jardim, o professor resolveu retornar ao carro e dirigir de volta para a cidade, onde aguardaria o telefonema de Antônio Claro e confirmaria o recebimento do envelope com as orientações.
(...)
Saramago adianta que depois do encontro que teria naquelas paragens jamais retornaria àquela casa.
A viagem de retorno foi tranquila...
Depois de passar pelo povoado, pisou fundo no acelerador... A estrada estava tranquila e em menos de uma hora concluiu o trajeto.
Tomou banho, vestiu roupas limpas e serviu-se de uma limonada... Não deu a mínima para a redação do projeto tão aguardado pelo diretor.
Achou que o momento era propício para telefonar à mãe.
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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