quinta-feira, 20 de outubro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – Tertuliano explica que os dois são idênticos e que outros fenômenos podem se repetir a ambos; Antônio Claro não se convence da necessidade de se encontrarem; o caso deve ser esquecido

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/10/o-homem-duplicado-de-jose-saramago-um.html antes de ler esta postagem:

Antônio Claro quis saber por que Tertuliano precisava falar-lhe pessoalmente...
Tertuliano explicou que não era apenas a voz de ambos que era idêntica... Qualquer um que os visse apostaria que eram gêmeos... Mais que isso, que eram idênticos!
Essas palavras provocaram indignação no ator... De modo ríspido, disse que não o conhecia e que sequer sabia se o seu nome ou profissão eram aqueles ditos por ele.
(...)
Parecia o ponto final... Antônio Claro não acreditava no professor.
Então Tertuliano pôs-se a perguntar sobre alguns sinais de pele, se o ator confirmava ou não possuí-los.
Dois sinais no antebraço direito; uma cicatriz logo abaixo do joelho esquerdo... Tudo batia... Só dependia mesmo de Antônio Claro querer conferir pessoalmente. Seria possível? O ator achava que não.
Falaram um pouco sobre a possibilidade de ser, de fato, como o Tertuliano dizia... Os sinais ocorreram ao mesmo tempo em um e outro? Mas para Antônio Claro, ainda que tudo aquilo pudesse ser comprovado, não fazia o menor sentido marcarem um encontro. Ele nem mesmo entendia por que o outro o estava procurando!
Tertuliano disse que era apenas por curiosidade... Duas pessoas iguais! Não é sempre que uma coisa dessas pode ser aferida.
Aparentemente isso não mudou o ânimo do ator... Tanto é que ele disse que passara toda a vida sem saber nada a respeito daquilo. Sinceramente não sentia a menor falta daquele tipo de aberração, e completou dizendo que a partir daquele momento faria de conta que continuava sem saber.
Tertuliano parecia advogar para o diabo... Redarguiu que aconteceria ao Antônio Claro o mesmo que ocorrera com ele... Sempre que se olhasse no espelho não teria certeza de enxergar a própria imagem ou a de outro tipo.
Claro cogitou que talvez estivesse lidando com um louco... Tertuliano pediu para ele se lembrar da cicatriz... Se fosse mais ou menos como cogitara, talvez ambos fossem loucos.
Nitidamente incomodado, Antônio Claro afirmou que chamaria a polícia... Tertuliano respondeu que a iniciativa não era nem um pouco prática... O que poderiam dizer? Ele telefonara apenas duas vezes querendo saber se na casa morava o ator Daniel Santa-Clara.... Não fizera nenhum tipo de ameaça... Havia algum crime nisso?
Para Antônio Claro o incômodo a ele e à esposa era motivo suficiente. Era melhor que acabassem com aquilo. Ele sugeriu que o que tinham a fazer era desligarem os aparelhos.
Tertuliano perguntou se ele tinha certeza de que não queria encontrá-lo... Antônio Claro respondeu que não pretendia encontrá-lo e que nada do que tinha sido lhe contado despertara a menor curiosidade.
(...)
Tertuliano tentou uma última cartada... Mas o ator garantiu que suas palavras também eram as últimas sobre o assunto.
Tertuliano pediu desculpa pelo incômodo. Garantiu que suas intenções não eram más.
Antônio Claro quis que ele prometesse não telefonar-lhe mais... Ele respondeu que “claro que sim”, pois todos têm direito à tranquilidade e privacidade do lar.
Que bom... Antônio Claro admitiu estar satisfeito ao saber que o outro concordava.
(...)
Uma dúvida mais saiu da boca de Tertuliano... Se eram iguais, ocorreria de morrerem no mesmo instante?
O ator respondeu que numa grande cidade muitas pessoas morrem no mesmo instante em locais diferentes, sem possuírem qualquer vínculo umas com as outras.
Os casos citados por Antônio Claro eram apenas coincidência... De acordo com Tertuliano, o fenômeno que os unia não era uma “banal coincidência”!
O ator colocou fim à conversa e voltou a dizer que esperava que Tertuliano tivesse a decência de não voltar a ligar-lhe.
O que estava prometido, prometido estava... Tertuliano garantiu que cumpriria, desculpou-se mais uma vez.
Antônio Claro respondeu que o desculpava.
Despediram-se com o tradicional “boas noites”.
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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