O velho Tião se emociona ao recordar os tempos da Legião Negra e da Guerra... É com orgulho que conclui que os paulistas “não fugiram à luta” e nem temeram a própria morte, como diz o Hino Nacional.
São Paulo lutou contra o Brasil inteiro! Menos de 35 mil contra centenas de milhares de federais!
Houve quem imaginasse que, assim como o Davi bíblico derrubou o gigante Golias, os constitucionalistas pudessem vencer as tropas getulistas...
Mas desde o começo a guerra de 1932 deixou claro que a superioridade bélica seria determinante para a vitória do mais bem equipado.
(...)
Estávamos naquele ponto em que Bento morreu após sua
atitude solitária ao enfrentar uma grande quantidade de soldados getulistas...
A iniciativa heroica, e ao mesmo tempo suicida, poderia ser explicada a
partir de seus questionamentos sobre a ingratidão em relação à sua gente?
Enquanto os negros da Legião morriam pela causa nas frentes de combate, seus
parentes estavam sendo despejados dos cortiços onde viviam sem o menor
reconhecimento...
Foi graças ao sacrifício de Bento que Tião e os outros
cinco companheiros chegaram à ferrovia... Esconderam-se numa pequena estação,
mas acabaram presos... Porém logo foram libertados, pois o conflito se encerrou
na sequência.
(...)
Só mesmo o velho Tião em seu banco de praça poderia recapitular os
acontecimentos...
Nove de julho de 1932 marcou o início da guerra. São Paulo resistiu sem
os auxílios prometidos por outros estados... Foi uma luta isolada...

Tião sabe que para aqueles que estavam distantes do campo de batalha era
bem fácil exigir que a guerra prosseguisse... Os moradores da capital nem
tinham ideia de que o “cessar fogo” já era uma realidade para os soldados
constitucionalistas, pois não havia munição suficiente para todos.
Também as exigências feitas
pelo comandante das forças getulistas, o general Góes Monteiro, para a
deposição das armas em setembro foram consideradas humilhantes...
Oficialmente, a rendição
foi assinada na manhã do dia 2 de outubro na cidade de Cruzeiro... Pode-se
dizer que já na véspera havia uma ordem para que os voluntários e soldados das
tropas regulares de São Paulo depusessem as armas... Isso apenas torna a morte
de Bento ainda mais dramática, já que o armistício foi assinado algumas horas
depois de seu martírio.
(...)
Góes Monteiro anunciou
pelo rádio o fim do conflito... Ele garantiu que os paulistas não sofreriam
retaliações...
Ocorreram alguns protestos contra o discurso do representante de
Getúlio, mas logo eles se arrefeceram... Monteiro recebeu do presidente o
Ministério da Guerra... O general Valdomiro de Lima, gaúcho que também comandava
as tropas governistas na região, foi nomeado interventor do estado de São Paulo.
À tarde, Pedro de Toledo
foi deposto do governo do estado... Ele e os comandantes da revolução foram
exilados...
Os radialistas não se
dobraram e passaram a afirmar que os paulistas não foram derrotados...
Em vez disso, garantiam que haviam vencido política e moralmente, pois a
revolução forçou Vargas a definir data para as eleições que ocorreriam no ano
seguinte, quando uma Assembleia Constituinte elaboraria a tão sonhada
Constituição.
p.s:
a Constituição foi promulgada em 1934, então os exilados puderam retornar ao
país.
Leia: A
Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto