quinta-feira, 21 de maio de 2015

“A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”, de Oswaldo Faustino – a missão do coronel Nelópidas Filho era disciplinadora; Miro devia ser punido; difícil não comparar as posturas de Luvercy e de Neo; novo ataque e ferimento grave

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/05/a-legiao-negra-luta-dos-afro_21.html antes de ler esta postagem:

Logo que o coronel Nelópidas Dalla Rosa Filho se anunciou todos se levantaram e colocaram-se na posição de sentido...
A primeira reação de Miro foi aproximar-se para abraçar o velho conhecido. Mas o graduado oficial tratou de manter distância e garantir que estava ali na condição de superior, e com a “missão de avaliar o comportamento dos combatentes do Exército Constitucionalista     “.
O coronel emendou que aproveitaria para solicitar que retirassem de Miro a patente de tenente, pois o Exército não podia admitir “pretos alcoólatras e folgazões”.
Miro ouviu em silêncio e pensou sobre os tempos em que fazia os trabalhos escolares do “covarde almofadinha” que havia se dedicado às artes...
Havia motivos suficientes para soltar umas verdades para aquele tipo, mas, em vez disso, o tenente gargalhou até não mais poder... Afrontado em sua altivez, Neo levou a mão à espada... Mas a sua mão tremeu e sequer conseguiu desembainhar sua arma.
Tião e Bento também perceberam o vacilo do coronel e se puseram a rir sem ter ideia do motivo...
(...)
O oficial partiu em direção ao seu pelotão vociferando que todos ali ainda sofreriam as consequências do comportamento abusado... Aos amigos, Miro explicou que certamente Neo chegara à patente de coronel por causa da posição de prestígio do pai... Também comentou que o rapaz não passava de um medroso e fujão por não aceitar as pressões em relação ao engajamento na guerra.
Neste ponto, Miro refletiu que talvez Neo e Luvercy pudessem ser comparados, já que ambos queriam evitar o alistamento... Mas quando voltou a olhar para o corpo do rapaz envolvido num cobertor utilizado como mortalha, disse que o filho de Landão jamais tivera postura covarde... Emendou que Luvercy era um jovem de opinião, que tinha razão ao insistir que nada tinham a ver com aquela guerra.
(...)
De fato, Luvercy havia sido valente e compromissado com a família e os companheiros de farda... Mas não havia nada que pudesse recuperar a autoestima do batalhão.
O grupamento tornou-se abatido e seus homens estavam visivelmente esgotados... Haveria alguma saída?
Não bastassem os ataques inimigos, sua superioridade bélica e as dificuldades do terreno, ainda tinham de suportar um coronel cuja missão era “avaliar o comportamento dos que se arriscavam na linha de frente”!
(...)
De fato, aquela visita de inspeção não terminou bem...
O coronel Nelópidas Filho retirou-se bruscamente... Isso acabou denunciando aos inimigos o ponto exato onde deveriam realizar um ataque.
Não foi por acaso que, na sequência, uma granada atingiu a área onde o grupo de Miro se concentrava... Uma “chuva de tiros” foi despejada logo após... Houve correria e era certo que os rapazes tinham sido atingidos por estilhaços... Mas não se viam feridos com gravidade.
Miro permaneceu estirado no chão... O reduzido grupo de menos de dez combatentes lutou como pôde até conseguir afastar os inimigos... Depois se aproximaram do tenente e notaram que o seu estado era dos mais graves... Ele havia perdido o braço esquerdo e muito sangue, estava trêmulo e em vão tentava se comunicar...
Tião e Bento demonstraram destemor no combate e altruísmo no socorro ao amigo... Improvisaram um torniquete com tiras de cobertor e pedaços de pau... Aplicaram açúcar ao ferimento esperando que isso estancasse o sangue no local do ferimento, mas não tinham certeza se deveriam usar sal...
Miro conseguiu dizer que eles deviam se decidir mais rapidamente entre salgá-lo ou adoçá-lo... Ainda deu a entender que “perder o braço esquerdo” havia sido “mal menor”... Então Tião puxou pela memória e lembrou que ele era destro... Bento soltou gargalhada sem saber se sua reação não era de puro nervosismo.
Depois Miro desmaiou.
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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