segunda-feira, 25 de maio de 2015

“A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”, de Oswaldo Faustino – Miro “perdeu” o fim da guerra; Tião e Bento, “personagens invisíveis” com tanto a nos dizer; o último combate de Bento, o “rei da tiririca”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/05/a-legiao-negra-luta-dos-afro_7.html antes de ler esta postagem:

O tenente Miro passou uma noite inteira no acampamento... Pela manhã, uma ambulância o conduziu à Santa Casa de Misericórdia na capital. A viagem durou cerca de oito horas...
Ficou internado por uns três meses, e quando foi liberado já não havia mais guerra...
(...)
A guerra é cruel...
Todos sofrem...
Mas não há como negar que os que vivenciam os combates e estão sob a mira das armas de fogo são os que se tornam “atores de um cenário infernal”...
Esses conhecem o terror.
(...)
As autoridades dirigentes e os poderosos senhores da economia permanecem atentos aos resultados do confronto sem manifestar interesse sincero pelo destino dos que combatem.
(...)
No final do texto de Faustino vemos Tião e Bento no centro da narrativa... Justamente dois tipos que passam pela vida como “personagens invisíveis”...
Eles perceberam que o conflito estava próximo do fim... As trocas de tiros e as explosões tinham diminuído... Ao seu alcance tinham os últimos cigarros “quebra-peito”... Então puderam trocar umas ideias a respeito dos amigos que se foram (John estava preso; Luvercy morreu; Landão foi retirado do front e certamente não conseguiria se recuperar da depressão que o assolava...).
Fumavam e conversavam... O que podiam esperar mais?
Já que não tinham ouvido nenhum boato a respeito de Miro, e como notícia ruim “se espalha rápido, mais do que batedor de carteira em estação de trem”, era certo que ele ainda estivesse vivo...
(...)
Tião disse ao amigo que São Paulo devia colocar um fim à guerra... Se isso não ocorresse, a guerra acabaria com os paulistas.
Mas a guerra ainda não chegara ao seu final...
Embora aquela madrugada de 1 de outubro tivesse atmosfera de calmaria e lua cheia, os dois amigos e mais os cinco soldados de seu grupamento (todos moralmente arrasados) corriam grande perigo...
Eles estavam cercados pelas tropas federais e sabiam que só mesmo um milagre poderia livrá-los de um massacre.
Tião deu a sua opinião: deviam “bater em retirada”... Bento sugeriu que ainda poderiam utilizar táticas de guerrilha, atraindo os inimigos para o ponto onde estavam e atacando de surpresa pelas laterais...
De repente, Bento topou “segurar a retaguarda” enquanto Tião conduzisse a retirada dos demais companheiros... Eles atravessariam um riacho, passariam por uma elevação e alcançariam a ferrovia, onde aguardariam a chegada de reforços.
(...)
Bento ficou sozinho...
Ele estava mergulhado em pensamentos deprimentes... E não era apenas pela morte dos amigos e as dificuldades do momento... Corriam notícias sobre o despejo em massa dos antigos cortiços e casarões em São Paulo... Era muita ingratidão com a gente negra que estava se sacrificando pelo estado.
Na sequência, ele gritou para que Tião se apressasse na retirada... Depois começou a atirar contra as posições onde esperava atingir os inimigos... Eles logo partiram para cima dele.
A munição de Bento acabou em pouco tempo, então restou o combate corpo-a-corpo... Seus rápidos golpes com a baioneta foram eficientes e alguns adversários tombaram mortos.
Tanto se debateu que nem notou que já tinha sido atingido por um balaço... Também a baioneta tornou-se imprestável, mas ele não abandonou o combate e continuou a desferir golpes com a sua navalha... Uns dez inimigos foram mortalmente atingidos.
Finalmente um oficial conseguiu cravar a sua espada nas costas de Bento... E mesmo assim ele conseguiu se virar para acertar um golpe final contra a jugular do algoz... Ambos foram ao chão.
(...)
Bento resgatou de seu bolso uma fotografia de sua querida Madalena... Pediu à imagem no papel que rezasse por ele, e que adiantasse aos que habitam o céu que ele não os deixaria em paz porque, mesmo com a morte, continuaria a ser o “rei da tiririca”.
Este foi o seu último ato.
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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