domingo, 17 de maio de 2015

“A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”, de Oswaldo Faustino – Miro e o “soldado mudo” seguiram com a caravana da Legião Negra; Joaquim Guaraná Santana foi afastado do comando civil; formação do grupo dos mais chegados; padre Mathäus e sua pregação contra os rituais afrodescendentes

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/05/a-legiao-negra-luta-dos-afro_13.html antes de ler esta postagem:

Conforme o acertado com o doutor Guaraná Santana, Miro e o amigo jamaicano John foram integrados à caravana da Legião que rumou para Santana do Parnaíba e, de lá, para Pirapora do Bom Jesus... Depois o grupo seguiu para São Roque e Sorocaba...
As atividades foram intensas, os comícios renderam arrecadação de donativos e novos alistamentos. Mas a caravana logo retornou para São Paulo depois que se soube que o doutor Guaraná Santana havia sido substituído por José Bento de Assis, advogado e professor da Faculdade de Direito.
(...)
Sobre Bento de Assis, dizia-se que ele pouco representava para o movimento negro.
Santana deixou de ser o comandante civil da Legião Negra... Ninguém confirmava o motivo de sua saída, mas havia comentários a respeito do desvio de dinheiro arrecadado em comícios, e também sobre o seu envolvimento com a esposa “de alguém muito importante”... Também se disse que ele incomodou muita gente com os seus protestos contra o tratamento dispensado aos soldados negros pelos dirigentes brancos.
Apesar de todo falatório, o doutor Guaraná prosseguiu em campanha pelo interior e litoral do estado... A sua orientação para que Miro recebesse a patente de cabo foi cumprida...
Miro conseguiu a permissão de ser constantemente acompanhado pelo “soldado mudo”.
(...)
No retorno à Chácara do Carvalho, Miro conheceu Tião e Bento... Ele notou que aqueles dois eram soldados folgados... Viu que Bento era um malandro de primeira que gostava de se perfumar. Percebeu também que os dois se retiravam escondidos após o almoço para cochilar... Em vez de puni-los, o cabo ria-se a valer da traquinagem.
Aos poucos se formou um grupo de soldados mais chegados ao Miro... Além do ajudante de ordens, o “soldado mudo” João Marcolino, também Luvercy foi integrado logo que chegou...
Não demorou e Miro tornou-se primeiro-sargento. A ele coube liderar uma das tropas que se dirigiu para o Vale do Paraíba... John Washington considerava a ascensão do amigo bem merecida, mas ao mesmo tempo achava que as promoções militares no exército revolucionário tinham pouco a ver com mérito... Ele não deixava de gracejar a esse respeito.
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Antes de seguirem para o trem, o grupamento de Miro assistiu a uma missa celebrada por Franz Mathäus, um padre alemão de forte sotaque... Ele acompanharia a tropa em sua missão bélica.
O padre aproveitou o sermão para fazer duras críticas à religiosidade dos afrodescendentes... Tratando o confronto que os aguardava como um mero detalhe, Mathäus insistiu que todos ali deviam aceitar Jesus Cristo e o Catolicismo porque “todo o resto é bruxaria, macumba, feitiçaria”...
No mesmo instante, o soldado “Tonhão da Casa Verde” começou a tremer-se todo e a falar de modo estranho... Alguns o conheciam e sabiam que sua mãe tinha um terreiro de umbanda e que ele era “filho de Ogum”... Os mais entendidos notaram que Tonhão havia “recebido um caboclo” e até quiseram se aproximar para receber um passe.
Mathäus ficou nervoso com a cena e passou a aspergir água benta no soldado que havia incorporado uma entidade e que pedia charutos aos que se aproximavam... A iniciativa exorcista não produziu resultados.
A situação só se tornou mais serena depois que um dos fardados saiu de sua fileira, pediu licença, segurou a cabeça do companheiro apoiando-a com suas mãos na nuca e na fronte... Ele disse algo perto de seu ouvido e depois soprou.
O padre não se conformou por perceber que ele não tinha as habilidades simples e eficazes para lidar com o possuído... Os demais reagiram com risos... De sua parte, o religioso os alertou que durante a expedição que fariam não admitiria “guias e patuás nos pescoços e bolsos dos combatentes”, e reagiria contra os que fizessem despachos com velas e charutos nos acampamentos que levantariam.
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A sequência da celebração foi marcada por “benzeções” e hinos religiosos...
Durante toda a madrugada o som de atabaques chegou aos ouvidos do sacerdote... Os rituais da umbanda não foram abandonados...
Mathäus entendeu que a tropa gostava mesmo de uma “roda de samba”... Que situação! Como eram displicentes! Pelo visto não sobreviveriam aos conflitos.
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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