De fato, aquele senhor (chamava-se Orlando) que pretendia alistar o filho retornou ao local do comício trazendo o rapaz... O moço contava 18 anos e estava visivelmente contrariado... O pai não escondia a justificativa para a sua atitude e muitos podiam ouvi-lo.
Ele dizia que não podia exigir de suas quatro filhas que participassem do movimento revolucionário, mas o filho tinha obrigação de juntar-se a ele na luta em defesa do estado.
Por mais que o rapaz demonstrasse contrariedade, não podia deixar de obedecer ao pai... Então ele forneceu os dados necessários para a sua ficha de inscrição: Luvercy Tarquínio de Moraes, curso ginasial completo, residente em Santos.
Luvercy não acreditava que se enquadrasse nos perfis solicitados... Não tinha conhecimentos sobre armas ou práticas militares... Não poderia se tornar auxiliar de enfermeiro ou ajudante de cozinha. Qual seria a sua utilidade na Legião?
O jovem disse à moça da inscrição que o seu negócio era o esporte... Pretendia apenas se tornar jogador de futebol...
(...)
O “Comando Revolucionário” prometia um tipo de indenização aos pais dos
jovens alistados nos casos de graves traumas físicos e de morte... O pai de
Luvercy certamente não esperava que tivesse de recorrer a este expediente.
Miro entendia perfeitamente a posição do rapaz que viria a se tornar seu
amigo na Legião... Lembrou-se de Neo e da sua rejeição à guerra... Entendeu que
os dois tinham suas razões... Ninguém deveria ser obrigado a abraçar a causa.
(...)
O comício ainda nem havia terminado e o doutor Guaraná Santana se
aproximou de Miro para elogiar a sua boa formação... Ele disse que a caravana
devia aproveitar o seu talento. É por isso que entraria em contato com o major
Gastão Goulart e com o tenente Arlindo Ribeiro para sugerir que lhe cedessem a
patente de cabo...
Miro imaginou-se retornando à Marilândia para promover o alistamento de
voluntários... Seria a sua “redenção”...
(...)
Ficamos sabendo como
Luvercy ingressou na Legião... Já sabíamos de Bento, o rei da Tiririca e amigo
folgazão de Tião...
O mulherengo Bento
tornou-se voluntário para escapar da perseguição de sua amada Madalena... É
verdade que também considerava que a condição de soldado era melhor do que a
maioria dos que não possuíam emprego estável.
Luvercy não sentia a
menor atração pela Legião Negra ou pela revolução que os seus voluntários
defendiam... O interesse do jovem estava na prática esportiva... A verdade é
que só se alistara porque o pai o obrigara.
(...)
Tião, Bento e Luvercy formavam o trio que se
acomodou nas proximidades de Queluz após conflito contra as tropas do governo
federal... Como sabemos, enquanto se aqueciam próximos à fogueira, entre
talagadas de cachaça, ouviam com atenção a história que Miro narrava na escura
madrugada.
Leia: A
Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto