quinta-feira, 21 de maio de 2015

“A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”, de Oswaldo Faustino – Luvercy e Landão, de promessas cumpridas e fracassadas; pressentimento de mãe; uma visita inesperada à frente de batalha

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/05/a-legiao-negra-luta-dos-afro_20.html antes de ler esta postagem:

A madrugada tornou-se mais fria e agressiva na medida em que a fogueira resumiu-se a brasas e cinzas... Então Luvercy despertou e se dirigiu à grande pedra para encontrar-se com o pai.
A escuridão era assustadora, mas era o silêncio quase absoluto que mais o intrigava... Luvercy aproximou-se do sítio. Porém, em vez de encontrar o pai desperto, notou pela posição de suas botas que ele só podia estar dormindo sossegadamente.
O rapaz chegou mais perto e viu que Landão estava sob a mira de um rifle apontado por soldado inimigo... Não havia como ele escapar da morte porque o cano da arma estava muito próximo de sua cabeça.
(...)
Foi por puro instinto que Luvercy soltou um forte grito chamando o pai... Landão despertou e teve reflexo suficiente para desferir um golpe de baioneta contra a garganta de seu algoz...
Ouviu-se um tiro...
Banhado de sangue, o tipo caiu sobre Landão... Foi difícil se livrar daquele cadáver, e só depois disso é que ele viu que o filho também estava estirado no chão... O peito do rapaz estava perfurado pela bala que originalmente devia atingi-lo...
Luvercy só teve tempo de pedir ao pai que dissesse à mãe que ele havia cumprido a sua promessa.
(...)
Uma ventania anunciou a chegada de forte tempestade...
Dona Arminda se apressou a recolher as roupas que estavam estendidas no varal... As filhas adiantaram-se e saíram para socorrê-la.
No instante mesmo em que recolhia a camisa que Landão esperava ver no filho após a guerra, gotas pesadas despencaram... Então um aperto no coração não deixou nenhuma dúvida...
Seu pressentimento estava correto, e é por isso que aos prantos gritou o nome do seu garoto... As quatro filhas se agarraram a ela e também choraram demais...
A forte chuva enlameou o quintal, as mulheres foram ao chão e, com elas, as roupas do varal.
(...)
No longínquo Vale do Paraíba do Sul, Orlando enfureceu-se. Começou a atirar para tudo quanto era lado onde pudesse haver inimigos...
Os disparos despertaram os demais companheiros... Eles logo encontraram Luvercy.
O pai se aproximou e beijou a face do filho... Depois pronunciou que tudo o que ele queria era jogar futebol... Landão estava arrasado e era a si mesmo que dizia que não tinha conseguido cumprir a promessa (de levá-lo a salvo à dona Arminda).
(...)
É claro que Landão tornou-se depressivo logo após a morte de Luvercy... Ele foi flagrado falando sozinho e amargurado sobre a catástrofe de tê-lo perdido... “Era apenas um menino”...
Os amigos também sentiram a perda. Não se esqueciam do momento que passaram junto à fogueira ouvindo a narrativa de Miro... Lembraram que ele havia sido o único a tirar conclusão a respeito da mudança na vida do comandante (que deixou de ser um “moreno envergonhado” e tornou-se “valente negão orgulhoso de seu povo”).
Bento e Tião viam que o comportamento de Landão (que se aproximou mais deles) era apenas um exemplo do quanto sofriam limitações naquela empreitada... Notaram também que Miro, antes abstêmio, ingeria da garrava de aguardente sem cerimônia.
(...)
Num momento em que falavam de Luvercy, Miro disse que gostaria de ter frases do jovem em seu epitáfio. Falava sobre isso aos amigos e bebia da cachaça quando um coronel apareceu em seu imponente cavalo marrom... O homem chegou advertindo que aquela bebedeira toda só anteciparia o epitáfio...
Miro dirigiu seu olhar ao tipo e surpreendeu-se ao notar que o coronel era ninguém menos que Nelópidas Dalla Rosa Filho.
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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