Aconteceu que o seu Orlando (Landão) e o filho acabaram integrando o batalhão comandado por Miro... Eram 38 soldados no total, mas Luvercy tinha de se inteirar justamente com Bento e Tião!
De sua parte, o rapaz considerava que cumpria o que havia prometido para a mãe, ou seja, não se afastaria do pai e “cuidaria dele”... Landão não achava que aqueles dois folgados fossem bons exemplos para Luvercy, mas ele também havia feito a promessa à esposa de que não o incomodaria demais...
Outra promessa de seu Orlando à dona Arminda foi a de que manteria o filho sempre sob vigilância, já que era certo que ele não saberia se defender sozinho.
(...)
Enquanto seguiram de trem para o Vale do Paraíba, Miro
explicou aos seus homens que os batalhões revolucionários eram divididos por
categorias (dos funcionários públicos, dos estudantes, dos ferroviários,
comerciários, esportistas, professores, e assim por diante...). Havia até mesmo um batalhão formado por
religiosos, os Irmãos Maristas...
A Legião Negra era um grupamento étnico que possuía vários batalhões que
carregavam nomes de patronos, verdadeiros ícones da história gente negra:
“Henrique Dias, André Rebouças, José do Patrocínio, Luís Gama, Marcílio Franco,
Vidal de Negreiros e Felipe Camarão”...
Miro deixou claro que também índios guarani,
portugueses, espanhóis, italianos, sírio-libaneses, alemães e ingleses formaram
batalhões específicos para defender a causa paulista...
(...)
Temos de retornar aos episódios do Vale do Paraíba...
Alguns batalhões que para lá se deslocaram foram completamente
dizimados...
Temos de entender que a proximidade em relação à capital do país (que
era o Rio de Janeiro) era motivo mais que suficiente para que as forças
legalistas concentrassem grande poder de fogo na região.
Nenhum grupamento saía
ileso dos confrontos...
O próprio capitão Trujilo
teve o crânio estourado por um balaço inimigo... E foi Miro Patrocínio quem
acabou tomando a frente das tropas para salvar os que restaram dos ataques. O
seu feito foi heroico porque atravessou a nado o violento rio e conseguiu unir
as duas margens através de uma corda que carregou e amarrou ao pé de uma
árvore... Outra corda foi posicionada mais acima, e isso possibilitou a
travessia dos sobreviventes.
O coronel Palimércio
reconheceu esse feito de Miro, que assumiu a patente e o posto de primeiro tenente...
Na prática, ele passou a comandar todo pelotão.
(...)
Era exatamente essa promoção de Miro que os companheiros comemoravam
durante a madrugada nas proximidades de Queluz... Como sabemos, Tião Bento e
Luvercy fumaram e beberam cachaça enquanto ouviam a fantástica história de vida
do chefe.
Os outros soldados estavam
fincados no sono... Orlando e mais três serviam de sentinelas... Mesmo a certa
distância, Landão não deixava de observar os movimentos do filho.
Junto à fogueira, Bento dizia aos companheiros que
continuava sem saber contra quem estavam lutando, e não sabia nem mesmo a favor
de quem lutavam...
Em tom de gracejo, Tião explicou que aquilo pouco importava, pois os
negros não eram aceitos na Força Pública, apenas no Corpo de Bombeiros... Então
era como se estivessem ali para “apagar um incêndio” e depois “amarrar o maior
fogo” naquele botequim (numa referência ao momento de descontração que
conseguiram durante o breve cessar-fogo).
(...)
Depois de acabada a falação de Miro, e também a disposição dos rapazes
para a bebida, cada um se recolheu ao seu canto para descansar...
É claro que muitas reflexões chegaram às suas
cabeças... A história de Miro “fazia pensar”.
Leia: A
Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto