quarta-feira, 20 de maio de 2015

“A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”, de Oswaldo Faustino – promessas de pai e filho; batalhões revolucionários e suas “categorias”; promoção de Miro Patrocínio; madrugada de celebração, vigília e reflexão

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/05/a-legiao-negra-luta-dos-afro_47.html antes de ler esta postagem:

Aconteceu que o seu Orlando (Landão) e o filho acabaram integrando o batalhão comandado por Miro... Eram 38 soldados no total, mas Luvercy tinha de se inteirar justamente com Bento e Tião!
De sua parte, o rapaz considerava que cumpria o que havia prometido para a mãe, ou seja, não se afastaria do pai e “cuidaria dele”...  Landão não achava que aqueles dois folgados fossem bons exemplos para Luvercy, mas ele também havia feito a promessa à esposa de que não o incomodaria demais...
Outra promessa de seu Orlando à dona Arminda foi a de que manteria o filho sempre sob vigilância, já que era certo que ele não saberia se defender sozinho.
(...)
Enquanto seguiram de trem para o Vale do Paraíba, Miro explicou aos seus homens que os batalhões revolucionários eram divididos por categorias (dos funcionários públicos, dos estudantes, dos ferroviários, comerciários, esportistas, professores, e assim por diante...).  Havia até mesmo um batalhão formado por religiosos, os Irmãos Maristas...
A Legião Negra era um grupamento étnico que possuía vários batalhões que carregavam nomes de patronos, verdadeiros ícones da história gente negra: “Henrique Dias, André Rebouças, José do Patrocínio, Luís Gama, Marcílio Franco, Vidal de Negreiros e Felipe Camarão”...
Miro deixou claro que também índios guarani, portugueses, espanhóis, italianos, sírio-libaneses, alemães e ingleses formaram batalhões específicos para defender a causa paulista...
(...)
Temos de retornar aos episódios do Vale do Paraíba...
As lutas foram das mais ferrenhas e sangrentas...
Alguns batalhões que para lá se deslocaram foram completamente dizimados...
Temos de entender que a proximidade em relação à capital do país (que era o Rio de Janeiro) era motivo mais que suficiente para que as forças legalistas concentrassem grande poder de fogo na região.
Nenhum grupamento saía ileso dos confrontos...
O próprio capitão Trujilo teve o crânio estourado por um balaço inimigo... E foi Miro Patrocínio quem acabou tomando a frente das tropas para salvar os que restaram dos ataques. O seu feito foi heroico porque atravessou a nado o violento rio e conseguiu unir as duas margens através de uma corda que carregou e amarrou ao pé de uma árvore... Outra corda foi posicionada mais acima, e isso possibilitou a travessia dos sobreviventes.
O coronel Palimércio reconheceu esse feito de Miro, que assumiu a patente e o posto de primeiro tenente... Na prática, ele passou a comandar todo pelotão.
(...)
Era exatamente essa promoção de Miro que os companheiros comemoravam durante a madrugada nas proximidades de Queluz... Como sabemos, Tião Bento e Luvercy fumaram e beberam cachaça enquanto ouviam a fantástica história de vida do chefe.
Os outros soldados estavam fincados no sono... Orlando e mais três serviam de sentinelas... Mesmo a certa distância, Landão não deixava de observar os movimentos do filho.
Junto à fogueira, Bento dizia aos companheiros que continuava sem saber contra quem estavam lutando, e não sabia nem mesmo a favor de quem lutavam...
Em tom de gracejo, Tião explicou que aquilo pouco importava, pois os negros não eram aceitos na Força Pública, apenas no Corpo de Bombeiros... Então era como se estivessem ali para “apagar um incêndio” e depois “amarrar o maior fogo” naquele botequim (numa referência ao momento de descontração que conseguiram durante o breve cessar-fogo).
(...)
Depois de acabada a falação de Miro, e também a disposição dos rapazes para a bebida, cada um se recolheu ao seu canto para descansar...
É claro que muitas reflexões chegaram às suas cabeças... A história de Miro “fazia pensar”.
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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