sábado, 9 de maio de 2015

“A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”, de Oswaldo Faustino – comício da Legião Negra em Santos; Palmyra Calçada e o seu papel de animadora da Legião; empolgação geral; Miro se alista e consegue inscrever o amigo jamaicano

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/05/a-legiao-negra-luta-dos-afro_8.html antes de ler esta postagem:

Fogos de artifício e o animado som de uma banda davam início aos comícios da Legião Negra... Miro notou que o povo simples da cidade se encaminhava com muita disposição ao local onde o palco havia sido montado.
Pensava na discussão que tivera com Neo na madrugada anterior... O encontro havia sido muito desagradável, mas o seu compromisso de momento era o de encontrar-se com John. Como sabemos, ele pretendia traduzir os discursos que ocorressem no evento, e estava disposto a se alistar na Legião.
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Mal se aproximou do aglomerado de pessoas e conseguiu ouvir inflamados discursos nos quais “as palavras paulista, ditadura, raça negra, constituição, hegemonia, homens e mulheres de cor, raça negra” se repetiam. O objetivo da manifestação era o de conseguir alistamentos de voluntários e doações... O doutor Joaquim Guaraná Santana e o orador Vicente Ferreira estavam presentes.
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Faustino destaca nova descrição a respeito de Vicente Ferreira... Dessa vez a que foi feita pelo jornalista José Correia Leite alguns anos depois que o movimento de 1932 terminou:
                        Um negro intransigente e amargo, um místico, um gênio, um homem que não tem cultura acadêmica, mas não fica devendo nada a ninguém.
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Outra presença marcante no palanque era a bela Dona Palmyra Calçada, “madrinha da bandeira da Legião Negra”... Sua simpatia era cativante, e sem dúvida contribuía para que a arrecadação de donativos em prol das famílias dos combatentes fosse maior.
Aquela caravana não tinha descanso... Depois do comício em Santos ela partiria para Campinas. O doutor Guaraná Santana estava convencido do acerto de sua decisão ao romper com a Frente Negra Brasileira para trabalhar em prol do engajamento dos negros na “causa constitucionalista”.
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John estava animadíssimo, afinal jamais vira manifestação mais empolgante... Ao avistá-lo, Miro o cumprimentou e passou a traduzir as várias falas...
Quanto mais ouvia, mais o jamaicano se identificava com a Legião... Também Miro estava impressionado... Ele gostou de se sentir pertencente a uma comunidade que nada tem de deplorável.
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Miro notou o comportamento de um senhor alto e de cabelos esbranquiçados que estava próximo... A cada frase dos oradores, o homem bradava palavras de ordem e aplaudia efusivamente. Ele se encaminhou o mais rápido que pôde à mesa de alistamento... Além de se inscrever, quis também alistar o filho que não estava presente. Isso gerou uma discussão com a secretária, que deixou claro que o alistamento era voluntário e que o moço precisaria comparecer para preencher a própria ficha de inscrição.
Miro não teve dúvida e, ao notar o exemplo daquele senhor que já contava meio século, animou-se ainda mais e também entrou na fila...
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Ele recebeu uma senha e ficou sabendo que devia se apresentar depois de três dias no Corpo de Bombeiros da cidade... Ali receberia uniforme e equipamentos básicos. Depois teria de seguir para a Chácara do Carvalho onde receberia armas, se integraria a outros soldados e faria parte dos treinamentos físicos.
Também John quis se alistar... Mas a moça que preenchia as fichas ficou confusa... Ela não falava inglês e nem esperava que um estrangeiro aparecesse para se inscrever na Legião Negra... Em vão o jamaicano lhe dizia We all have same blood! Black blood! (“Todos temos o mesmo sangue! Sangue negro!”).
Miro se aproximou para prestar algum auxílio...
As coisas só começaram a se resolver depois que a jovem recorreu ao senhor Vicente Ferreira.
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Ferreira convocou uma reunião atrás do palanque... O doutor Guaraná Santana e também o Delegado-Geral ouviram com atenção as explicações dos dois rapazes. Miro disse que o jamaicano participava do movimento de Marcus Garvey e que mantinha comunicação com o pessoal de Du Bois.
As três lideranças da Legião Negra passaram a tratar diretamente com John... Miro se intrometeu dizendo que tinha a intenção de traduzir textos dos movimentos de consciência negra que ocorriam na América do Norte e que a Legião teria muito a ganhar com a publicação dos materiais.
O doutor Guaraná achou interessante a ideia e sugeriu que depois da revolução poderia conseguir um emprego público ao jovem Teodomiro... O próprio “Comando da Revolução” havia lhe garantido que “os revolucionários negros seriam recompensados à altura”...
Santana ainda deu a entender que Miro poderia contribuir com os periódicos que o pessoal da Frente Negra estava planejando, como o jornal A Voz da Raça.
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Acontece que eles estavam ali para resolver o caso de John... O doutor achava que para tudo havia um jeito... Ferreira lembrou que a legislação não permitia o alistamento de estrangeiros.
De repente um ajudante falou que poderiam providenciar documentos falsos, mas o Delegado-Geral advertiu que a língua permaneceria um problema sem solução.
Miro teve a ideia de impor o “voto de silêncio” ao amigo... Comportando-se como mudo de nascença, não provocaria desconfianças...
Foi assim que o jamaicano passou a se chamar João Marcolino Ferreira, natural de Tambaú.
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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