terça-feira, 26 de maio de 2015

“A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”, de Oswaldo Faustino – notícias sobre Miro, Stela Maris e John Washington; o fim

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/05/a-legiao-negra-luta-dos-afro_26.html antes de ler esta postagem:

O velho Tião que está na praça tem cabeça para se lembrar de todos esses acontecimentos...
Os altos prédios escondem o que outrora fora o campo de treinamento dos voluntários da Legião Negra, na Chácara do Carvalho...
A cidade não é mais a mesma... Os perigos da atualidade são muito maiores...
E nem podia ser de outro modo...
Também é certo que durante a revolução a capital foi preservada, pois nas frentes de batalha gente como ele enfrentou tiros, granadas e bombas, garantindo a segurança da capital.
(...)
Há uma última lembrança que não podia ficar de fora da narrativa.
Depois de dois anos dos ocorridos no Vale do Paraíba, Tião recebeu uma carta de Miro Patrocínio... O envelope vinha dos Estados Unidos!
A mensagem dava conta do tratamento que recebeu na Santa Casa e de sua alta em janeiro de 1933, o que impossibilitou o reencontro com os companheiros de armas.
A grande surpresa, sem dúvida, foi encontrar Stela no saguão do hospital. A bela o aguardava com enorme sorriso... Miro conta que sua primeira reação foi a de tentar colar os lábios aos dela, mas ela se afastou e levantou o dedo que estava envolvido por uma reluzente aliança.
Stela Maris se casara com o jamaicano John Washington, que também estava ali para recepcioná-lo... Não houve a menor possibilidade para decepções, já que ele sabia bem que o amigo nutria verdadeira paixão pela bela de Santos.
Como a justiça brasileira atrasava o seu processo de extradição, teve tempo de reencontrá-la e de propor a união... O gringo estava aprendendo a falar português e é por isso que ele mesmo fazia questão de transmitir as novidades... Entre elas a de que, graças ao alto valor do dólar no país, conseguiu arrumar um jeito de retornar aos Estados Unidos com a esposa. Eles já estavam de viagem marcada.
E a novidade era que o casal estava disposto a levar também o Miro... Já tinham comprado a sua passagem!
Miro não entendia o que queriam de sua parte, já que nem se tratava mais de um tipo inteiro (afinal perdeu o braço esquerdo durante um ataque das tropas federais)... Stela explicou que o marido esperava a sua contribuição intelectual e a energia que transmitia aos companheiros de ação.
Realizariam inúmeras viagens pela América do Norte... Não haveria Ku Klux Klan que fizesse frente ao projeto de conscientização que estavam planejando... Partiriam desde Nova York, onde tratariam com os líderes locais e depois seguiriam para as regiões mais racistas (Alabama; Carolinas do Norte e do Sul; Geórgia; Louisiana; Tennessee) até chegarem ao Mississipi.
É claro que Miro se empolgou com o projeto. E ficou feliz por ver que, enfim, Stela se encontrara com o seu destino e vocação guerrilheira... Para ele os novos ares também só podiam trazer ânimo novo... Imaginou-se retornando ao Brasil para fortalecer a militância negra do país.
(...)
O envelope continha uma bela fotografia em que os três estavam abraçados. Tião reconheceu Miro, que nem parecia ter passado por tantos reveses... O do meio era John... A bonita mulher, que Tião não conhecia pessoalmente, só podia ser Stela. Ao fundo estava o porto de Nova York... E mais ao fundo ainda estava a Estátua da Liberdade.
A fotografia nunca saiu da carteira do Tião... E é por isso que ela está bem desbotada...

(...)

O centenário Tião foi despertado pelo garotinho que brincava com a bola...
No habitual banco de praça observou a data estampada no jornal (20 de julho/2012). Então se recordou dos acontecimentos de oitenta anos atrás, quando havia ocorrido a Revolução Constitucionalista (1932) de São Paulo contra o Governo Provisório comandado por Vargas.
Mas agora é momento de se recolher...
Mais uma vez retira a fotografia dos amigos para contemplá-los...
Atravessa a rua e se aproxima da placa que informa o nome do logradouro: “Praça Coronel Nelópidas Dalla Rosa Filho; herói constitucionalista”...
Os nomes dos companheiros negros não estão em placas como aquela, reservadas para a “brava gente bandeirante”... Mas estão presentes na memória do velho Tião.
Enquanto ele conseguir se recordar dos episódios prosseguirá falando sobre todos eles...
Salve as Pérolas Negras!
Salve a Legião Negra de São Paulo!
Fim.
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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