Maria Soldado tornou-se nome comentado por todos...
Também os jornais estamparam matérias sobre a sua entrega à causa paulista. Faustino destaca fragmento de A Gazeta de 5 de setembro de 1932, cujo conteúdo encheu-a de orgulho e, por isso mesmo, “guardou pelo resto da vida”:
Uma mulher de cor, alistada na Legião Negra, vencendo toda a sorte de obstáculos e as durezas de uma viagem acidentada, uniu-se aos seus irmãos negros em pleno entrincheiramento na Frente do Sul, descrevendo a página mais profundamente comovedora, mais profundamente cheia de civismo, mais profundamente brasileira, da campanha constitucionalista, ao desafiar a morte nos combates encarniçados e mortíferos para o inimigo, MARIA DA LEGIÃO NEGRA! Mulher abnegada e nobre da sua raça.
Não demorou e os paulistas foram derrotados... Logo se esqueceram da Maria Soldado...
Conceder-lhe uma patente seria o mínimo... Mas para os militares era muito constrangedor admitir que ela fosse digna de reconhecimento... Uma mulher... Negra...
Maria simplesmente desapareceu... Não se ouviu falar mais dela... Ela simplesmente retornou à mansão dos antigos patrões e prosseguiu sua lida na cozinha por muitos anos.
Em 1957, quando São Paulo comemorou os 25 anos (Jubileu de Prata) da Revolução Constitucionalista, Maria recebeu medalha e o titulo de “Mulher Símbolo da Revolução”... Nessa ocasião se sentiu mais desconfortável do que na frente de combate.
Só mesmo o velho Tião poderia nos esclarecer a respeito do que se sucedeu a Maria depois... Ele a encontrou vendendo quitutes, doces e salgados, em frente ao Hospital das Clínicas... Ele também sabia que a Câmara Municipal prestara-lhe uma homenagem póstuma...
(...)
De fato existiu uma mulher que ingressou na Frente Negra. E ela ficou
mesmo conhecida como Maria Soldado.
Então o texto não é de todo fictício e rende-lhe uma homenagem
fantástica. A leitura das páginas que Faustino dedicou à personagem nos leva
aos cenários cotidianos da cozinheira sonhadora e também aos campos da guerra
onde ela se tornou verdadeira heroína.
(...)
Há indicações em http://gingalimeira.blogspot.com.br/2013/07/maria-soldado-uma-mulher-negra.html (acessado nesta data) que confirmam algumas informações sobre a
personagem de A Legião Negra...
A referida página cita Marcelo Manzatti e atribui a ele As Mulheres Negras do Brasil. Com este
mesmo título encontramos (da Editora Senac Nacional) obra de Schuma Schumaher e
Érico Vital Brasil.
Entre as informações verificadas
(que coincidem com a personagem de A
Legião Negra) podemos destacar a do nascimento na cidade de Limeira; as
atividades de empregada doméstica; o engajamento nas tropas
constitucionalistas; a venda de quitutes nas proximidades do Hospital das
Clínicas para garantir a sobrevivência.
(...)
Também há o site http://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Sguass%C3%A1bia (acessado nesta data) que dá conta de que a verdadeira
Maria Soldado, a única mulher a participar dos combates durante a Revolução
Constitucionalista de 1932, era Stela Rosa Sguassábia (também conhecida como Maria
Sguassábia)... Ela nasceu em Araraquara no ano de 1889, e faleceu em São João
da Boa Vista em 1973.
A página informa que Sguassábia
casou-se em abril de 1922 e que se tornou viúva poucos meses depois... Em
janeiro do ano seguinte nasceu a sua filha Maria José.
Sguassábia foi professora rural em São João da Boa Vista... Decidiu
partir secretamente entre os soldados que rumaram para a vizinha Espírito Santo
do Pinhal, na fronteira entre os estados de São Paulo e Minas Gerais...
Ela acabou sendo descoberta... Após muita insistência
conseguiu ser “aceita como soldado Mário”!
Depois da derrota dos paulistas, Sguassábia foi dispensada das armas
pelo seu comandante (Romão Gomes)... Caminhou de Campinas a São João da Boa
Vista.
Os anos que se seguiram foram de muita labuta,
pois não pôde mais exercer o cargo de professora primária (foi punida “por ter
rendido um tenente ditatorial”)... Trabalhou como costureira e inspetora de
alunos num instituto de ensino em São João da Boa Vista...
Leia: A
Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto