Pensativo, Phil Resch conduzia o hovercar em direção à Casa de Ópera. Ele estava chegando a uma conclusão sobre a sua condição humanoide.
Depois de algum tempo, pediu a Deckard que, após aposentarem a srta. Luft, o avaliasse com o teste Bonelli ou com a Escala Voigt-Kampff... Rick respondeu que a srta. Luft seria um “páreo difícil”... Sugeriu que mantivessem o foco na captura, pois contava receber a ajuda de Resch na tarefa, sendo assim não podia conversar a respeito da angústia existencial do outro.
Resch passou a falar sobre um “esquilo de verdade” que mantinha numa gaiola em sua residência... Chamava o bichinho de Buffy... Como a querer demonstrar que possuía empatia e sentimento humanos, disse o que fazia para cuidar de Buffy...
Garantiu repetidas vezes que amava o seu “esquilo verdadeiro”... Empolgava-se ao comentar que era admirável vê-lo a correr na roda instalada em sua gaiola... Corria, corria sem “sair do lugar”.
Deckard ouviu silenciosamente... Depois respirou fundo e comentou que “os esquilos não deviam ser bichos brilhantes”.
(...)
O ensaio na Casa de Ópera havia se encerrado. Resch e
Deckard foram informados que Luba Luft estava no museu, onde visitava uma
exposição com obras de Edvard Munch... Aquele era o penúltimo dia para apreciar
as maravilhosas pinturas e xilogravuras. Deckard pensou que seria o último da
existência de Luba Luft.
(...)
Os dois seguiram para o museu. O ambiente estava apinhado de gente, e
entre os visitantes contavam-se crianças de escola primária acompanhadas por
sua professora de voz estridente.Resch ainda parecia perturbado e buscando certezas sobre a sua realidade
existencial... Por incrível que pareça, ele mesmo não tinha condições de
afirmar se era um humano ou humanoide... Evidentemente essa última
possibilidade o assustava... É por isso que enquanto circulavam pelo museu
perguntava a Deckard se ele sabia de algum andy que cuidasse de um bicho de
estimação... Rick respondeu que sabia de dois casos bem raros, e acrescentou
que dificilmente um robô humanoide lidaria com algum animal de estimação
simplesmente porque ele não tem condições de mantê-lo vivo... Resch
acrescentava que o seu esquilinho Buffy ia muito bem graças ao amor que lhe
dedicava, à escovação de seu pelo e aos cuidados que dispensava com a sua
limpeza.
(...)
Phil Resch parou por um instante diante de O Grito e permaneceu a contemplar a “criatura oprimida, sem pelos
ou cabelo, com uma cabeça em forma de pera invertida, as mãos espalmadas em
horror sobre as orelhas, a boca aberta em um vasto e mudo grito”... Talvez
representasse um homem, talvez uma mulher, mas “o que quer que fosse, estava
contido em seu próprio urro”... Uma solidão só... A criatura sobre a ponte, seu
grito em isolamento.
(a descrição da tela de Munch – que está entre os parênteses - é a que
PKD leva à reflexão de Resch... Pesquise a reprodução da tela na internet e
tire suas conclusões).
Ainda preocupado, Resch disse
que aquela obra podia expressar o modo como os androides deviam se sentir. Sinceramente
aquele não era o seu caso... Se era assim mesmo, então, de fato, ele não tinha
nada de androide.
(...)
Foi Deckard quem avistou e apontou para Luba
Luft... Os dois caçadores se aproximaram imediatamente... Posicionaram-se de
tal modo que colocaram a humanoide cantora entre ambos.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/11/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_5.html
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto