Contemplar os animais expostos e conversar com um vendedor era de empolgar... Com os três mil obtidos como recompensa pelas aposentadorias de Polokov, Garland e Luba Luft, Rick podia iniciar uma cotação... Vimos que a parada na região onde se concentravam as casas que negociavam espécies bípedes e quadrúpedes funcionou como válvula de escape para as angústias do dia.
(...)
Deckard observou uma bela cabra e quis saber se se tratava de uma fêmea.
O vendedor explicou que aquela era um exemplar “negra nubiana” oferecido a
preço especial... O tipo quis saber como seria a negociação e, logo que Rick
respondeu que pagaria em dinheiro, fez uns rabiscos num papel para
mostrar-lhe...
Rick reclamou do alto valor
e anotou no mesmo papel a quantia que se dispunha a pagar... O vendedor não
considerou a proposta e sentenciou que era muito baixa para uma cabra jovem,
que ainda tinha muito tempo de vida pela frente.
Nova troca de propostas aconteceu, então Deckard topou
a oferta e em pouco tempo estava assinando o contrato de compra. Os três mil
passaram para as mãos do vendedor e o engradado que abrigava a cabra foi
acondicionado em seu hovercar.
(...)
A compra deu-lhe satisfação... Enfim possuía algo que muito ambicionava:
um animal de porte e verdadeiro. Pela segunda vez era proprietário e podia dedicar
a sua estima a uma criatura natural.
Mas a transação de soma tão elevada também fez com que
algumas de suas preocupações anteriores retornassem... Viu que precisava manter
o emprego, que precisava agir com mais eficiência na caçada aos andys restantes
de sua lista... E precisava dar fôlego à confiança que havia ficado abalada
depois da conversa com Resch.
(...)
No caminho para casa, pensou que Iran ficaria nervosa depois de saber
que teria responsabilidades aumentadas por causa da nova cabra... Sem dúvida, a
maior parte dos cuidados com o animal ficaria ao seu encargo.
Ao descer com o hovercar no terraço, Deckard pensou sobre o que diria à
esposa... Teria de justificar a aquisição... Diria que sua condição
profissional exigia a mudança da ovelha elétrica para a cabra natural. Era uma
questão de prestígio.
Resoluto, retirou o engradado do veículo.
(...)
Iran preparava o jantar. Deckard a cumprimentou e ela quis saber o
motivo do atraso. Ele a convidou a segui-lo até o terraço...
A mulher adivinhou que o marido trazia uma surpresa que só podia ser um “animal
de verdade”. Pelos corredores, foi dizendo que ele não devia ter se antecipado
e que o mais adequado seria consultá-la... Reclamou que tinha o direito de
participar das decisões.
Como que a consolar a
esposa, Deckard disse que sua intenção era surpreendê-la... Iran não se
sensibilizou e, em vez disso, foi disparando que a extravagância só podia ser o
resultado do pagamento de recompensas.
Ele explicou sobre a
eliminação dos três andys e ressaltou que precisava adquirir o animal para dar
sentido ao seu esforço profissional.
Apesar da escuridão
do terraço, Deckard conduziu a esposa na direção exata do engradado.
Ele acionou os holofotes e Iran pôde contemplar a cabra... Ela circulou
o engradado e demonstrou grande admiração... Perguntou se era mesmo
verdadeira... A mulher estava encantada.
Deckard respondeu que tinha
certeza de que o animal fosse real, principalmente porque havia uma pesada multa
(duas vezes e meia sobre o valor investido) para os casos de fraude.
Ele se empolgou e disse que poderiam ter leite e
queijo...
Iran queria saber se podiam desamarrar o animal. Ele esclareceu que por
alguns dias ela seria mantida presa... Uma simples questão de adaptação.
(...)
O ânimo de Iran tornou-se ternura explícita... Lembrando-se
de antiga canção de Joseph Strauss, do tempo em que haviam se conhecido, começou
a dizer que sua vida era “amor e prazer”... Colocou a mão no ombro do marido e
o beijou.
Ela estava feliz... Ele agradeceu e a abraçou.
Iran sugeriu descerem para agradecerem a Mercer... A cabra precisava de
um nome... Também deviam arranjar uma corda para amarrá-la.
Enquanto se preparavam para descer pelo elevador, foram interpelados por
Bill Barbour, que os cumprimentou e elogiou a cabra.
Barbour sugeriu que, se ela gerasse cabritinhos,
ele aceitaria trocar um potro de sua Judy por um “casal de cabritos”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/11/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_25.html
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto