quarta-feira, 26 de novembro de 2014

“Androides sonham com ovelhas elétricas?”, de Philip K. Dick – Deckard confessa que está com depressão; seu estado melancólico explica o valor altíssimo pago pelo animal; Iran já não implica com o ofício do marido, um caçador de androides

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/11/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_25.html antes de ler esta postagem:

Deckard quis se desabafar com Iran.
Mas a esposa parecia não estar disposta a ouvir as lamúrias do marido... Como vimos, ela estava empolgada com a compra da cabra nubiana e pretendia realizar uma fusão com Mercer. Ela explicou que não podiam perder a oportunidade de compartilhar sua felicidade.
Iran argumentou que não foram poucas as ocasiões em que gostaria de servir de alento a merceritas que manifestavam desespero e tristeza durante as sessões de empatia... Mas ela não podia porque, de fato, sua condição existencial era de precariedade...
Serem proprietários de uma ovelha elétrica, e sem permitir que os outros soubessem a verdade, era a condição que tinham de superar.
Pelo visto o momento havia chegado.
(...)
Iran não tinha a menor noção do estado emocional de seu marido.
Deckard precisava soltar do peito toda amargura que estava sentindo.
O seu problema dizia respeito ao seu desejo de coerência existencial... Todos nós buscamos isso. Porém não é fácil compreender a crise que o personagem enfrentava.
É claro que podemos estabelecer algumas analogias entre a sua vivência e a nossa condição que (quase) nada tem a ver com o mundo desenhado por PKD...
Como fazer um “esforço de subtração” (daquilo que somos e vivemos) e mergulharmos no “modo de ser” de um caçador de andy?
O tipo insistiu em permanecer no planeta. Esperava-se de indivíduos qualificados, os “normais”, que emigrassem para as colônias espaciais. Deckard, no entanto, tocava a vida com o seu ofício de detectar e eliminar humanoides...
Sabemos de sua modesta condição. Vivendo com a deprimida Iran, talvez o sonho de adquirir um animal verdadeiro fosse sua única motivação para prosseguir... Não foi por acaso que logo depois de receber a recompensa pela eliminação de Polokov, Garland e Luba, dirigiu-se à área de comércio de animais, de onde saiu com a cabra que pretendia chamar de Eufêmia.
(...)
Parecia que Deckard já não se importava se a esposa queria ou não ouvi-lo...
Ele disse que o teste ao qual se submeteu mostrou que começara a sentir empatia por androides... Rick lembrou que pela manhã Iran se referira às suas vítimas como “pobres andys”... Então ele esperava que a mulher pudesse entendê-lo, pois queria explicar que se sentia com depressão. E isso era algo que ela conhecia bem.
(...)
Enfim ele parecia compreender os problemas psicológicos que a mulher enfrentava... Antes ele imaginava que ela pudesse sair daquele estado no momento que quisesse, mas agora sabia que não era bem assim.
(...)
Deckard permitiu que a esposa concluísse que a aquisição da cabra havia sido uma reação ao seu triste estado de ânimo... Iran se mostrou um pouco decepcionada, mas ainda estava contente com o animal de porte... Ela quis saber sobre o que o trabalho lhe rendera e o quanto gastara.
Ao observar os papéis, Iran tomou um susto... Os valores eram altíssimos, a dívida era estratosférica, sobretudo devido aos altos juros. Em tom de conclusão, ela disse que tudo aquilo era resultado da depressão do marido! Então não se tratava de uma surpresa para ela?!
Mas a mulher estava encantada pela cabra e sentenciou que a dívida não devia se tornar um embaraço para eles...
(...)
Deckard continuava a pensar sobre a sua dificuldade em ter de lidar com os androides. Ele disse que talvez pudesse mudar de setor, porém Iran o advertiu que se não contassem com o dinheiro das recompensas a loja retomaria a cabra.
Ele fez uns rabiscos e disse que poderia diminuir o valor das prestações se aumentasse o prazo do financiamento de trinta e seis para quarenta e oito meses.
Discutiam sobre mais esse drama quando o vidfone tocou.
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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