J.R. Isidore voou rumo ao seu prédio... Não poupou esforços para conseguir alguns alimentos que esperava dividir com Pris, a bela jovem que se instalou num apartamento pouco abaixo do que ele ocupava...
(...)
A maior preciosidade que Isidore trouxe estava debaixo de seu banco, uma
garrafa de vinho Chablis resgatada de cofre do Bank of America... Ele a tinha
reservado para ocasião como aquela que parecia se descortinar... A companhia de
uma garota como Pris Stratton era algo que J.R. sinceramente não sonhara...
Demais!
Ao estacionar o hovercar,
tomou o rumo do apartamento onde esperava encontrar a moça... Após descer do
elevador, manteve a sacola com os ingredientes do festim junto ao peito... O
ruído de seus passos chegou aos ouvidos de Pris, que, sem abrir a porta,
perguntou quem chegava... Ele se anunciou garantindo que trazia “coisas
gostosas” para o jantar.
Pode-se dizer que a experiência vivenciada durante o
seu expediente de trabalho no hospital (ao conduzir a negociação pelo vidfone)
deu certa confiança ao Isidore... Pris abriu a porta e notou que ele parecia
diferente, parecia “mais adulto”... Ele comentou que durante o dia tivera de
resolver certas questões que faziam parte de sua rotina de trabalho...
(...)
Depois de pequeno lapso de tempo, J.R. entrou no apartamento... Só então
a moça viu que o que ele trazia era motivo de alegria. Mas de repente ela se
tornou ensimesmada.
Isidore levou as coisas para a cozinha e quis saber o
motivo de seu acabrunhamento. Pris explicou que o seu esforço não passava de um
desperdício... Não, ela não teria condições de entrar em detalhes sobre o que a
deixava deprimida... Talvez um dia falasse sobre o que a deixava amargurada. No
momento desejava permanecer só... Era com frieza que se encaminhava para a
porta dando a entender que queria que ele se retirasse.
Isidore quis consolá-la e disse que o problema dela era a falta de
amigos... Pris deixou claro que possuía sete amigos... Mas não tinha certeza se
estavam vivos porque “caçadores de recompensas” pretendiam capturá-los. Ele
quis saber o que é um “caçador de recompensas” e a garota percebeu que tipos
como J.R. não deviam mesmo saber a respeito dos “caçadores”. Ela começou a
explicar sem entrar em detalhes sobre suas vítimas...
(...)
A moça estava mesmo angustiada... Isidore não podia entender... Ela se
aproximou da janela e lamentou a possibilidade de ser a única sobrevivente de
seu grupo de amigos... Sabia que não seria fácil escapar com vida da
perseguição daqueles caçadores porque a recompensa por cada uma de suas vítimas
era muito estimuladora...
Pris sustentou que tinha certeza de que os “caçadores de recompensas” se
sentiam estimulados a matar... Isso devia dar-lhes prazer... Isidore a
interrompeu dizendo que estava errada e argumentou que não podia ser como ela estava
pensando porque, se assim fosse, o Buster Gente Fina já teria feito alguma
referência sobre aquele tipo de agente e o seu modo de proceder... Não era
possível que existissem pessoas que se comportassem de modo tão contrário à “ética
mercerista”...
Qualquer um devia saber que “todas as vidas são uma” e que “nenhum homem
é uma ilha”... Isidore falava como quem defende a doutrina na qual deposita
todas as suas fichas... Citou Shakespeare como autor da última frase, mas
acabou corrigido pela jovem Pris, que explicou que ela era de John Donne.
Ouvir que alguém pudesse sentir
satisfação em assassinar era algo que J.R. não podia aceitar... Perguntou se a
amiga não podia chamar a polícia para que a defendesse...
Ao saber que ela possuía
uma tão atribulada vida, entendeu que o seu modo discreto de viver fazia
sentido... Isso tudo à parte, não seria de todo descabido que o seu
comportamento estivesse associado a “delírios de perseguida”... Ela bem podia
estar afetada mentalmente pela Grande Poeira.
Quem sabe se ela não era uma “Especial” como
ele?
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/11/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas_13.html
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto