Talvez
seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/simon-bolivar-de-gabriela-pellegrino_28.html antes de ler esta
postagem:
O texto cita trechos de Gabriel Garcia Márquez (O general em seu labirinto) sobre
Bolívar em estado de ardente febre e, ainda assim, desenvolvendo os seus planos
militares de libertação... É claro, não foi sem grandes sacrifícios que os
homens de Bolívar avançaram por Venezuela e Nova Granada... Os biógrafos do “libertador”
ressaltam o heroísmo das ações de 1819...
O general Montilla chamava
a atenção de Bolívar sobre o ocorrido em Casacoima (serra de Imataca, na
Venezuela), quando nosso personagem e alguns poucos oficiais (entre os quais,
Briceño Méndez) passaram a noite de 4 de julho de 1817 afundados na lagoa local
como recurso desesperado para escapar dos ataques das tropas espanholas. Em
estado febril, desprotegido de vestes que pudessem aquecê-lo, Bolívar delirava
e gritava sobre os próximos passos a seguirem... Tomar Angostura, atravessar os
Andes, libertar Nova Granada e, na sequência, a Venezuela... Fundar a Colômbia...
Conquistar os territórios do sul até atingir o Peru. No alto do Chimborazo
fincariam a bandeira “tricolor da América grande, unida e livre pelos séculos
dos séculos”.
O monte Chimborazo, no Equador, era considerado o mais alto do mundo até
então... Sua fama crescera desde a tentativa de escalada de Humboldt, que por
400 metros não o venceu... No imaginário dos libertadores, e de Bolívar
especificamente, a “glória da escalada” associava-se à “glória da libertação da
Colômbia”. Isso é notado em Mi delirio sobre
el Chirombazo, escrito por Bolívar durante a guerra... Certamente aquelas
palavras inspiraram Garcia Márquez.
Bolívar transpirava paixão
pela libertação da América... Sua determinação e apego a símbolos inspiravam os
que o seguiam... Certamente isso também ocorreu com Manuela Sáenz.
Foi num baile de gala pela
libertação do Equador que Bolívar a conheceu... Desde então ela tornou-se
protetora e confidente dele... Manuela cuidou de seus arquivos nos momentos
mais delicados da guerra e do início da Terceira República... Por seus feitos,
recebeu condecoração militar. Sobre essa personagem há muito que dizer. Ela
marcou profundamente as lutas pela libertação da América... E não apenas ao
lado de Bolívar, a quem salvou de um atentado.
O general sabia que
para fortalecer a luta precisava do apoio popular e que, para que isso se
efetivasse, seria necessário permitir que todos vislumbrassem dias melhores...
Recompensas, libertação: os pardos passaram a ver na independência a “posse de
terras”, os índios se livrariam de tributos específicos...
Bolívar resolveu que também
os escravos seriam colocados em combate. Vale o registro de trechos de sua
carta ao general Santander (20 de abril de 1820) citados no livro:
As razões militares e políticas que me levaram a
ordenar a vinda de uma leva de escravos são óbvias. Necessitamos de homens
robustos e fortes acostumados à inclemência e às fadigas, de homens que abracem
a causa e a carreira com entusiasmo, de homens que vejam identificada a sua
causa com a causa pública e homens para os quais o valor de sua morte seja um
pouco menor que o da sua vida.
As razões políticas são ainda mais poderosas.
Declarou-se a liberdade dos escravos de direito e de fato. (...)
Com efeito a lei do Congresso é sábia em vários sentidos (...) Seria
justo morrerem somente os homens livres para então libertar os escravos? Não
seria útil que esses adquirissem seus direitos no campo de batalha e que se
diminua o seu perigoso número por um meio poderoso e legítimo?
O primeiro trecho permite
transparecer a ideia de que o envolvimento dos escravos nas lutas tinha caráter
pragmático, dado que, como eram acostumados às difíceis situações de vida em
sua lide, se ajustariam à empreitada pela causa pública... Tendo bem pouco a que
se apegar, lutariam com muito vigor, mesmo que o preço de tal empenho fosse a
própria vida...
Depois vieram as perguntas sobre se não seria mais legítimo os negros
obterem sua abolição lutando pela independência da nação, e se haveria justiça
no processo se “só os homens livres morressem pela causa”... Por fim, novo
juízo pragmático acerca da “utilidade” da diminuição do número de negros no
país “por um meio poderoso e legítimo”.
Vê-se
que o trecho final revela o desassossego com a possibilidade de ver a Venezuela
sacudida por violentas rebeliões de escravos como as que haviam ocorrido no
Haiti...
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2013/04/simon-bolivar-de-gabriela-pellegrino_8.html
Leia: Simón Bolívar. Fundação Memorial da América Latina.
Um abraço,
Prof.Gilberto