quarta-feira, 3 de abril de 2013

“Símon Bolívar”, de Gabriela Pellegrino Soares, em “Coleção Fundadores da América Latina”, coordenada por Maria Ligia Coelho Prado – os libertadores e os símbolos; o Chimborazo ; Manuela Sáenz, uma “libertadora”; a carta ao general Santander; Bolívar e suas intenções ao envolver os escravos nas lutas de independência

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/simon-bolivar-de-gabriela-pellegrino_28.html antes de ler esta postagem:

O texto cita trechos de Gabriel Garcia Márquez (O general em seu labirinto) sobre Bolívar em estado de ardente febre e, ainda assim, desenvolvendo os seus planos militares de libertação... É claro, não foi sem grandes sacrifícios que os homens de Bolívar avançaram por Venezuela e Nova Granada... Os biógrafos do “libertador” ressaltam o heroísmo das ações de 1819...
O general Montilla chamava a atenção de Bolívar sobre o ocorrido em Casacoima (serra de Imataca, na Venezuela), quando nosso personagem e alguns poucos oficiais (entre os quais, Briceño Méndez) passaram a noite de 4 de julho de 1817 afundados na lagoa local como recurso desesperado para escapar dos ataques das tropas espanholas. Em estado febril, desprotegido de vestes que pudessem aquecê-lo, Bolívar delirava e gritava sobre os próximos passos a seguirem... Tomar Angostura, atravessar os Andes, libertar Nova Granada e, na sequência, a Venezuela... Fundar a Colômbia... Conquistar os territórios do sul até atingir o Peru. No alto do Chimborazo fincariam a bandeira “tricolor da América grande, unida e livre pelos séculos dos séculos”.
O monte Chimborazo, no Equador, era considerado o mais alto do mundo até então... Sua fama crescera desde a tentativa de escalada de Humboldt, que por 400 metros não o venceu... No imaginário dos libertadores, e de Bolívar especificamente, a “glória da escalada” associava-se à “glória da libertação da Colômbia”. Isso é notado em Mi delirio sobre el Chirombazo, escrito por Bolívar durante a guerra... Certamente aquelas palavras inspiraram Garcia Márquez.
Bolívar transpirava paixão pela libertação da América... Sua determinação e apego a símbolos inspiravam os que o seguiam... Certamente isso também ocorreu com Manuela Sáenz.
Foi num baile de gala pela libertação do Equador que Bolívar a conheceu... Desde então ela tornou-se protetora e confidente dele... Manuela cuidou de seus arquivos nos momentos mais delicados da guerra e do início da Terceira República... Por seus feitos, recebeu condecoração militar. Sobre essa personagem há muito que dizer. Ela marcou profundamente as lutas pela libertação da América... E não apenas ao lado de Bolívar, a quem salvou de um atentado.
O general sabia que para fortalecer a luta precisava do apoio popular e que, para que isso se efetivasse, seria necessário permitir que todos vislumbrassem dias melhores... Recompensas, libertação: os pardos passaram a ver na independência a “posse de terras”, os índios se livrariam de tributos específicos...
Bolívar resolveu que também os escravos seriam colocados em combate. Vale o registro de trechos de sua carta ao general Santander (20 de abril de 1820) citados no livro:

As razões militares e políticas que me levaram a ordenar a vinda de uma leva de escravos são óbvias. Necessitamos de homens robustos e fortes acostumados à inclemência e às fadigas, de homens que abracem a causa e a carreira com entusiasmo, de homens que vejam identificada a sua causa com a causa pública e homens para os quais o valor de sua morte seja um pouco menor que o da sua vida.
As razões políticas são ainda mais poderosas. Declarou-se a liberdade dos escravos de direito e de fato. (...)
Com efeito a lei do Congresso é sábia em vários sentidos (...) Seria justo morrerem somente os homens livres para então libertar os escravos? Não seria útil que esses adquirissem seus direitos no campo de batalha e que se diminua o seu perigoso número por um meio poderoso e legítimo?

O primeiro trecho permite transparecer a ideia de que o envolvimento dos escravos nas lutas tinha caráter pragmático, dado que, como eram acostumados às difíceis situações de vida em sua lide, se ajustariam à empreitada pela causa pública... Tendo bem pouco a que se apegar, lutariam com muito vigor, mesmo que o preço de tal empenho fosse a própria vida...
Depois vieram as perguntas sobre se não seria mais legítimo os negros obterem sua abolição lutando pela independência da nação, e se haveria justiça no processo se “só os homens livres morressem pela causa”... Por fim, novo juízo pragmático acerca da “utilidade” da diminuição do número de negros no país “por um meio poderoso e legítimo”.
Vê-se que o trecho final revela o desassossego com a possibilidade de ver a Venezuela sacudida por violentas rebeliões de escravos como as que haviam ocorrido no Haiti...
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2013/04/simon-bolivar-de-gabriela-pellegrino_8.html
Leia: Simón Bolívar. Fundação Memorial da América Latina.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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