terça-feira, 23 de abril de 2013

“Símon Bolívar”, de Gabriela Pellegrino Soares, em “Coleção Fundadores da América Latina”, coordenada por Maria Ligia Coelho Prado – a construção do mito; Chávez e seu bolivarianismo; historiografia em torno de Simón Bolívar

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/04/simon-bolivar-de-gabriela-pellegrino_17.html antes de ler esta postagem:

Todos sabemos que ainda hoje Simón Bolívar continua tema de debates quando o assunto é a América Latina e as propostas para o seu desenvolvimento econômico e social... Recentemente Hugo Chávez deu o nome de “Bolivariana” à revolução social que liderou a partir dos anos 1990. A Constituição venezuelana aprovada em 1999 deu ao país o nome de República Bolivariana da Venezuela.
A ideia central das mudanças encaminhadas por Chávez está na inclusão social das camadas menos favorecidas da população... Buscou-se legitimar o processo através da “Democracia Participativa”, em vez da “Democracia Representativa”... A argumentação de Chávez e de seus partidários era a de que o ideário de Bolívar foi completamente desvirtuado pelas elites do país... Isso explica, de acordo com os chavistas, os motivos de a América Latina não ter completado sua libertação com justiça e unidade... Então, a partir da liderança de Hugo Chávez, esperava-se retomar as propostas do libertador, estreitando os laços com as nações vizinhas.
A autora salienta que Bolívar e seus ideais foram, em diversos momentos, assumidos como ícones daqueles que procuraram liderar processos políticos em toda a América Latina... Germán Carrera-Damas publicou em 1969 um estudo sobre essa temática... Ele aponta que o culto a Bolívar teria se iniciado ainda em 1842 por ocasião do traslado de seus restos mortais para Caracas... Nessa época, o presidente do país era José António Paez (o líder dos llaneros ao tempo dos conflitos emancipacionistas), que buscou unir a elite do país em torno do ideário bolivariano.
As obras de Juan Vicente González (conservador) e Felipe Lazarrábal (liberal) são caracterizadas por colocar Bolívar no centro das aspirações nacionalistas... O culto ao herói se solidificou durante as décadas de 1870 e 1880, quando foi celebrado o centenário de seu nascimento... Ao tempo do “governo liberal” de Guzman Blanco foram publicadas antologias que reuniam documentos produzidos por Bolívar na época das guerras emancipacionistas... Esse material foi incorporado a livros escolares e contribuiu para a formação da mentalidade de unidade nacional em torno do herói.
A solidificação do mito se fez também durante governos ditatoriais... Foi o caso do longo período (1908-1935) marcado pelo governo do ditador Juan Vicente Gómez, quando as cartas de Bolívar foram compiladas no “extenso Epistolário”... O herói foi utilizado também para unir os opositores do marxismo, e isso é ressaltado em relação ao governo Eleazar López Contreras (1935-1941)... Ao tempo da Guerra Fria, Bolívar foi resgatado, sobretudo como símbolo de defesa da Democracia... Mas a obra do espanhol Salvador Madariaga (1951) apresentou uma biografia do libertador na qual ele desponta como um tipo vacilante e facilmente influenciado pela amante Manuela Sáenz... Além disso, o herói é revelado cometendo vários erros militares, e vacilante em relação à República, uma vez que “flertava com a Monarquia”. Evidentemente os bolivarianos perseguiram o material.
Os marxistas perceberam em Bolívar um aglutinador da causa revolucionária. Em 1969 foi publicado Bolívar e La guerra revolucionaria, do venezuelano J.R. Nuñez Tenorio... Certamente o seu conteúdo se relaciona mais diretamente ao ponto de vista que Hugo Chávez explorou.
Nikita Harwich realizou um estudo sobre a produção historiográfica envolvendo Bolívar... Não deve ter sido difícil concluir que a paixão acabou pautando as perspectivas que alicerçaram as pesquisas... A autora cita ainda Epistolário de Simón Bolívar, trabalho de Fabiana Fredrigo que desenvolve reflexão acerca das relações de Bolpivar com seus preceptores e generais e, de modo crítico, “lança luz sobre as estratégias” utilizadas pelo libertador para ser reconhecido pelas gerações futuras como indispensável “protagonista das independências latino-americanas”.
Leia: Simón Bolívar. Fundação Memorial da América Latina.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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