Talvez
seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/03/decamerao-de-giovanni-boccaccio-quarta_17.html antes de ler esta
postagem:
A história contada por Dioneio (do monge e do
abade de Lunigiana) deixou as moças ruborizadas... A narrativa foi ouvida com
atenção e também provocou acessos de risos... É certo que ao final elas
disseram a Dioneio que novelas com aquele tipo de conteúdo não podia se
destinar a grupos femininos... Depois disso, Pampineia dirigiu-se a Fiammetta e
solicitou que ela desse sequência às narrativas.
A quinta novela começou com
a observação de Fiammetta acerca do fato de notar (com aprovação) que
normalmente os homens sentem-se atraídos por mulheres de “linhagem mais ilustre
do que a deles”, ao mesmo tempo em que percebia que as mulheres bloqueiam a
paixão por homens de classe social mais elevada. Depois de fazer essas considerações,
Fiammetta disse que sua novela trataria exatamente do procedimento de uma nobre
mulher que, além de ter evitado se apaixonar por um homem muito mais rico do
que ela, conseguiu impedir que ele se perdesse de amores por mulher “de
categoria inferior à dele”.
A trama envolve o marquês de Monferrato, sua esposa marquesa, e o rei
Felipe, o Vesgo... Fiammetta contou que o marquês era um tipo virtuoso,
reconhecido por suas várias realizações em favor da cristandade... Inclusive no
além-mar... Atingiu o posto de gonfaloneiro da Igreja... Suas virtudes eram
comentadas entre os demais cavaleiros. Ele também era considerado afortunado,
um agraciado por Deus, porque sua esposa era bela e digna.
Tanto o rei ouviu falar
sobre as qualidades da marquesa que passou a pensar nela com frequência... Seus
sentimentos tornaram-se apaixonados e seu desejo de conhecê-la e estar com ela
para poder manifestar (e concretizar) suas vontades mais secretas cresceu
desmedidamente. A oportunidade surgiu quando houve a necessidade de viajar.
Percebeu que se embarcasse apenas em Gênova, teria condições de, no caminho,
fazer uma visita àquela que tanto amava. Evidentemente nutria o desejo de que o
marquês estivesse ausente.
Foi assim que providenciou
para que seus homens seguissem adiantados à sua frente e com considerável
antecedência. Garantiu que apenas um cortejo (poucos guerreiros e
gentis-homens) o acompanhasse mais de perto... Nas proximidades das terras do
marquês solicitou que um de seus homens comunicasse à mulher sobre a sua
chegada para um jantar no dia seguinte.
O marquês estava
fora. Tudo se saía do modo como sonhara... A mulher decidiu que deveria receber
a ilustre e poderosa visita, mas não deixou de pensar sobre os verdadeiros motivos
que impulsionavam o rei até ali. Dessa forma, assegurou que os serviçais que
permaneceram nas terras providenciassem todo o necessário para a boa estadia do
rei. Solicitou que trouxessem aos cozinheiros todas as galinhas da região para
que só com essas aves fossem preparadas as iguarias do banquete que seria
servido.
No dia seguinte, o rei
chegou e foi recebido com os festejos tradicionais. De modo polido, como era de
seu feitio, a marquesa o recebeu... Cada gesto seu acabava confirmando ao rei a
opinião que ele tinha sobre a beleza, elegância e dignidade da anfitriã. Quanto
mais a conhecia, mais se via cheio de ardentes desejos por ela. Via que a
marquesa era ainda mais bela do que falavam.
O rei descansou em salas
ricamente decoradas e confortáveis. À hora do jantar ele pôde desfrutar da
companhia da marquesa numa mesa à parte, pois os demais convivas foram dispostos
em outras mais afastadas... Um prato após outro era servido e ele não deixou de
observar que, embora diferentes, todos eram feitos com galinha. Surpreendia-se,
sobretudo porque havia enviado o comunicado sobre a sua chegada com boa
antecedência e, sabendo que a região era farta de caças, esperava que elas
fossem providenciadas para o jantar... Depois de algum tempo não pôde evitar a
pergunta se na região nasciam apenas galinhas, e nenhum galo.
A marquesa parecia aliviada
com a pergunta do rei feita no momento mesmo em que a aguardava... Ela disse
que (como que entendendo a indagação de outra maneira) as mulheres de sua
região eram como todas as outras, ainda que pudessem ser diferenciadas em
relação à honra e maneira de se vestirem... Ao ouvi-la, o rei entendeu a razão
do banquete de galinhas e o sentido oculto daquelas palavras... Notou que seria
inútil desperdiçar palavras com ela e que “nenhuma força poderia ser tentada
contra ela”.
Foi dessa forma que a
inteligente marquesa tratou de “apagar o fogo da paixão” do rei, que percebeu
que não poderia provocá-la sem ouvir as respostas habilidosas da bela mulher...
Ele tratou de comunicar sua partida após o jantar. Essa atitude, de certa
forma, conseguia esconder suas más intenções ali... Então agradeceu a recepção
que tivera e ouviu os votos de que prosseguisse para Gênova com Deus.
Fim
da quinta novela.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/04/decamerao-de-giovanni-boccaccio-sexta.html
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto