Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/04/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_18.html
antes de ler esta postagem:
Anne perguntou aos
amigos se estavam contentes com o comício que havia se encerrado... Henri e
Samazelle sentenciaram com aprovação, disseram que o meeting havia sido um
sucesso, um triunfo. Dubreuilh, de sua parte, disse que o evento em si não
provava nada... Anne pensou que aquilo também fosse um reflexo da idade do
marido... Dez anos antes havia a convicção de que o fascismo seria derrotado,
mas o pós-guerra era momento em que os sacrifícios eram “inventariados”, todos
haviam envelhecido e Robert, particularmente, talvez tivesse a necessidade de “certezas
em curto prazo”.
Charlier
anunciou a sua adesão ao SRL. Ele era
um dos quadros antigos da Resistência... Apresentava um aspecto de grande
debilidade física... Se no passado havia sido um dos mais suaves e insistentes
entre os idealistas, revelava-se embrutecido devido aos sofrimentos dos campos
(golpes, bofetadas, torturas, fome...). O velho falava dos episódios insuportáveis
também de serem ouvidos... Tratava-se de um tipo disputado e dizia que o
retorno às gangues socialistas era algo impensável. Em relação aos comunistas,
manifestava sem rodeios a sua aversão... Aprovou o SRL e certamente engrossaria suas fileiras com muitos outros que o
seguiam.
Depois que Charlier se
retirou, Robert manifestou suas preocupações em relação aos preços que os erros
políticos cobram... Anne entendia que o marido, um pacifista, julgava a si
mesmo e aos de sua geração responsáveis pela guerra... Não havia dúvida de que
o encontro com Charlier havia despertado em Robert aquelas angústias... Anne
tentou acalmá-lo, mostrando que, ainda que o SRL não desse certo, o resultado não seria de grandes desordens.
Robert emendou dizendo que “os pequenos desastres também importam”. Quando se é
mais moço é possível crer que o futuro colocará ordem nos erros que cometemos...
Dubreuilh
entendia que os mais jovens, além de se apresentarem com cinismo, tinham
pretensões marcadas pela rudeza... Talvez por isso ele viesse se revelando mais
sentimental. Isso à parte notava-se que a cada dia o SRL conseguia mais adeptos... É verdade também que L’Espoir vinha
perdendo muitos leitores. Era bem provável que necessitassem recorrer a Trarieux
e ao seu dinheiro.
Oito
milhões, uma quantia bem significativa... Mas Robert não tinha dúvidas de que o
burguês concederia o dinheiro. Sabia bem que, apesar dessa certeza, precisava
fazer as vezes de adulador... Um jantar havia sido combinado... Anne não estava
à vontade para participar e quis saber os motivos de tão grande quantia...
Robert disse qualquer coisa a respeito da gestão de Luc, que Samazelle já havia
investigado a situação crítica do jornal, e que era certo que precisariam de um
socorro financeiro. Na verdade Anne considerou que o sacrifício de terem de se
encontrar com Trarieux só tinha sentido porque a causa era L’Espoir.
Trarieux
recebeu os seus convidados em seu salão-biblioteca... Quando Anne e Robert
chegaram encontraram Samazelle e a esposa... O anfitrião não exibia esposa, mas
todos podiam notar uma moça que fazia a vez de companhia do milionário. O
jantar deu-se numa luxuosa sala ladrilhada de preto e branco... Depois foi o
café com licores... Anne ficou a observar os tipos presentes enquanto
bebericavam... Observou os gestos de Trarieux, um tipo suspeito, de banalidade
calculada... Também
a empregada que servia o café chamou-lhe a atenção. Anne concluiu que
certamente teria muito a dizer-lhe se deitasse no divã em sua clínica. Enquanto
refletia sobre isso, os demais falavam sobre a Resistência e o comício...
Samazelle falou da adesão maciça ao SRL
e que provavelmente em um ano contariam duzentos mil adeptos... “Ou perderiam a
batalha”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/04/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_8632.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto