quinta-feira, 18 de abril de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – enfim, o comício do “SRL”; Anne e sua avaliação sobre os discursos; a inegável liderança de Robert Dubreuilh; reflexões sobre o sucesso do evento; o futuro e suas incertezas

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/04/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-anne_6913.html antes de ler esta postagem:

Depois que Nadine partiu com Lambert para a viagem pelo país em busca das reportagens, os Dubreuilh viveram a semana do meeting (comício) do SRL. Anne e Robert estiveram muito atarefados e receberam várias visitas... Henri sempre aparecia animado... A única preocupação de Anne era a respeito do longo período que separava as expectativas daquele momento das últimas ocasiões em que os amigos se dirigiram ao público em comícios (10 anos)...
No dia do meeting, Anne fez o mesmo percurso do passado... O comício ocorreria no mesmo amplo salão Pleyel... Lembrou-se até que ao passar algumas vezes pela praça, entrou na Lorraine para tomar vinho... Dessa vez não repetiu o ritual, apenas recordou o passado e da ocasião marcada em sua memória, quando assistiu Robert subindo à tribuna para falar com o público reunido no Pleyel.
Nos momentos que antecediam ao comício a tensão estava por conta de sua preocupação a respeito da receptividade das pessoas... Aceitariam as propostas do SRL? Anne observava os conhecidos companheiros (Lenoir, Samazelle e sua identificação com o ambiente...). Notou que Henri assumia o compromisso de falar à multidão (Anne estimava em cinco mil presentes) de modo tão natural como se estivesse falando a apenas um interlocutor... As palavras dele foram muito bem recebidas pela assistência que o aplaudia efusivamente... Anne gostou do que ouviu. Depois foi a vez de Méricaud, que definitivamente não empolgou (seu discurso foi curto e “sem vida”).
Na sequência do programa político foi a vez de Robert falar... Logo que foi anunciado, os aplausos tomaram conta do ambiente... Anne queria saber se ele estava tão emocionado quanto ela... O que seu marido representava aos que se encontravam ali? Viam-no apenas como um escritor, pensador de Viligance? Mais um daqueles líderes que havia se dedicado a comícios antifascistas no passado? Um revolucionário que não abria mão de permanecer intelectual? Certamente jovens e velhos não pensavam o mesmo em relação a Robert... Os primeiros sabiam de seus vínculos com os ideais contrários à guerra; os mais moços levavam a sério suas palavras que podiam significar possibilidades melhores no presente e futuro... Talvez essa combinação das expectativas dos tipos do passado com os do presente explicasse toda a ovação e explosão de alegria anterior ao discurso e que foram notadas também após a fala de Robert... Celebridade, glória... Durante o discurso, porém, o pleno silêncio... E nos “dizeres” de Anne, o marido não propunha um programa, mas ditava “tarefas urgentes”... No horizonte todos entendiam que o programa do SRL traria uma condição melhor, de paz, liberdade e felicidade...
Depois do empolgante discurso de Robert foi a vez de Salève, que podia ser descrito como desinteressante tal como Méricaud... Na sequência Samazelle tomou a palavra, e seu método consistia basicamente em gritar, “trovejar” como um “berrador de feira”.
Ao final o que restou a Anne foram suas reflexões... Pensou nas tantas localidades onde reuniões como aquela se realizaram... Semblantes e ouvidos atentos em direção aos líderes e suas palavras... No entanto a desgraça não foi detida... O futuro (o próximo ou o distante) não era certo... Os presentes estampavam em seus olhares a “verdade transmitida por Robert”? Ela insistia em imaginar o que as pessoas enxergavam no marido... Um velho sonhador? Mereceria crédito? Também dos Estados Unidos e da União Soviética, naquele e em momentos futuros, poderiam se interessar por suas palavras... O que Robert pensaria de si mesmo ao se lembrar daqueles episódios no futuro? Anne concluía que gostaria de decidir sobre isso, mas não conhecia qual a verdade de tudo aquilo... Tinha certeza de que havia alguma... “Nossa vida aí está, pesada como uma pedra, e possui um reverso que não conhecemos: é pavoroso”. Uma sensação de medo tomou conta dela.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/04/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_22.html
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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