terça-feira, 9 de abril de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – final da conversa de Henri com Anne na noite de comemoração do fim da guerra; opinião de Perron sobre a viagem de Anne aos Estados Unidos; Dubreuilh dá a impressão de titubear após a conversa com Lafaurie

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/11/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir.html antes de ler esta postagem:

Anne respondeu que não estava descontente... Não que isso bastasse, mas admitia mesmo que não era pouco... Henri disse que a amiga estava muito mudada. Ela respondeu que todos estavam muito mudados... Ele explicou que não a via mais com o mesmo entusiasmo de antigamente no trato com os pacientes. De certa forma ela confirmou ao dizer que seu trabalho, “cuidar dos estados de alma”, era algo que se relacionava à futilidade... Henri redarguiu, explicou que a psiquiatria devia ter a mesma importância que tinha no passado.
Anne reagiu dizendo que no passado acreditava que curar as pessoas e fazê-las felizes era o mesmo que torná-las verdadeiras, com condições de dar um sentido à própria vida... Isso, sem dúvida, é algo complicado, pois é preciso que se tenha muita confiança no futuro e, assim, acreditar que a vida inteira tenha sentido... Henri falou que o futuro talvez não fosse tão “negro”... Anne completou afirmando que no passado imaginava um futuro “mais róseo”... E falou sobre a sua indecisão em relação ao convite para o congresso de psiquiatria nos Estados Unidos.
Henri demonstrou indignação, pois em sua opinião não haveria motivos para a recusa... Disse que, em seu lugar não hesitaria. Anne tentou argumentar sobre a estranheza de ver-se “no fundo de outro mundo” e, de lá, observar aqueles pelos quais tem estima... Henri encorajou-a, dizendo que ela poderia realizar “pequenas descobertas”... Nada que revolucionasse a existência da amiga, já que as coisas que nos acontecem ou as que fazemos “não agregam grande importância”.
Anne pensou nessas palavras, concordou com elas, cogitou sobre sua verdade e a possibilidade de topar a viagem, e retornar... “Tudo passa, nada passa”... Refletiu sobre isso... A conversa estava mesmo muito boa, podiam prolongá-la pelo resto da noite... Anne levou em consideração a possibilidade, não haveria problema, mas resolveu que não era conveniente... Os dois decidiram reencontrar os demais amigos no metrô.
(...)
Na sequência lemos algumas referências sobre o encontro de Robert Dubreuilh com Lafaurie... Sabemos que Lafaurie e os comunistas não concordavam com o SRL e suas ações... Sabemos, a partir de outros registros, qual a conclusão do velho comunista. Embora a conversa com Robert não tivesse sido de gritaria, ele insistiu que haveria um confronto entre as facções.
Depois do encontro, Robert não aparentava importar-se com aquelas advertências, tanto é que passou a preparar o meeting...
Mas de repente vemos Dubreuilh querendo saber de Anne se ela concordava com as ações planejadas. Sem entender bem o motivo daquele pedido de opinião, Anne afirmou que ele é quem devia saber melhor sobre os rumos e as consequências das ações políticas... Ele havia dito que depois da conversa com Lafaurie não havia a menor possibilidade de ceder... No entanto parecia titubear. Anne o fez admitir que a renúncia ao meeting tinha o mesmo significado de renunciar ao SRL... Dubreuilh sabia que se o meeting resultasse em sucesso os canais de comunicação com os comunistas não seriam rompidos...
Mas naquele momento, Robert refletia sobre o peso daquelas iniciativas... Seria possível uma Europa socialista? Entre a possibilidade real e o sonho há uma linha divisória difícil de ser traçada... Anne, citando Lênin, disse que “é preciso sonhar”... Mas Robert sabia que a seriedade é necessária e afirmou que é imprescindível que se creia no sonho com seriedade... O grande problema de Robert é que ele não tinha certeza plena sobre os motivos de sua obstinação... Seria apenas uma questão de desafio, orgulho ou autocondescendência? Anne estava estranhando o posicionamento de Robert, pois normalmente o marido não demonstrava desconfiança em relação aos próprios atos...
Entretanto Robert confirmou que também desconfiava dos próprios hábitos... Sobre isso, Anne disse que ele deveria, então, “desconfiar daquela desconfiança toda” que se abateu sobre si... Receava o fracasso ou complicações? Por isso sentia-se obrigado a ceder?
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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