quarta-feira, 10 de abril de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Anne e suas impressões sobre Robert envelhecido e fincado no trabalho; Nadine e sua “desilusão com os comunistas”; a moça se envolve com o grupo de Vincent e fica em apuros na região de Chantilly; Anne é chamada a socorrê-la

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/04/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir.html antes de ler esta postagem:

Robert admitiu que estivesse fraquejando, e até tentado a ceder... Falou que fazia uns três dias que vinha se preocupando daquela maneira... Estava cansado, mas não admitia largar mão do SRL. Observando o marido, Anne entendeu que ele já não possuía a energia de outrora... Definitivamente não podia ser considerado um velho, mas provavelmente aprofundava-se nas tramas políticas (até as multiplicava ao excesso) para confirmar que ainda era moço... Robert analisava a situação política e refletia sobre a relação entre seus anseios políticos para a França e a Europa e o que (de fato) poderia ocorrer... Nesse contexto devia levar em consideração o posicionamento dos antigos e outrora aliados comunistas.
Anne advertiu-o sobre o perigo de adoecer seriamente. Robert ponderou que mais um mês de trabalho seria suficiente. A mulher estava mesmo preocupada e disse que eles precisavam de férias... Talvez mais de um mês afastados de Paris, dos compromissos e telefonemas... Uma casa no campo ou no subúrbio, longe das preocupações... Ela também levava em consideração a necessidade de o comício se realizar satisfatoriamente... Pensou na necessidade política de reatarem com os comunistas, e isso só seria possível se o meeting resultasse em sucesso... Pensou na sociedade sem classes que almejavam e notou que as realizações pessoais (pensava sobre o próprio marido), sentimentos, cultura e felicidade também deveriam contar.
(...)
De certa forma, o silêncio de Nadine por aqueles dias era um alívio, uma trégua... Anne notou que a moça havia encostado O Capital, já que concluíra que os comunistas, seus camaradas, são muito parecidos com os burgueses... Não, eles não são revolucionários, admitiu... Parecia estar desiludida com a conclusão de que o projeto do partido era para o futuro... A justiça seria apenas para o futuro... Os comunistas são “pelo trabalho, família e razão”... São ordeiros.
Nadine apareceu com essa história toda desabafos à mãe... Não levava em consideração a sua opinião, mas fazia questão de despejar suas conclusões... Não estava vendo nenhuma razão para ingressar no partido... Seu momento era “o agora” e os projetos comunistas visavam “quinhentos anos mais tarde”. Anne disse que as transformações na sociedade não se processam numa estação... Mas Nadine não ligava para isso... A mãe concluía que a filha padecia de vivenciar histórias mal sucedidas... Ela tinha carência de eventos com finais felizes.
Como que concluindo as reflexões sobre suas angústias, Nadine afirmou que o melhor seria permanecer sozinha... Assim como Vincent, que “parecia um anjo”. Anne lembrou-se que a filha reservava esse tipo de consideração a Diego (seu namorado idealizado, morto)... De certa forma ficou alegre porque notou que Nadine estava agitada, porém parecia envolver-se mais constantemente com Vincent. Talvez os dois dormissem juntos ocasionalmente...
Certa vez Anne atendeu à campainha da casa às cinco da manhã e, para a sua surpresa, era Vincent quem chegava. O moço antecipou-se pedindo que ela não demonstrasse aflição... Obviamente Anne foi logo querendo saber a respeito da filha... O rapaz adiantou que ela estava muito bem... Abriu um mapa e apontou um cruzamento (duas vias a noroeste de Chantilly) e disse que a moça precisava de um carro e de alguém que fosse ao seu encontro... Vincent, demonstrando ter um plano em mente, garantiu que Anne conseguiria o carro de L’Espoir com Henri Perron, mas ela não poderia entrar em maiores detalhes com ele.
Mas é claro que Anne ficou preocupada e quis saber os “maiores detalhes” sobre o estado da filha. O outro disse que Nadine tinha os pés machucados. Mas Anne teria condições de socorrê-la, completou... Era só chegar ao local indicado e buzinar. Nadine estaria num pequeno bosque. Vincent explicou que se tratava de “segredo profissional” e explicou que Anne deveria ligar imediatamente para Perron.
Anne ligou para o amigo. Assustado, Henri atendeu ao telefone... Sem maiores explicações, Anne solicitou o carro com combustível para 200 quilômetros. Henri respondeu que não haveria problema, pois o carro estava abastecido e que em meia hora o deixaria à porta da casa dos Dubreuilh... Anne solicitou que se encontrassem na Place Saint-Andrés-des-Arts... Fim da ligação.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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