Joakim encontrou Mika dependurado de ponta cabeça numa macieira do quintal... “Estar de ponta cabeça”, “em cima ou embaixo” dependem de pontos de vista... Isso é relativo. O diálogo franco entre os dois possibilita essa compreensão. Os saltos gigantescos e as demais atitudes de Mika espantam Joakim num primeiro momento, mas ele aprendeu algo que nenhum adulto jamais havia ensinado... Reverenciar perguntas...
(...)
Então, de pergunta em
pergunta, reflexão após reflexão, foram se conhecendo e tratando dos mais
diversos temas... Mika aprendeu sobre o nosso planeta e os humanos, e Joakim
aprendeu sobre Eljo e os mumbos... Os dois se encantavam com o maravilhoso
“universo” que representavam... Um via que o outro era exemplar que carrega em
si muito dos elementos primordiais que forjaram a vida em seus mundos.
Perceberam que, embora diferentes, eram dotados de semelhanças...
Notaram que possuíam os mesmos sentidos e concluíram que possuí-los pode ser vantajoso
em qualquer parte do universo... Estamos tão acostumados a utilizar os nossos
sentidos que nem damos conta de sua importância... Os mumbos possuíam o sentido
de “ler o pensamento de seus interlocutores”, seu sangue não era como o dos
humanos e eles não possuíam umbigo, já que nascem de ovos... Conversaram
longamente sobre essa condição diferenciada. E principalmente sobre o milagre
da vida em ambos os planetas.
(...)
Obviamente o fictício mundo
de Mika é obra de Gaarder... A narrativa sobre o aprendizado dele sobre as
coisas de nosso planeta (surgimento da vida nos oceanos, a evolução dos micro-organismos,
anfíbios, répteis e os grandes dinossauros que tanto chamaram a atenção do
garoto espacial) poderia tornar-se enfadonha ao leitor... Mas é exatamente a
“revisão” proporcionada por ela que nos faz refletir sobre o encanto de viver e
fazer parte da natureza deste mundo. As duas crianças notam a vulnerabilidade
de seus planetas, percebem-se responsáveis por eles, por sua preservação e
também pela espécie a que pertencem.
Joakim foi aprendendo que tudo
no planeta e no universo tem alguma conexão... Somos bem pequenos e carecemos
de compreensão maior sobre o todo que nos envolve... A pergunta que fez sobre
em quê o outro crê mereceu reverência... Algum deus teria feito tudo? Mika
pediu que o amigo considerasse sua resposta “apenas uma resposta”, pois a
pergunta era muito mais importante... Completou referindo-se a tantas maravilhas
que ocorrem ao planeta, e indagou se não teria sido a ação de determinada força
que teria atraído os organismos para fora dos oceanos e dado a eles olhos e
cérebro para ver e pensar... Mika tinha muitas dúvidas, mas imaginava que os
que não creem nisso devem ter um “sentido importante” a menos.
O encontro entre os
dois garotos foi de muito aprendizado, foi o encontro de “dois mundos”... Uma
aventura, já que Joakim não podia permitir que a tia Helena se encontrasse com
Mika e fez de tudo para não causar transtornos extras...
Quem era este que veio do
espaço? Ele era apenas uma criatura que estava sonhando e logo que acordasse
desapareceria da realidade terrestre? Era um menino que pertencia ao imaginário
de um sonho de Joakim? O fato é que ele desapareceu enquanto Joakim dormia,
pois ao ser despertado pela tia Helena que vinha com a alegre notícia sobre o
nascimento do irmãozinho (outra coincidência), este notou que o amigo espacial não mais estava por
ali... Mika se foi... O irmãozinho de Joakim nasceu, e foi batizado com o nome
de Mikael...
Pronto...
O adulto Joakim escreveu um belo texto à pequena Camila... Depois ele finalizou
com a revelação sobre o nascimento do irmãozinho (ou irmãzinha) dela... Sobre
isso, ainda fez considerações sobre o encontro dos bisavós da menina há muitos
anos nas
montanhas de Jotunheim... Ninguém poderia prever, ele explicou, mas a existência da menina se
relaciona diretamente àquele momento... Contemplar o bebê recém-nascido (aquele que estava para nascer e que era irmãozinho, ou irmãzinha dela) é como “fitar
as estrelas lá do alto”. Imaginamos Camila se esforçando para finalizar o longo texto, mas feliz pela história de muito aprendizado.
Leia: Ei! Tem alguém aí? Companhia das Letrinhas.
Um abraço,
Prof.Gilberto