sábado, 17 de março de 2012

"Corações Sujos", de Fernando Morais - atuação de Tsuguo Kishimoto e eleição de Ademar de Barros

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/03/coracoes-sujos-de-fernando-morais_16.html antes de ler esta postagem:

O jornalista japonês Tsuguo Kishimoto entrou para a História como secretário de Ademar para assuntos referentes aos imigrantes japoneses. Ele era conhecido por sua participação na Revolução Constitucionalista de 1932 e por se apresentar como advogado... Kishimoto circulava tanto entre os membros da Shindo Renmei, chegando a reivindicar a presidência da associação, quanto entre autoridades policiais, sendo colaborador remunerado do DOPS e do Exército... Tratava-se de um tipo curioso, dono de uma ficha policial cheia de acusações... Uma delas era a de “informante do Eixo”... Graças à sua habilidade para lidar com situações antagônicas, conseguia alguns favores aos perseguidos membros da Shindo. Por um bom dinheiro, providenciava a libertação de prisioneiros... Fazia isso subornando servidores. O próprio Jinji Kikawa foi libertado dessa forma.
O livro destaca que a influência de Kishimoto em meio às autoridades era tal que conseguiu a expulsão de um concorrente seu, o jornalista Sak Miura. E isso por Ato do presidente da República! No início de 1946, por ocasião do episódio dos “sete samurais de Tupã”, o dirigente da Shindo, Seiichi Tomari recorreu aos préstimos de Kishimoto. Deste episódio até o mês de abril, quando a sede da associação na Rua Paracatu foi invadida pela polícia, o jornalista conseguiu se tornar o mais influente dos membros. As autoridades policiais se espantaram com as exorbitantes somas de dinheiro que ele havia conseguido com os dirigentes kachigumi para as suas ações de intermediação visando mantê-los em liberdade.
Kishimoto foi preso e isso se tornou fato que despertava grande atenção. A imprensa nacional passou a especular sobre quais seriam os segredos que ele poderia manter... É bem verdade que o DOPS lamentava o fato de ter de prender um de seus melhores colaboradores, mas não havia outra saída para a situação. A Secretaria de Segurança Pública emitiu uma nota de esclarecimento para justificar que o caso era merecedor de uma apuração rigorosa.
Porém não demorou e o nosso personagem estava em liberdade, e atuando em benefício da candidatura de Ademar de Barros em meio à comunidade nipônica. Em contato com as lideranças da Shindo presas na ilha Anchieta, seus emissários faziam com que acreditassem que o futuro governador atuaria no sentido de colocar um fim nos problemas por eles enfrentados... É claro que a Shindo era contrária aos comunistas, mas foi convencida de que a aliança era apenas provisória e necessária para obter a vitória nas eleições.
O advogado Paulo Lauro defendeu em público os presos da associação e a estratégia ademarista deu certo, tanto é que a comunidade nipo-brasileira recebeu a indicação para votar nele através de manifestos (é bem verdade que sem autoria definida, dando margem a especulações sobre uma possível manobra dos próprios correligionários ademaristas). Os pedidos de voto justificavam a simpatia do candidato à causa da Shindo e tranquilizava a todos em relação à participação comunista na chapa, deixando claro que era apenas provisória.
O próprio Ademar apareceu no presídio da ilha Anchieta para uma conversa mais próxima de convencimento que não dispensava o almoço com a “japonesada”. Eleito, Barros cumpriu sua palavra e o caso do mandato de prisão contra os makegumi Abe e Suzuki (de Osvaldo Cruz; ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2012/02/coracoes-sujos-de-fernando-morais-o_18.html), é exemplar. Ademar de Barros anunciou que, em audiência com o presidente Eurico Gaspar Dutra, solicitara a liberação dos bens confiscados aos japoneses durante a guerra. Corações Sujos mostra que entre as 25 cidades onde a Shindo possuía núcleos, Ademar saiu-se derrotado em 17.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/03/coracoes-sujos-de-fernando-morais_24.html
Leia: Corações Sujos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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