sábado, 10 de março de 2012

"Corações Sujos", de Fernando Morais - presídio da ilha Anchieta - Parte I

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2012/03/coracoes-sujos-de-fernando-morais.html antes de ler esta postagem:

Os processos contra o pessoal da Shindo seguiram... Mais de 30 mil imigrantes japoneses haviam sido detidos e registrados. O livro aponta que 1014 foram denunciados como autores ou co-autores de crimes. A Promotoria Pública exigia a punição com a perda de liberdade por períodos variados de detenção (chegando até 20 anos). Aos chefes e matadores, que somavam 190 entre os processados, o Ministério Público indicava a expulsão do Brasil.
A viagem dos detidos para a ilha Anchieta se realizava nas piores das condições que se pode imaginar. Eles se aglomeravam nos porões sufocados das embarcações. Ali mesmo resolviam suas necessidades fisiológicas. Como as condições eram insuportáveis, não eram poucos os que protestavam, porém eram silenciados com os violentos golpes de cassetetes.
O presídio também ficou abarrotado e no início havia muita tensão, pois os guardas brasileiros não queriam permitir qualquer iniciativa rebelde... Houve um episódio em que espalharam o boato de que “doze valentões” liderariam uma rebelião e se tornariam os “senhores da ilha”... Demonstrando total despreparo, os guardas escolheram 12 prisioneiros à revelia para servirem de advertência às iniciativas de levante. Foram açoitados com chicotes na presença dos demais... Naturalmente a indignação tomou conta dos que assistiam a truculência policial. Grande número de presos partiu para cima dos guardas em defesa dos compatriotas. Os guardas sofreram uma surra daquelas e a punição imposta pelo diretor do presídio aos detentos foi a “solitária”... Os japoneses só foram liberados para caminhadas acompanhados de soldados armados.
Depois desse ocorrido, a situação tornou-se menos turbulenta para a população detenta. Os japoneses, aos poucos, foram autorizados a permanecer fora de suas celas, bem ao contrário do que ocorria com outros prisioneiros. Ao iniciar o dia, voltados para o Oriente, faziam o saikerei, a reverência ao seu imperador; homenageavam os mortos de guerra e cantavam o Kimigayo (o hino de seu país). As diversas habilidades dos presos japoneses despertaram o interesse do diretor do presídio, que aproveitou-os para melhorar as condições da colônia penal.
Em pouco tempo, hortas e criações de animais foram organizadas... As refeições passaram a contar com o peixe pescado por parte dos detentos japoneses... Tanto trabalharam que logo conseguiram um excedente que era comercializado com o continente. E não era apenas na produção de alimentos que eles se destacavam...
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/03/coracoes-sujos-de-fernando-morais_12.html
Leia: Corações Sujos. Companhia das Letras.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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