quarta-feira, 7 de março de 2012

"Corações Sujos", de Fernando Morais - "Campo de Concentração em Tupã"

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2012/03/coracoes-sujos-de-fernando-morais-os.html antes de ler esta postagem:

Enquanto o tokkotai Mihabara vivia os seus dramas após o atentado que realizou, a população japonesa de Tupã sofria os mais diversos linchamentos da população. Os episódios ocorridos em Osvaldo Cruz repetiam-se nessa cidade... Em Tupã os japoneses também estavam sendo laçados, imobilizados e espancados... Muitos tiveram de se trancar por vários dias em suas casas ou estabelecimentos comerciais a fim de se livrarem dos espancamentos. Mais uma vez as tropas do Exército foram acionadas para conter os exaltados. Oficial da Reserva, o médico Armando Cravo armou-se e vestiu sua farda militar para socorrer japoneses... O derramamento de sangue se repetia e alguns japoneses procuraram de todas as formas escaparem da fúria, inclusive usando a bandeira do Brasil como manto.
As autoridades decidiram prender os imigrantes japoneses como forma de isolá-los das agressividades que vinham sofrendo. E essa iniciativa foi inspirada na atitude de Hiroshi, mecânico filho de Kenjiro Yamauchi (mentor e ideólogo da Shindo na região). Yamauchi e seu filho mais velho, Fusatoshi, estavam presos na ilha Anchieta, e era Hiroshi quem tocava a oficina do pai... Percebendo que corria riscos de morte, colocou a oficina sob a responsabilidade de Nicola Grutinik (descendente de russos) e decidiu pedir proteção no quartel.
Não demorou e as celas da delegacia e da V Companhia do Exército superlotaram de japoneses. A situação tornou-se bem grave. O delegado Benedito Veras teve a ideia de criar um “Campo de Concentração” para acolher os japoneses. O local escolhido foi o galpão onde antes funcionava o jogo de bocha praticado pelos italianos... No dia seguinte aos episódios que marcaram o massacre na cidade, o “Campo de Concentração” encontrava-se ocupado e em poucos dias tornou-se abarrotado. Cerca de oitocentos detidos dividiam pouco mais de 300 metros quadrados não totalmente cobertos.
É claro que as condições eram degradantes. Por isso mesmo as cinco mulheres detidas foram instaladas em celas da Delegacia de Polícia. Eram elas Sako Fujii, esposa do farmacêutico que cedera sua casa para que Sakane realizasse a última reunião com os tokkotai antes das ações do dia 16 de agosto; Eso Hirama, que era mãe dos tokkotai Toshio e Shigueo Hiram; Sadako Hirama, filha de Eso, moça de 21 anos que se mostrava disposta a, se necessário fosse, ingressar nas fileiras tokkotai; Toshiko Goto e Teru Shinai, acusadas de auxiliarem os tokkotai escondendo armas para eles.
Por um bom tempo o “Campo de Concentração” abrigou os detidos. Lá era tudo muito difícil e as condições de salubridade eram as piores. Mesmo assim, à noite entoavam cânticos em honra a seu país... Muitos curiosos acorriam para observar as instalações e os detidos. O Exército tomou providências para evitar aglomerações e distúrbios... Os detidos acabavam encaminhados, conforme apuravam as investigações, para o presídio na ilha Anchieta ou eram liberados para retornar ao convívio em Tupã.
Foi o juiz Antônio Porto que presidiu o processo contra a Shindo Renmei em Tupã... A cidade viveu dias de muita tensão. O Exército prosseguiu patrulhando as entradas do município e muitos agricultores tinham o caminhão barrado para averiguações num campo de futebol das proximidades... Um verdadeiro transtorno... As personalidades de Tupã encaminharam solicitações ao presidente Eurico Gaspar Dutra. Primeiro pediam que fosse criado um Campo de Concentração definitivo para os criminosos e que os demais japoneses fossem “pulverizados” por outras áreas, já que alcançavam grande contingente na cidade... Mais tarde solicitaram a Pena de Morte aos assassinos e a expulsão do país de todos os membros da Shindo Renmei.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/03/coracoes-sujos-de-fernando-morais.html
Leia: Corações Sujos. Companhia das Letras.

Um abraço,
Prof.Gilberto

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