domingo, 25 de março de 2012

"Corações Sujos", de Fernando Morais - Morre o "tokkotai" Namide Shimano

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/03/coracoes-sujos-de-fernando-morais_24.html antes de ler esta postagem:

Na ocasião em que participou da execução de Mori, Shimano saiu ferido... Seu andar capengante denunciava o episódio... Sua recuperação foi lenta e isso, de certa forma, o isolou em relação aos rumos que a seita seguia... Mesmo assim, mantinha sua disposição de cumprir o papel de eliminar “derrotistas”.
Katsuo Yagui, o Napoleão, logo soube que o confronto com os assassinos exigia uma força maior. Ele passou a contar com a proteção de Pedro Seleiro, que exercia funções policiais. Seleiro era um tipo bem conhecido na localidade de Braúna, e sua carreira policial devia-se mais ao fato de o lugar carecer de um delegado titular... Gozava da alta consideração dos japoneses makegumi, de quem era amigo... Ele até chegou a pedir ao delegado de Araçatuba a permissão para que Napoleão Yagui pudesse andar armado a fim de se proteger... Não recebeu autorização, mas não pestanejou e municiou o amigo por conta própria.
Este Seleiro era conhecido por abusar da truculência. Houve ocasião em que, ao saber do boato de recrutamento para ações da Shindo, invadiu residências japonesas com arma em punho e distribuindo bofetões... Levou alguns para a cadeia, onde passaram por sessões de intimidação e violência extremada. Também há o caso de um japonês que mantinha o retrato do presidente Vargas com uma faca traspassando o rosto... Sua casa foi invadida por Seleiro, que o surrou com chicote até deixá-lo desfigurado e estirado ao chão.
Os japoneses de Braúna passaram a respeitar Napoleão Yagui ainda mais... O respeito que demonstravam era acima do comum... Ele era constantemente visto armado, e todos os simpatizantes da Shindo temiam uma atitude vingativa de sua parte, então evitavam ter de passar por ele, ou ter de trocar palavras com ele... Todos conheciam suas qualidades de faixa preta e seu rancor em relação aos kachigumi.
No dia 30 de setembro de 1946, Pedro Seleiro ficou sabendo da reunião clandestina de um grande grupo tokkotai na cidade. Ele quis reforços da polícia de Araçatuba, mas foi autorizado a organizar a repressão, inclusive com a colaboração de japoneses makegumi.  Entre os que ele arregimentou estavam Rioji Endo (confeiteiro), Takeshi Shirikawa e Mitsuyuki Kono (lavradores). Todos eram atiradores qualificados e chegados de Napoleão Yagui que, como sabemos, tinha suas diferenças com os tokkotai.
Partiram para a expedição num caminhão . Passaram pelo bairro Perobal já pela manhã do dia seguinte, porém não encontraram seus inimigos. A seguir encaminharam-se à colônia Senador, onde encontraram uma casa que havia abrigado os tokkotai. Ali, os moradores revelaram que eles estavam no bairro São Martinho, na casa de Jiro Tetsuya.
A narrativa que passou como “oficial” é, mais ou menos, a que segue: Por volta das 10 da manhã chegaram à casa, que ficava num cafezal. Seleiro aproximou-se sozinho e ordenou que os tokkotai se retirassem, porém eles fugiram em meio aos pés de café... Houve troca de tiros e Namide Shimano foi ferido mortalmente. Seu corpo foi carregado para a delegacia de Glicério.
Mas foi realizado um exame de corpo de delito por Romeu Ferraz e pelo clínico Amir Leite... O documento, que foi destruído (garantindo, assim, que nenhuma imputação caísse sobre Seleiro e seus amigos), atestava que Namide Shimano havia sido vítima de tortura antes de morrer e que projéteis de diferentes armas o atingiram.
Corações Sujos  relata que o filho de Seleiro atesta que o tokkotai foi morto trocando tiros com o seu pai que, "pode ter chutado ou golpeado com o revólver a cabeça de sua vítima". Mas é evidente que o ódio ao kachigumi impulsionou seus algozes perseguidores...
Apenas vinte metros separam as sepulturas de Pedro Seleiro e Shimano no cemitério de Penápolis .
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/03/coracoes-sujos-de-fernando-morais-o-fim.html
Leia: Corações Sujos. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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