sexta-feira, 26 de abril de 2019

“Mayombe”, de Pepetela – reunindo reforços, armas e munição no depósito; todos à luta!; Ondina só pensa no João; as três gerações de revolucionários; no rumo da cascata, onde estavam o Chefe de Operações e outros guerrilheiros; a Base pode ter caído, mas Sem Medo segue confiante na mudança

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/04/mayombe-de-pepetela-vewe-aparece-com.html antes de ler esta postagem:

A reflexão de Sem Medo a respeito das incoerências percebidas na narrativa do jovem Vewê a respeito do ataque dos tugas à Base não durou muito mais porque logo chegaram ao depósito.
Seguiu-se uma tremenda agitação porque o comandante acelerou o jipe, buzinou e gritou o mais que pôde. Os homens foram tomando posse de suas armas... O chefe do depósito aprontou-se rapidamente para se apresentar imediatamente.
Sem Medo anunciou que a Base havia sido atacada. Explicou que levaria os guerrilheiros de jipe até o escritório político. Ordenou ao chefe que juntasse todos os civis aptos a atirar para levá-los de caminhão.
(...)
Não demorou e o caminhão encheu-se de civis... Enquanto o chefe do depósito os conduzia ao bureau, Sem Medo acomodou munições e duas metralhadoras mais leves no jipe.
Ao chegar ao bureau, os civis que estavam no caminhão desceram e cercaram o jipe. Sem Medo foi explicando que tentaria chegar à Base e adiantou que os que não se sentissem bem para a missão, ou que tivessem medo, deviam desistir ali mesmo.
Aconteceu que todos os homens se prontificaram e quiseram receber armas e munição. Isso tocou profundamente ao Sem Medo que não pôde deixar de manifestar que o MPLA possuía homens de verdade em seus quadros. Para não ser notado em sua emoção, dirigiu-se diretamente para o escritório político, onde reencontrou Ondina.
Ela ainda estava bem abalada e agarrou-lhe as mãos, implorando que fizesse de tudo para salvar o seu amado João. Sem Medo respondeu apenas que já havia lhe feito a promessa.
(...)
Sem Medo passou outras orientações ao velho Kandimba e ordenou a partida imediata.
Jipe e caminhão tomados de guerrilheiros e civis rodaram à toda velocidade. Depois de cruzarem Dolisie, seguiram pela mata em direção à fronteira.
O comandante guiava o jipe... Ao seu lado ia o Vewê. Para Sem Medo, o rapaz demonstrara coragem e inteligência ao buscar a arma e se juntar ao guarda na retirada pela montanha.
Enquanto rodavam pela estrada, Sem Medo pensava nas três gerações de guerrilheiros envolvidos na luta contra o imperialismo. Ele representava a mais velha, a mais nova estava representada pelo Vewê, enquanto que o Comissário Político pertencia à geração intermediária. Sua conclusão era a de que a geração mais nova herdaria os frutos da Revolução e, também por isso, era a melhor. Ele e o Comissário participavam como as “pedras do calçamento” da via revolucionária... Ou então das que edificariam a catedral... Mas parou as analogias neste ponto ao se perceber fazendo referências à religião.
(...)
No caminho, Vewê explicou que enquanto se retirava com o guarda encontrou o Chefe de Operações, decidiu deixá-los juntos, e partiu sozinho para Dolisie em busca do reforço. Ficou acertado que o Chefe de Operações e o pessoal que estava com ele os aguardaria na cascata, pois ele mesmo (o Chefe de Operações) tinha certeza de que o comandante não permaneceria em Dolisie depois de saber do ataque dos tugas. Sabia que traria reforços.
Sem Medo fez questão de comentar que não podia ter obtido melhor reforço, tanto em quantidade como em qualidade... Destacou que confiava nos angolanos. Todos se mostravam desconfiados, mas no momento de partir para a luta esqueciam suas divisões tribais. Então o movimento tinha esse mérito de “transformar os homens”.
De tão empolgado com o próprio discurso, Sem Medo chegou a dar um tapa na perna de Vewê. Este não se pronunciou, pois estava mais interessado em se segurar no jipe que chacoalhava para tudo quanto era lado. Depois pensou que nunca vira o comandante tão confiante... Ainda mais que podia ocorrer de ter de iniciar o seu grupamento “a partir do zero”.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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