Na sequência voltaram a fumar em silêncio... Dessa feita foi Ondina quem se pôs a contemplar o camarada que parecia muito distante e a observar o céu.
Ela viu que Sem medo era dos que se impõem pela presença, um sujeito forte... Mais do que fisicamente, era de seu espírito que parecia emanar a fortaleza. A barba conferia-lhe aspecto leonino e sua beleza também vinha da constatação de que se tratava de um homem seguro de si mesmo.
Essa segurança a intimidara na ocasião em que se conheceram. Acostumada a vencer os que tentavam conquistá-la no jogo da troca de olhares, viu que com Sem Medo o caso era bem diferente. Ele a intimidara e, talvez pior do que isso, se mostrara desinteressado pela conquista.
(...)
Apesar de ter sido rejeitada no passado, Ondina sentia
que, no momento, ele a desejava... Arriscou quebrar o silêncio ao dizer que as
mulheres deviam ter medo de amá-lo e de se sentirem presas a ele. Sua impressão
era a de que a qualquer momento ele podia abandonar o relacionamento com quem
quer que fosse.
Sem
Medo afirmou que não era a primeira vez que lhe diziam aquilo. Ondina teve a
curiosidade de saber se ele tinha noção de quantas mulheres já o haviam
amado... E isso levando em consideração as que jamais manifestaram o sentimento
que devotavam por ele. Provavelmente muitas... Certamente algumas caíram em
depressão e outras conseguiram a muito custo escapar de sua influência.
Ondina disse que achava que milhares de mulheres
deviam ter sido atraídas por ele... Sem dúvida, um exagero... Para ela, Sem
Medo era do tipo por quem a maioria delas sente atração... E talvez fosse a sua
indiferença e altivez que mais as atraíam. E por quê? Para ela, o caso se
explicava na medida em que as mulheres são masoquistas, embora desejem se
sentir valorizadas por tipos como ele.
Sem
Medo a olhou e quis saber se com aquelas palavras ela lhe fazia uma declaração
de amor. Disse que, se esse era o caso, daria um jeito de escapar
imediatamente.
(...)
Ondina
entendeu que aquela demonstração de bom humor indicava que Sem Medo estava querendo
se esquivar do desejo de se aproximar ainda mais dela. Ela riu muito ao mesmo
tempo em que percebeu um desejo incontrolável de ser possuída por ele.
Sem Medo a fitou... Ela desviou o olhar... Na sequência abraçou-a,
puxando-a para si. Logo estavam se beijando ardentemente. Depois foi o convite
para o quarto, onde trocaram algumas poucas palavras. Ele quis saber se a
lembrança do João Comissário não a incomodaria e ela respondeu que o caso já
estava superado.
Apesar de Ondina mostrar-se segura, Sem Medo entendia que
ela não era tão insensível à lembrança do João. Só depois de deixá-la muito
extasiada e de finalizar um cigarro é que partiu para a relação.
(...)
Ele a satisfez plenamente... Tratou-a com carinho ao mesmo
tempo em que se sentiu realizado... Ela sentenciou que poderia viver com ele,
pois estava claro que se entendiam muito bem. Sem Medo deixou claro que não a
aceitaria de modo algum e argumentou que seria um erro ela submeter-se a ele e
ao seu modo de ser. Principalmente porque havia se manifestado contrariamente
ao João Comissário, que se devotara totalmente a ela.
Ondina quis dizer que precisava de um homem que a dominasse...
Sem Medo sustentou que não precisava dominar ninguém e que não tinha
necessidade de obter fidelidade de nenhuma mulher. Para ele, a noite que
passaram juntos bastava. Ela seria inesquecível, e qualquer tentativa de
aproximação futura resultaria em decepções.Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/04/mayombe-de-pepetela-vewe-aparece-com.html
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto