segunda-feira, 15 de abril de 2019

“Mayombe”, de Pepetela – fim do relato do chefe do depósito; manifesto em apoio ao Sem Medo; fim do capítulo III e início do IV; nenhuma novidade nos dias subsequentes; jantando com Ondina, uma leve troca de ideias

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/04/mayombe-de-pepetela-o-chefe-do-deposito.html antes de ler esta postagem:

Em seu relato pessoal, o chefe do depósito destaca ainda que vivera com a esposa em Quibaxe e que trabalhava nas terras de um colono. Quando a guerra teve início, ingressou com a convicção de que a luta contra a exploração imperialista era o que devia ser feito por todos os nativos. Esperava que o movimento acabasse rapidamente com a exploração imperialista, mas não foi isso o que ocorreu.
Indignado, afirma que houve muita traição. Mas faz questão de garantir que seria errado colocar toda a culpa nesta ou naquela etnia. Os que traíam o movimento eram vários, de línguas e “cores” diferentes. Muitos conterrâneos fizeram acordos com a polícia política dos tugas (a Pide). Outros foram os que aproveitaram o conflito para conseguiram mais terras.
(...)
O chefe do depósito manifesta o seu apoio ao Sem Medo. Diz que concordou com as medidas que tomou e por isso fazia a guarda, acreditando mesmo que o Ingratidão cometera um crime contra o povo... O que o ajudou a fugir devia ser punido! Sua experiência de vida o levava a crer também que as palavras só têm valor quando a prática de quem as profere confirma as sentenças.
Defendendo o Sem Medo, diz que ele falava exatamente como agia, portanto, era um tipo sincero. A maioria das pessoas simples que conhecia acreditavam nas palavras como se fossem divinas... O responsável provisório por Dolisie era de outra tribo, mas isso pouco importava.
Então é isso. O chefe do depósito confiava em Sem Medo e sabia que ele estava rodeado de inimigos e de tipos que pouco o entendiam. Por isso seguiria fazendo a sua parte e obedecendo as suas ordens.
Fim do Capítulo III.

(...)

Aconteceu que os dias se passaram e nenhuma novidade chegou aos ouvidos de Sem Medo... Nem da Base nem da fronteira. Chegou a pensar que a notícia sobre os tugas no Pau Caído pudesse ser exagerada. Todavia achou por bem manter o pessoal do depósito preparado para qualquer ação.
Numa noite jantou a sós com Ondina, pois os demais guerrilheiros concentraram-se no depósito. Ela não tinha a menor ideia do alerta sobre a presença dos tugas no Pau Caído, por isso perguntou o motivo de sua preocupação. Sem Medo deu de ombros e respondeu que estava um tanto farto do lugar que era cheio de problemas menores, queixas sobre a falta de dinheiro e problemas de indisciplina. Emendou que, pelo visto, ninguém ali pensava na guerra.
Disse ainda que sempre há os que “vivem da Revolução”, e com isso quis criticar o fato de em Dolisie estarem concentrados muitos que sugavam os recursos que deviam ser destinados aos combatentes.
Ondina sugeriu uma caminhada... Sem Medo disse que não podia porque talvez alguém o procurasse para resolver qualquer assunto mais urgente. Ela observou que o André era bem diferente, pois não ficava se preocupando tanto e saía sempre que tinha vontade.
Sobre esse último comentário, sem Medo respondeu que o André não passava de um sabotador e burocrata. Acrescentou que ela jamais devia compará-lo ao outro.
Ondina percebeu que Sem Medo era mesmo um tipo frio, então pediu desculpas. Já que não podiam sair, ele sugeriu que fossem à varanda para respirar um ar mais fresco.
(...)
Sentaram-se no chão da escura varanda e observaram as estrelas... Notaram que a rua estava vazia e que eventualmente um ou outro se dirigia ao bar. Sem Medo disse que não apreciava as cidades pequenas, preferindo as maiores ou a selva.
Ondina quis corrigi-lo dizendo que o que lhe fazia mal era o trabalho no bureau. Ele não discordou, mas fez questão de dizer que o modo de vida das pessoas das pequenas cidades (onde todos sabem da vida de todos) o chateava demais.
Ela comentou que pensava mesmo que ele fugira do curso para se prender à luta... Era difícil vê-lo como economista ou burocrata de outro quilate. O havia observado à escrivaninha e notou o modo como se movimentava o tempo todo... Certamente não se realizaria num escritório.
Sem Medo adiantou que nem todos os economistas se escondem em escritórios. Por fim quis saber como ela o via.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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