domingo, 14 de abril de 2019

“Mayombe”, de Pepetela – João Comissário partiu para assumir o comando na Base; os tugas invadiram a avançada região do Pau Caído sinalizando iminente ataque

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/04/mayombe-de-pepetela-cervejas-e.html antes de ler esta postagem:

Sem Medo até pensou em seguir o Comissário. O tipo certamente teria de caminhar durante a noite e talvez fosse razoável pegar o jipe para alcançá-lo... Mas logo entendeu que estava voltando a agir como se fosse pai do rapaz, e isso era o que não mais podia ocorrer. Era melhor que ele se libertasse de uma vez.
À Ondina disse que não via maluquice nas atitudes do Comissário. É claro que estava se decidindo rápido demais para quem sempre manifestou insegurança... Acrescentou que ela devia ir se acostumando porque tudo indicava que o João estava se tornando homem de verdade. A este respeito, ela comentou que a atitude era ainda das mais infantis...
Para Sem Medo, todos acabariam vendo a mudança. Estavam ainda no começo do processo e é por isso que, na forma, as atitudes se revelavam infantis. Tudo se transformaria depois.
Ondina mostrava-se cética... Sem medo acrescentou que até podia ser que o João não progredisse o quanto esperavam, mas a maturidade não ocorreria imediatamente. O certo é que já se tornara o novo comandante da Base... Pelo menos estava a caminho de seu novo posto!
(...)
Sem Medo a convidou para o almoço, mas Ondina realmente estava preocupada com as decisões de seu ex-noivo... Quis saber se era normal continuar indiferente a tudo o que dissera e com todas as ofensas ao antigo comandante e guia.
Sem Medo explicou que não havia nenhuma ofensa em se “quebrar um mito”... Naturalmente o Comissário havia percebido que se enganara a respeito do mito que ele mesmo havia construído em torno de sua figura. O momento era de emancipação e doravante seguiria sempre adiante, como homem livre que não precisa de mitos para se realizar.
Ondina continuou sem compreender... Sem Medo explicou que às vezes nem ele mesmo conseguia compreender o seu próprio modo de pensar. Por fim disse que a conversa abrira-lhe o apetite e mais uma vez a convidou para almoçar. Ela recusou e garantiu que estava bem nervosa. Disse isso e voltou ao quarto.
(...)
Na manhã do dia seguinte um velho militante apareceu no escritório político. O homem queria falar com o responsável e estranhou quando viu o Sem Medo, que o tranquilizou dizendo que estava ocupando o posto provisoriamente.
O homem trazia a preocupante notícia sobre o avanço tuga na região do Pau Caído, onde montaram acampamento. O local, que outrora estivera sob o domínio guerrilheiro, podia render o ataque à Base, cuja localização estava a poucas horas dali.
Os tugas tinham sido vistos por uns caçadores... O velho disse que sentiu a necessidade de comunicar o comando e no caminho que percorrera acabou encontrando o Comissário, que seguia sozinho para a Base.
Sem Medo quis saber se o outro havia lhe dito qualquer coisa sobre a necessidade de comunicar-lhe a respeito da movimentação dos inimigos. O velho respondeu que não e que o Comissário disse apenas que estava bem.
(...)
Sem Medo pensou que o Comissário estava decidido a resolver sozinho este primeiro entrevero. No final das contas, era isso mesmo que se esperava dele.
Depois de se despedir do velho militante, Sem Medo pediu a um guerrilheiro que pegasse o jipe para buscar o chefe do depósito.
Demorou até que o chefe do depósito chegasse ao escritório. Nesse ínterim, Sem Medo resolveu algumas pendências deixadas pelo André. Ele também não deixou de se preocupar com a ocupação do Pau Caído porque sabia que a partir da área os tugas teriam amplas condições de barrar o abastecimento da Base, além de fechar completamente a entrada para Angola... Era de se esperar que atacassem os guerrilheiros do Mayombe.
Mas essas preocupações não deviam ser suas! Elas deviam atormentar o João Comissário, que adotara a postura de líder.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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