sábado, 27 de abril de 2019

“Mayombe”, de Pepetela – noite de desafios para os homens cansados, famintos e despreparados para o frio da selva; Mundo Novo implica com a inclusão de Vewê na longa marcha; necessidade de conhecer melhor o comandante; Sem Medo e o Chefe de Operações avançam sozinhos em direção à Base no meio da noite

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/04/mayombe-de-pepetela-o-avanco-ate.html antes de ler esta postagem:

Caminharam durante todo o dia. Não conseguiam avançar significativamente porque, além de abrirem a trilha, tinham de realizar manobras para se distanciarem do percurso que normalmente fariam... Por volta das seis da tarde chegaram à distância de quatrocentos metros da Base.
Sem Medo sentenciou que não podiam seguir mais adiante e que fariam o ataque de madrugada... Os camaradas se ajeitaram para dormir. Como saíram do depósito o mais rápido possível, sequer tiveram tempo de preparar comida. Fazia umas vinte e quatro horas que não se alimentavam. No entanto o comandante percebeu que ninguém reclamava...
A noite caía fria e nenhum dos homens possuía cobertas. Nenhum deles reclamou do frio... Talvez chovesse, mas todos pareciam preparados para os maiores desafios que a floresta oferecesse.
(...)
Mundo Novo se aproximou do comandante e puxou conversa dizendo que o grupamento havia se apressado... Sem Medo comentou que era mesmo o que tinham a fazer. O rapaz expressou sua surpresa pelo contingente arregimentado. Sem Medo disse que também não esperava juntar tantos voluntários e emendou que não podiam subestimar os militantes...
O moço quis implicar com a inclusão do Vewê entre os que fizeram a longa marcha. Disse que, desde o dia anterior, ele percorrera longas distâncias sem dormir ou se alimentar. Sem Medo concordou e disse que o esforço de seu jovem parente distante havia sido extraordinário. Todavia, salientou a coragem do rapaz e sua atitude ao colocar-se sempre junto dele... Também, de sua parte, Sem Medo disse ainda que em nenhum momento o atormentou com o que havia ocorrido anteriormente na Base.
Mundo Novo respondeu que na ocasião Sem Medo havia sido inflexível, então seria de se esperar que os dois não se entendessem... O comandante o interrompeu garantindo que o entrevero ficara para trás e, além disso, tudo indicava que o jovem havia aprendido a lição e se tornara capaz de cumprir o dever nos momentos mais difíceis.
O que Mundo Novo pretendia era incomodar Sem Medo com a discussão sobre o quanto havia errado e sido injusto com Vewê. Logo que foi interpelado a este respeito, Sem Medo o despachou.
(...)
Mundo Novo viu que o comandante o dispensara... Pensou no Sem Medo... Que tipo de homem era ele? Não poderia ser enquadrado num esquema específico... Via-se que apreciava as aventuras e que não perdia a oportunidade de se engajar em uma. Faltavam elementos para entendê-lo, e talvez por isso não conseguisse aceitá-lo totalmente.
Voltou-se e disse que ainda conversariam com mais calma. Disse também que não tinham a mesma linguagem e por isso precisariam se entender melhor de algum modo. Sem Medo respondeu que já fazia algum tempo que não acreditava nas palavras... Até poderiam voltar a se falar, mas no momento estavam bem perto da Base e tinham uma tarefa complexa pela frente.
(...)
Sem Medo se aproximou do Chefe de Operações e lhe revelou que pretendia chegar mais perto da Base. O outro observou que se tratava de operação das mais temerárias, mas decidiu seguir com ele.
Tiraram as botas e caminharam com todo o cuidado, pois havia o problema de pisarem em gravetos secos que podiam denunciar a movimentação. Sem Medo sentiu falta de dar umas tragadas, mas evidentemente não podiam fumar. Nem mesmo o amargo de uma folha que passou a mascar tirou-lhe a vontade de um cigarro.
Depois de meia hora chegaram ao rio... Tinham vencido apenas cem metros da tensa caminhada. O comandante sussurrou que deviam “subir o rio”. O Chefe de Operações nada respondeu e colocou-se a caminho. Pelo menos a margem era limpa... Percorreram mais uns duzentos metros, evitando as pedras e analisando bem o solo antes de pisá-lo.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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