domingo, 28 de abril de 2019

“Mayombe”, de Pepetela – movimentação e vozes sussurradas na Base indicavam que os tugas esperavam um contra-ataque; Mundo Novo se insere no Comando com naturalidade; visões e incertezas durante a madrugada; início do relato pessoal do Chefe de Operações

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/04/mayombe-de-pepetela-noite-de-desafios.html antes de ler esta postagem:

Mais meia hora havia se passado e os dois se deitaram não distante da elevação que ia dar na Base. De onde estavam puderam ouvir vozes abafadas... Permaneceram deitados bem próximos um do outro por uns quinze minutos. Isso serviu também para que descansassem dos percursos que fizeram.
Sem Medo fez sinal para a retirada. Do que puderam constatar, além da certeza de que havia movimentação na Base, não conseguiram identificar as vozes ou compreender o que se dizia.
(...)
Como fizeram o caminho de volta mais rapidamente, levaram cerca de meia hora para se juntarem aos demais guerrilheiros. Novamente se deitaram um ao lado do outro.
Mundo Novo e o chefe do depósito se aproximaram... O rapaz quis saber sobre o que haviam apurado. Sem Medo fez um breve relato. O Chefe de Operações disse que os inimigos deviam estar se preparando para o contra-ataque. Acrescentou que normalmente o comportamento deles era bem mais barulhento quando dominavam algum aparelho do movimento.
Mundo Novo quis saber a que distância haviam chegado da Base e concordou que os inimigos deviam estar à espera de ataque. Sem Medo salientou que desde onde ficaram era praticamente impossível ver a Base ou a movimentação... Também não viram qualquer sinal de iluminação. A falésia não favorecia a espionagem... O chefe do depósito comentou que tinham de contar apenas com o que podiam ouvir.
Sem Medo deixou claro que despertariam os homens às cinco da manhã... Fariam o mesmo caminho e, como eram muitos, talvez levariam mais de uma hora para concluir o trajeto. O Chefe de Operações deu opinião contrária, pois achava que o melhor seria partirem à luz do dia, e mais rapidamente. Mundo Novo lembrou que a claridade do dia começava a partir das seis, então concordou com a estratégia do comandante.
Sem Medo ouviu com atenção e entendeu que o rapaz estava se encaixando no Comando de modo natural... De sua parte, via com satisfação que tudo vinha se resolvendo satisfatoriamente para o bom prosseguimento da luta.
(...)
Precisavam dormir e por isso sugeriu que os camaradas fizessem isso. Mas ele mesmo não conseguiu adormecer totalmente... Despertava constantemente sempre que visualizava em pensamento a figura de Leli misturada à de Ondina e também ao João Comissário.
Particularmente sobre o camarada Comissário Político, o atormentava o fato de não ter certeza de seu paradeiro. Estaria morto ou feito prisioneiro? Talvez tivesse escapado e se perdera na selva... Sem Medo se viu torcendo para que a última hipótese fosse a carreta...
Depois ainda mais se angustiou ao querer entender como que o Comissário e o Muatiânvua se enganaram e partiram para cima dos inimigos em vez de escaparem para a montanha como fez o Vewê.
Esse seu tormento durou todo o tempo... Sem conseguir uma conclusão satisfatória, sofreu calafrios até que o rosto de Leli o despertava... Depois era o de Ondina a trazer-lhe um pouco de paz... Com ela vinha o João.
Assim sua angústia só aumentou conforme a madrugada avançou.

(...)

Na sequência conhecemos uma narrativa pessoal do Chefe de Operações...
Também ele ficou sem dormir. Os registros dão conta de que ele percebeu que o Sem Medo, que estava bem ao seu lado, não conseguia dormir. Apesar da proximidade, não podiam falar um com o outro.
O Chefe de Operações deixou claro que não era apenas por causa dos perigos que cercavam a ação... Na verdade, ele levava em consideração a diferença que havia entre ambos... Sem Medo era um intelectual. E ele vinha de uma família de camponeses dos Dembos, onde todos eram miseráveis.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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