As dificuldades do caminho tornavam a viagem perigosa. A todo momento os solavancos agrediam os músculos e ossos dos guerrilheiros... Os ramos pontiagudos dos arbustos mais próximos os atingiam com violência. Mesmo assim todos pediam para Sem Medo acelerar ainda mais.
Ao chegarem ao ponto de mata mais fechada, já bem próximos da fronteira, pararam os veículos e os esconderam com ramos e capim. O comandante anunciou que seguiriam em coluna até a cascata para encontrar o Chefe de Operações e seu grupo. Mais uma vez vociferou que os que não estivessem preparados deviam desistir. Ninguém quis abandonar a tarefa...
(...)
Sem Medo impôs forte ritmo ao avanço...
Enquanto marchava, pensava em Ondina e no prazer que
ela havia lhe proporcionado. Não tinha dúvida de que se tratava de uma
esplêndida mulher... Era certo que não queria mais nada com o João, pois não desejava
que sofresse... Muita dignidade de sua parte. Mas ela não podia esconder que
ainda o amava, pois isso era o que vinha pautando suas atitudes. Ela se
patrulhava com receio de comprometer o futuro de seu relacionamento... Quem
sabe se não reataria com o João?
(...)
Depois
de duas horas alcançaram a cascata... Aquele sítio marcava a fronteira.
O sol que iluminava o Mayombe fez Sem Medo pensar no
próprio futuro... Tinha certeza de que aquele não seria mais o seu palco de
atuação. Trocaria a paisagem de inúmeros tons de verde por outras de tons
amarelados do Centro... Talvez do Sul...
(...)
Entre
os que acompanhavam o Chefe de Operações estava o Mundo Novo. Os dois
grupamentos se cumprimentaram com largos abraços.
O
Chefe de Operações explicou que não fizera o reconhecimento durante a
noite/madrugada... Vewê havia aparecido à meia-noite mais ou menos... Pouco
antes tinham chegado às proximidades do Pau Caído e concluíram que os tugas
estavam mesmo na região... O dado preocupante era saber que os caminhos do
entorno estavam minados. Como avançaram até aquele ponto?
Então era de se perguntar também como foi que os inimigos
chegaram à Base. O Chefe de Operações simplesmente não entendia. Uma explicação
pouco provável seria a de que eles conheciam um “caminho misterioso” que os
guerrilheiros ainda não haviam percorrido. Outra seria uma traição... E neste
ponto ele fez questão de lembrar que Lutamos saíra para caçar.
Sem Medo percebeu a insinuação e perguntou se ele ainda
desconfiava do Lutamos... Depois da resposta afirmativa, o comandante redarguiu
que dificilmente se enganava sobre os guerrilheiros, e que pressentia que o
camarada Lutamos não era um traidor.
O Chefe de Operações questionou que, se Sem Medo tinha
razão, precisavam procurar outra explicação para o avanço tuga. Ele emendou que
estava com nove homens na cascata... Sem Medo explicou que trazia outros trinta
e que tal contingente era mais que suficiente para avançar contra a Base e
eliminar os inimigos, se ainda estivessem lá.
Para
o Chefe de Operações, dificilmente encontrariam tugas na Base porque eles não
tinham o costume de permanecer por muito tempo nas instalações que invadiam.
Mas como sequer sabiam como os inimigos haviam chegado ao
aparelho, não podiam descartar que ainda estivessem lá.
(...)
O grupamento tornou-se bem maior e tomou o rumo da
Base. O Chefe de Operações chamou a atenção do comandante ao dizer que ele
devia se posicionar no meio da coluna, e não na dianteira, pois os caminhos
podiam guardar emboscadas.
Sem
Medo respondeu que aquilo era uma bobagem, mas o outro insistiu que ele era
muito importante para a ação e para o movimento... Quem é que poderia garantir
que não houvessem minas instaladas pelos inimigos?
O Chefe de Operações tomou a frente e seguiu limpando a
passagem a golpes de catana... Sem Medo colocou-se mais atrás, depois de vários
guerrilheiros.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/04/mayombe-de-pepetela-noite-de-desafios.html
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto