sábado, 27 de abril de 2019

“Mayombe”, de Pepetela – o avanço até a cascata; última ação em meio às paragens verdejantes?; o Chefe de Operações apresenta suas desconfianças em relação à movimentação tuga até o Pau Caído e suas suspeitas em relação ao Lutamos; rumando para a Base em coluna, Sem Medo é posicionado no meio dos camaradas

Talvez seja interessante retomar https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2019/04/mayombe-de-pepetela-reunindo-reforcos.html antes de ler esta postagem:

As dificuldades do caminho tornavam a viagem perigosa. A todo momento os solavancos agrediam os músculos e ossos dos guerrilheiros... Os ramos pontiagudos dos arbustos mais próximos os atingiam com violência. Mesmo assim todos pediam para Sem Medo acelerar ainda mais.
Ao chegarem ao ponto de mata mais fechada, já bem próximos da fronteira, pararam os veículos e os esconderam com ramos e capim. O comandante anunciou que seguiriam em coluna até a cascata para encontrar o Chefe de Operações e seu grupo. Mais uma vez vociferou que os que não estivessem preparados deviam desistir. Ninguém quis abandonar a tarefa...
(...)
Sem Medo impôs forte ritmo ao avanço...
Enquanto marchava, pensava em Ondina e no prazer que ela havia lhe proporcionado. Não tinha dúvida de que se tratava de uma esplêndida mulher... Era certo que não queria mais nada com o João, pois não desejava que sofresse... Muita dignidade de sua parte. Mas ela não podia esconder que ainda o amava, pois isso era o que vinha pautando suas atitudes. Ela se patrulhava com receio de comprometer o futuro de seu relacionamento... Quem sabe se não reataria com o João?
(...)
Depois de duas horas alcançaram a cascata... Aquele sítio marcava a fronteira.
O sol que iluminava o Mayombe fez Sem Medo pensar no próprio futuro... Tinha certeza de que aquele não seria mais o seu palco de atuação. Trocaria a paisagem de inúmeros tons de verde por outras de tons amarelados do Centro... Talvez do Sul...
(...)
Entre os que acompanhavam o Chefe de Operações estava o Mundo Novo. Os dois grupamentos se cumprimentaram com largos abraços.
O Chefe de Operações explicou que não fizera o reconhecimento durante a noite/madrugada... Vewê havia aparecido à meia-noite mais ou menos... Pouco antes tinham chegado às proximidades do Pau Caído e concluíram que os tugas estavam mesmo na região... O dado preocupante era saber que os caminhos do entorno estavam minados. Como avançaram até aquele ponto?
Então era de se perguntar também como foi que os inimigos chegaram à Base. O Chefe de Operações simplesmente não entendia. Uma explicação pouco provável seria a de que eles conheciam um “caminho misterioso” que os guerrilheiros ainda não haviam percorrido. Outra seria uma traição... E neste ponto ele fez questão de lembrar que Lutamos saíra para caçar.
Sem Medo percebeu a insinuação e perguntou se ele ainda desconfiava do Lutamos... Depois da resposta afirmativa, o comandante redarguiu que dificilmente se enganava sobre os guerrilheiros, e que pressentia que o camarada Lutamos não era um traidor.
O Chefe de Operações questionou que, se Sem Medo tinha razão, precisavam procurar outra explicação para o avanço tuga. Ele emendou que estava com nove homens na cascata... Sem Medo explicou que trazia outros trinta e que tal contingente era mais que suficiente para avançar contra a Base e eliminar os inimigos, se ainda estivessem lá.
Para o Chefe de Operações, dificilmente encontrariam tugas na Base porque eles não tinham o costume de permanecer por muito tempo nas instalações que invadiam.
Mas como sequer sabiam como os inimigos haviam chegado ao aparelho, não podiam descartar que ainda estivessem lá.
(...)
O grupamento tornou-se bem maior e tomou o rumo da Base. O Chefe de Operações chamou a atenção do comandante ao dizer que ele devia se posicionar no meio da coluna, e não na dianteira, pois os caminhos podiam guardar emboscadas.
Sem Medo respondeu que aquilo era uma bobagem, mas o outro insistiu que ele era muito importante para a ação e para o movimento... Quem é que poderia garantir que não houvessem minas instaladas pelos inimigos?
O Chefe de Operações tomou a frente e seguiu limpando a passagem a golpes de catana... Sem Medo colocou-se mais atrás, depois de vários guerrilheiros.
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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