O italiano Vamparazzo disse muito mais ao Miro em sua tentativa de convencê-lo a participar de seu projeto...
Ele contou que, por ocasião da “crise do café”, comprou muitas terras e tornou-se o gomem mais rico e influente de Marilândia... Foi prefeito de Marilândia... Era muito grato à terra e ao povo do lugar.
Disse que fazia cinco anos que havia se tornado viúvo e que, desde então, dedicava-se à sua fazenda e a fazer o bem ao povo de Marilândia...
Ao lembrar-se de sua Rosalina as lágrimas vieram-lhe às faces.
(...)
Vamparazzo estava emocionado ao concluir a sua falação... Então chegou o
momento de anunciar que tudo o que estava disposto a fazer exigia uma
“contrapartida”.
Ele passou a falar que logo estaria morto e que não
podia deixar sua única filha, Marieta de Santa Luccia, desamparada...
Definitivamente a sua Marieta merecia “um doutor, um homem limpo e sério”...
Alguém como Miro!
Miro nem podia fazer qualquer consideração que o comendador emendava as
excelentes qualidades de sua filha, uma santa, encantadora, meiga... “Meio
sonsa, mas prendada”... Muitos quiseram se aproximar dela por causa da fortuna
que ele deixaria, porém foram todos rechaçados.
(...)
E então, o que Miro poderia fazer?
É claro que ele nem pensava em se casar... Mas a sua recusa poderia
significar o fim de qualquer possibilidade de possuir a clínica, tornar-se
médico de verdade, ajudar as pessoas... Reiniciar a vida... Era isso o que ele
precisava!
Os dois acertaram um jantar na casa de Vamparazzo para a noite que se
avizinhava... Marieta prepararia os pratos...
Cristino, o chofer,
chegou... O italiano o orientou a levar o doutor à hospedaria e a pegá-lo
novamente pouco antes das nove da noite e levá-lo à sua casa. Ele nem precisava
se preocupar porque as corridas seriam pagas pelo comendador...
(...)
O caminho de volta para a
hospedaria foi de muita conversa... O chofer até passou a achar o doutor bem
“mais claro”... É claro, o amigo do comendador merecia toda a sua
consideração...
Cristino já nem se
lembrava de ter se escandalizado quando deixou Miro na zona do meretrício.
A sequência desses acontecimentos fica para depois...
(...)
Faustino aproveitou para
fazer certo suspense ao mesmo tempo em que possibilitou situações bem
sustentadas em fatos (e personagens) reais que não podiam ficar de fora de seu
romance histórico...
A ideia da “alternância de cenários” permite a
aproximação de outros quadros sociais dos tempos de Revolução
Constitucionalista em São Paulo... Garante a “audição de outras vozes”.
(...)
Sabemos que o rádio exerceu grande influência sobre os paulistas ao
tempo da Revolução de 1932... A campanha contra Vargas era intensa... Os
ouvintes aprendiam que as tropas constitucionalistas eram dedicadas, estavam “do
lado do bem” e seus soldados eram destinados ao martírio, a se tornarem
heróis...
Poesia, música, hinos e discursos se sucediam nas
programações.
Não foram poucos os que, inflamados pela propaganda política, sobretudo
aquela que era difundida pelo rádio, decidiram ingressar nos batalhões...
Quem estava sempre ligada à programação e mensagens radiofônicas era
Maria, “cozinheira e quituteira de mão cheia”.
(...)
Maria José Barroso nasceu na cidade de Limeira, interior de São Paulo,
no final de 1901... Ainda adolescente viajou para a capital para trabalhar na
casa de uma rica família que vivia na Rua Maranhão, no Bairro de Higienópolis.
Giovana, “uma loira
quarentona”, esteve em Limeira visitando a mãe e aproveitou para convencer
Maria a se mudar... Ela era governanta numa mansão próxima à casa onde Maria
passaria a trabalhar.
Pode até ser que Giovana tenha sido incumbida por
sua patroa de conseguir uma negra do interior para servir de cozinheira na casa
de amigos... Quem sabe? Mas isso pouco importa. O que mais interessa passaremos
a conhecer na próxima postagem.
Leia: A
Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto