O rádio anunciou que o poder pertencia à elite paulista... Os verdadeiros donos do poder o reconquistariam à força. E isso não bastaria para justificar a mobilização paulista?
Maria precisava entender aquela situação... É claro que era paulista... Mas não pertencia à elite... Ela se lembrava de uma ocasião quando foi barrada no “Clube Elite”, numa cidade vizinha a Limeira, por ocasião de um “Baile da Primavera”... Pretos não podiam participar...
Todavia os dias de preparação para a revolução eram também “aglutinação”... E não era por acaso que o rádio propagava que a Legião Negra “é a elite da população negra”, que dava o “seu sangue para defender São Paulo”.
O raciocínio de Maria era simples... Os pretos também podiam fazer parte da elite desde que ingressem na Legião.
(...)
No dia 9 de julho a revolução teve início... Na manhã daquele sábado os
coronéis Euclydes Figueiredo e Palimércio de Rezende chegaram à capital... Não
demorou e o quartel general da 2ª região militar (que tinha lugar na Chácara do
Carvalho) tornou-se “QG do Exército Revolucionário Constitucionalista”.
Ao final do dia todas as rádios tinham algum controle
de rebeldes civis... À meia-noite foi transmitida uma mensagem em cadeia...
Faustino apresenta o registro:
De acordo com a Frente
Única Paulista e com a unânime aspiração do povo de São Paulo e por
determinação do general Isidoro Dias Lopes, o coronel Euclydes Figueiredo acaba
de tomar de assalto o comando da 2ª Região Militar, tendo como Chefe do Estado
Maior o coronel Palimércio de Rezende. A oficialidade da região assistiu,
incorporada no QG, à posse do coronel, nada havendo ocorrido de anormal. Reina
em toda a cidade intenso júbilo e o povo se dirige, em massa, aos quartéis
pedindo armas para a defesa de São Paulo.
O dia seguinte foi de tomada de posições... Toda a cidade estava repleta
de militares... Bertoldo Klinger também havia chegado de Mato Grosso conforme
prometera... De fato trouxe alguns oficiais, mas nada de tropas ou canhões.
Klinger e Figueiredo recebiam comando de Isidoro Dias Lopes, o veterano general
que havia liderado a revolta de 1924 e participado da Coluna Prestes... Todos
se encheram de confiança na vitória... O Exército Revolucionário foi reforçado
pela incorporação da Força Pública paulista... Miguel Costa, que comandava essa
Companhia acabou sendo preso. Essa iniciativa foi um claro recado ao presidente
Vargas, que havia nomeado Costa para a chefia da Força Pública.
Francisco Morato, o presidente do Partido Democrático que as lideranças
paulistas esperavam ver indicado interventor, tornou-se o “comandante supremo”
da Junta Revolucionária...
Também Pedro de Toledo, nomeado
por Vargas, debandou para a Junta Revolucionária... Vargas telefonou-lhe para
saber sobre o que estava acontecendo na capital paulista... Toledo explicou-lhe
que renunciara o cargo de interventor... Os revolucionários o aclamaram “governador
civil” da Revolução.
(...)
Os dias de sossego de Miro
em Marilândia Paulistas chegaram ao fim...
Não parecia que isso
ocorreria em algum momento... O trabalho na clínica ia tão bem que ele até
tinha contratado duas auxiliares de enfermagem e um motorista para a
ambulância...
O comendador o tratava muito bem... Suas tardes eram sempre muito
agradáveis e podiam trocar ideias em italiano por longas horas enquanto experimentavam
vinhos e iguarias da terra de Verdi.
Ao mesmo tempo em que Vamparazzo
falava-lhe a respeito de seu cansaço, sugeria que poderia voltar a se
candidatar a prefeito, ou mesmo lançar a candidatura do doutor...
Também os habitantes da
pequena cidade pareciam querer-lhe bem... Tanto é que viviam a convidá-lo para
apadrinhar seus filhos, para fazer parte da comissão organizadora da festa do
padroeiro, ou para “ingressar na sociedade dos homens justos”...
Aconteceu que depois de um ano do casório com a
filha de Vamparazzo, alguns boatos sobre a vida do doutor Miro começaram a
circular... Para alguns, ele havia aplicado o “golpe do baú” já que aparecera
do nada e tornou-se um tipo prestigiado socialmente... Para outros, era a filha
do comendador que “conseguiu desencalhar” ao casar-se quando não passava de “solteirona
desprezada”.
Leia: A
Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto