sábado, 11 de abril de 2015

“A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”, de Oswaldo Faustino – Maria acompanhará a patroa à Junta de Alistamento; coronel Euclydes Figueiredo no comando das tropas paulistas; Palimércio de Rezende, seu “braço direito”; o médico Adhemar de Barros e sua curiosa trajetória política; algumas personalidades se identificam mais com o poder do que conseguem lidar com o povo

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/04/a-legiao-negra-luta-dos-afro_10.html antes de ler esta postagem:

Maria caminhava ao lado da patroa no imenso terreno da mansão...
As conversas entre os amigos durante os jantares eram uníssonas, todos concordavam que o governo Vargas representava um retrocesso e que os paulistas eram perseguidos pelo presidente... Todos exigiam uma nova Constituição, eleições e o fim da imposição de interventores de outros estados.
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Mas vimos que Vargas contava com simpatizantes também em São Paulo... Tanto é que os manifestantes mais radicais de 23 de maio partiram para o ataque às sedes das organizações que apoiavam o presidente Vargas (o Partido Popular Paulista e a Legião Revolucionária).
As mortes de Martins, Miragaia, Camargo e Dráusio (este faleceu alguns dias depois) foram consequência de confronto em que até granadas foram atiradas contra a multidão...
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A guerra foi deflagrada... O movimento MMDC mobilizou a sociedade... Também as mulheres foram convocadas ao alistamento.
Os patrões de Maria eram idealistas. Nota-se que estavam sinceramente motivados. Disponibilizar os empregados à causa era uma demonstração de seu compromisso com MMDC.
Maria caminhava, ouvia a patroa e entendia que era claro que eles estavam dispostos a cedê-la ao movimento revolucionário... Ela devia se alistar para contribuir com os combatentes constitucionalistas e permanecer fiel aos patrões?
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Não era sem razão que em seus pensamentos problematizava a situação.
Ela gostaria de entender por que Vargas era mais odiado pelos ricos...
Naquela mesma manhã ela ouviu que até mesmo os conterrâneos do presidente, ministros gaúchos, abandonavam o governo por não aguentarem o “descumprimento das primeiras promessas”... Maria também queria entender os motivos de tanto desentendimento entre os que o apoiavam.
Graças ao rádio, a humilde cozinheira ficou sabendo que um dos chefes da infantaria do exército paulista que se organizava para a guerra seria um negro do Rio Grande do Sul... Será que sua patroa tinha ideia de quem era o coronel Palimércio de Rezende?
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Faustino registra que as “Memórias” do coronel Euclydes Figueiredo, homem forte do comando paulista, foram dedicadas a Palimércio de Rezende.
Figueiredo era natural do Rio de Janeiro... Ele se recusara a apoiar o movimento militar que colocou fim à República Velha no final de 1930... E foi a partir de suas conversas com Francisco Morato, Paulo de Morais Barros e Júlio de Mesquita, que “aceitou comandar a revolta de São Paulo”.
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Também foi graças ao rádio que Maria ficou sabendo que forças outrora antagônicas se aliaram para lutar contra o ditador... Foi formada a Frente Única Paulista, que reunia o antigo PRP (Partido Republicano Paulista), que era vinculado ao esquema político da “Política do Café com Leite” e concentrava a antiga oligarquia, e o PD (Partido Democrático), que concentrava a “burguesia industrial emergente” e havia apoiado a Aliança Liberal (dois anos antes, essa chapa política de oposição ao candidato oficial, Júlio Prestes do PRP, que lançou Vargas).
De acordo com Faustino, a Frente Única Paulista: “defendia a convocação imediata de eleições, a elaboração de uma nova constituição e, no mínimo, que o próximo interventor de São Paulo fosse um civil e, principalmente, paulista”.
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Na verdade, em março Vargas promulgou código eleitoral que determinava mudanças substanciais (como o voto secreto obrigatório e o direito ao voto feminino), além disso, foi instituída uma comissão para preparar o anteprojeto de Constituição... Estava praticamente acertado que no ano seguinte ocorreriam eleições.
Nem Maria nem os assíduos ouvintes das transmissões radiofônicas ficaram sabendo dessas iniciativas do presidente... Por que será?
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Em vez disso, o rádio divulgava com empolgação que as tropas de Mato Grosso, comandadas pelo general Bertoldo Kingler, apoiariam as forças rebeldes paulistas... E o reforço não era nada desprezível, já que prometiam o envio de milhares de soldados e centenas de canhões.
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A patroa ouviu Maria confirmar que seguiria com ela até o posto de alistamento...
Assim que terminaram de passear, Maria se dirigiu ao quartinho. Ela ligou o radinho que transmitia o nervoso pronunciamento do médico Adhemar Pereira de Barros contra Getúlio e sua política de massacre contra São Paulo...
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Algumas considerações finais ressaltadas por Faustino:
Em 1938, esse mesmo Adhemar aceitou sua nomeação como interventor de São Paulo pelo presidente (ditador durante a fase do “Estado Novo” – 1937-1945). Anos mais tarde governou o estado por duas legislaturas... Inclusive ao tempo do golpe militar de 1964.
O coronel Figueiredo também é personagem controverso... Ele ficou conhecido por ter combatido os miseráveis do Contestado (entre o fim de 1912 e agosto de 1916, na região de litígio entre Paraná e Santa Catarina), e também os combatentes do Forte de Copacabana (revolta dos 18 do Forte, em 1922).
Sobre o coronel Palimércio, o velho Tião em seu branco de praça poderia se lembrar de sua visita à Chácara do Carvalho e sua revista às tropas... Mas é claro que ele não era da Legião... O homem era “braço direito” do coronel Euclydes Figueiredo.
João Baptista Figueiredo, filho do coronel Euclydes, foi o último presidente da época da ditadura militar (governou entre 1979 e 1985)... Saiu do cenário político garantindo que preferia o cheiro de seus cavalos ao do povo...
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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