segunda-feira, 13 de abril de 2015

“A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”, de Oswaldo Faustino – para Miro, a sociedade é aberta aos que se esforçam e querem vencer na vida; cegado pelo preconceito, não se permitiu conhecer as ideias da FNB; a Frente Única desejava Francisco Morato como interventor; após o nome de Pedro de Toledo, o rádio vocifera contra a ditadura

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/04/a-legiao-negra-luta-dos-afro_12.html antes de ler esta postagem:

Há muita gente que se parece com Miro e que comunga com o seu modo de pensar...
Para ele, os brancos não eram preconceituosos, e o fato de os negros se reunirem em clubes específicos só podia significar que eles é que eram os racistas... De acordo com as suas ideias, não havia nenhum impedimento para a integração, pois a sociedade sempre está “de braços abertos” e pronta para reconhecer e gratificar “aqueles que se esforçam” e que querem vencer...
Miro nem mesmo refletia sobre a rejeição que sofrera quando tentou ingressar na Faculdade de Direito... Ele não se considerava negro... Em vez disso, assumia a condição de “moreninho” que tinha a pele temperada por sua bisavó indígena, aquela que havia resistido à escravidão.
(...)
Certa vez Salim chegou a Marilândia Paulista com muitas mercadorias trazidas de São Paulo... Miro o esperou na estação.
Era outubro de 1931 e, entre as suas bugigangas, trazia também um exemplar do primeiro boletim da Frente Negra, que tinha sido fundada no mês anterior.
O mascate havia ficado muito bem impressionado com o que havia lido... Ele até participou de algumas reuniões da entidade e ficou sinceramente empolgado com os líderes.
Ele trouxe o jornalzinho especialmente para Miro porque imaginava que ele se interessaria pelo movimento... Mas aconteceu que enquanto se encaminhavam para a portaria da hospedaria Paraíso, o doutor deu um jeito de se livrar do material... Ele menosprezou o boletim tão logo identificou o objetivo da entidade estampado na capa: “a elevação moral, intelectual e profissional e assistência, proteção e defesa social, jurídica e econômica da gente negra”.
Era a palavra “negra” que lhe provocava repulsa... Talvez, se se dispusesse a folhear o boletim, teria concordado com algumas das ideias monarquistas de Arlindo Veiga dos Santos, o presidente da FNB.

(...)

Como sabemos, a capital estava em polvorosa...
Às vésperas do comício da noite de 23 de maio, o rádio destacava aos ouvintes que as boas famílias paulistanas (as elites) pressionaram os interventores e eles se demitiram:

                    São Paulo não admite a tutela de ninguém. Nenhum “estrangeiro” ou militar vai prevalecer sobre a gente paulista. Viva São Paulo! Viva! Viva!

Oswaldo Aranha, ministro do governo Vargas foi recebido com vaias no evento de 22 de maio... Isso significa que a tentativa governista de acalmar os ânimos dos opositores paulistas não deu certo...
Faustino destaca que o entrevero do dia 23 teve início na Faculdade de Direito... Bem antes da investida radical contra as associações fiéis a Vargas, jovens empunharam armas e efetuaram disparos para o alto quando ainda se encontravam no Largo São Francisco.
(...)
Maria tinha dificuldade ao tentar entender a situação... Afinal, de acordo com o seu juízo, bastaria o governo “nomear um interventor paulista e civil”... A Frente Única se aquietaria...
A empregada ficava dividida na situação... Também era verdade que não suportava ouvir insultos contra o presidente... Reconhecia que ele também devia ter boas intenções.
(...)
O presidente do Partido Democrático, doutor Francisco Antônio de Almeida Morato (também professor da Faculdade de Direito, promotor público e deputado) alimentava expectativas de ser nomeado o próximo interventor. Mas Vargas anunciou o nome de Pedro Manuel de Toledo (embaixador na Argentina; ex-ministro do governo Hermes da Fonseca).
Pedro de Toledo era paulista... Mas o pessoal da Frente Única entendia que o nome de Francisco Morato sinalizaria uma “conciliação”...
Não era por acaso que o rádio bradava:

                    Enfim, um interventor paulista e civil, ligado à oligarquia (...) mas agora é tarde (...) a palavra de ordem é: “derrubar a ditadura”. O poder deve ser devolvido aos seus verdadeiros donos, a elite paulista.

Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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