quarta-feira, 22 de abril de 2015

“A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”, de Oswaldo Faustino – rosto negro refletido na vidraça; uma visão da mãe, um pedido de perdão; reconciliação com a própria identidade e carta a Berenice; a crise econômica de 1929 e a falta de trabalho para os estivadores de Santos

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/04/a-legiao-negra-luta-dos-afro_18.html antes de ler esta postagem:

Logo que chegou à Baixada Santista, Miro se sentiu novamente sem rumo...
Parou diante de uma loja e viu a sua imagem refletida na vidraça. Talvez, pela primeira vez em sua vida, prestasse atenção ao próprio rosto... Mesmo sem ter conhecido o pai, acreditava que fosse parecido com ele... Mas o que viu refletido o fez pensar em Benê, sua mãe que definhou no hospital psiquiátrico, por quem ele sentia a mais profunda aversão.
Depois de muitos anos, Miro se viu referindo-se a Benê como sua mãe... Então lágrimas saltaram-lhe dos olhos.
(...)
Miro arrependeu-se por todo mal que havia causado à mãe... Enfim assumiu que, em vez de desprezá-la, devia tê-la amado... Ele se emocionou porque naquele momento (é verdade que tardiamente) o seu sentimento era todo amor, mas não teria como manifestar o seu arrependimento...
Enfim ele reconhecia que Benê havia sofrido muito...
(...)
Recém-chegado a Santos, Miro teve uma visão...
A imagem da mãe surgiu em sua mente... Ela abria os braços... Ele também manifestou o desejo de abraçá-la. Então fez isso e pediu perdão “por tê-la matado em vida”... Disse ainda que agora estava convicto que bastaria um gesto seu e a mãe seria retirada do hospital para viver na casa da madrinha, a dona Berenice.
Miro estava delirando... Junto à parede da loja, foi escorregando até ficar prostrado na calçada.
Passou algum tempo e ele teve certeza de ter ouvido a mãe preocupada perguntar-lhe se estava passando mal.
Na verdade tratava-se de uma idosa que passava pelo local e ficou compadecida pelo estado lastimável daquele desconhecido... De fato, Miro estava despertando a curiosidade de muitos que passaram por ele, mas no máximo, assim que o viam, os transeuntes lançavam críticas ao alcoolismo e aos viciados...
(...)
Já era noite quando Miro despertou de sua alucinação... Agradeceu a bondosa senhora e disse que devia ter sofrido algum mal estar... A mulher insistiu, pois queria ajudá-lo, mas ele se levantou e se despediu para procurar um lugar onde pudesse se instalar...
Tudo o que Miro encontrou foi uma pensão num beco suspeito, onde prostitutas procuravam clientes...
Foi num dos quartos da “pensão de alta rotatividade” que ele se ajeitou como pôde... Acomodou-se e voltou a pensar na “visão” que tivera da mãe, então resolveu escrever uma carta para a tia Berenice. Sua intenção era a de revelar-lhe que, enfim, havia reconhecido a própria mãe.
(...)
Foi com desmedida emoção que a já idosa Berenice leu a carta do afilhado... Até então ela nem sabia dos motivos que o levaram a se afastar de São Paulo... Jamais tivera notícias suas...
A carta revelava que ele temia retornar porque era provável que a polícia política ainda o perseguisse... Berenice compreendeu a angústia de Miro... Ela também entendeu o fato de não querer visitas, pois estava instalado em um lugar “indecente”... Ficou animada com a possibilidade de qualquer dia daqueles receber um telegrama com o convite para passear pela cidade, praias e outros atrativos do litoral.
Berenice ficou emocionada ao constatar que Miro se referia à mãe com palavras carinhosas... Não fossem suas limitações físicas, partiria naquele mesmo momento para se encontrar com ele...
Ela também estava muito preocupada com a agitação revolucionária na cidade... Restava-lhe responder a carta.
(...)
Berenice não tinha ideia de como a condição de Miro era das mais difíceis...
É que ele não encontrava trabalho...
A “quebra da Bolsa de Nova York” trouxe gravíssimos problemas também para as exportações brasileiras.
As companhias haviam demitido funcionários, e não estavam contratando...
Poucos eram os estivadores que conseguiam algum bico...
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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