sexta-feira, 3 de abril de 2015

“A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”, de Oswaldo Faustino – Miro despertou a confiança do italiano; Vamparazzo se mostra disposto a montar uma clínica dotada de laboratório, remédios e ambulância na pequena Marilândia; a história do imigrante italiano e sua avaliação sobre os procedimentos dos fazendeiros brasileiros

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/04/a-legiao-negra-luta-dos-afro_2.html antes de ler esta postagem:

O velho Tião se recorda da história que Miro (seu ídolo na Legião Negra) viveu na pequena cidade de Marilândia Paulista...
Muitos anos se passaram desde que tudo aquilo ocorreu... Mas Tião sabe bem que na ocasião em que Miro fez a sua narrativa (estavam nas proximidades de Queluz, num momento de trégua entre os combates contra as tropas fiéis ao governo Vargas) os episódios eram ainda bem recentes.
(...)
Vimos que o rapaz não esperava encontrar em tão pouco tempo um local onde pudesse se estabelecer longe da capital e das perseguições da polícia política... Foi por sugestão do caixeiro-viajante, Salim Engelsdorff, que decidiu se instalar na Hospedaria Paraíso da pequena cidade de Marilândia Paulista.
Sua fama de “médico dos bons” cresceu assustadoramente entre as pessoas simples do lugar desde que acertou no tratamento das dores que dona Margarida sofria.
Sabemos que o rico italiano dono de terras, comendador Vamparazzo, se aproximou de Miro e procurou convencê-lo a se instalar definitivamente na cidade.
Enquanto o doutor não se decidia, o comendador, que também era ex-prefeito e exercia muita influência na região, convenceu-o a tratar das prostitutas agregadas junto a Brigitte no bairro do Barreiro.
O atendimento às pacientes foi rápido e eficiente... De certo modo, Vamparazzo avaliava a atuação de Miro. Ele ficou tão satisfeito com o que viu que lhe ofereceu a possibilidade de permanecer com Brigitte até às seis da tarde, quando seria levado de volta para a hospedaria.
Estamos neste ponto em que Miro se recusou a aceitar o agrado, pois não era “dado àqueles costumes”.
(...)
Como que a se desculpar, o italiano disse que compreendia, e que era com sinceridade que estava disposto a ceder-lhe Brigitte até a chegada do chofer. Mas Miro insistiu que preferia aguardar na varanda...
Brigitte fez uma de suas meninas providenciar um forte café para o doutor... Ele e o doutor permaneceram na varanda esperando o tempo passar... Apreciador de charutos, Vamparazzo dava suas baforadas em silêncio até iniciar uma falação a respeito de seu passado em Marilândia e sobre os projetos que o incluíam.
O homem soltou frases em italiano, e para a sua surpresa, Miro o respondeu na mesma língua...
Cada vez mais o ex-prefeito se convencia de que Miro era o tipo ideal com o qual poderia firmar uma aliança... Ele esclareceu que gostava muito de Brigitte e que quando lhe deu a oportunidade de ficar com ela estava fazendo um teste... Justificou que isso o ajudou a conhecê-lo melhor.
E é por isso que ele podia garantir que estava pronto para oferecer ao Miro a oportunidade de ter uma clínica completa na cidade... Sustentou que não lhe faltariam laboratório e os remédios que a população mais necessitava... O doutor não teria a menor dificuldade em atender os casos mais simples...
O projeto de Vamparazzo era ousado! Ele explicou que os casos mais graves também não ficariam sem atendimento... Miro faria o diagnóstico e eles seriam encaminhados de ambulância (isso também seria providenciado) à cidade de Dianópolis (também fictícia; localizada há mais de 100 quilômetros de Marilândia).
(...)
A aquisição da ambulância certamente impressionaria a comunidade simples...
Vamparazzo falava com autoridade... Estava decidido...
Miro respondeu que ele só podia estar louco... Mas o italiano argumentou que era com a razão que estava tomando aquelas decisões... Principalmente porque o modo de ser e de se comportar do doutor o haviam convencido.
(...)
Vamparazzo falou mais a respeito de sua vida... Disse que veio para o Brasil na passagem do século XIX para o XX... Na Itália lidava com a terra e cultivava vinhedos... Notou que os fazendeiros no Brasil se enriqueciam, porém não tratavam a terra como se deve... Falou que a terra necessita de muita dedicação, e é por isso que pode ser comparada às mulheres... A terra não pode ser sugada e depois abandonada... Lamentou que parecesse bem provável que os fazendeiros brasileiros tratassem suas mulheres da mesma forma que tratavam a terra.
Todas essas palavras do italiano chamaram a atenção de Miro... Mas em suas reflexões surgia uma dúvida: aonde ele queria chegar com toda aquela falação?
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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