Miro era bem diferente de Tião... Este era um tipo modesto... Miro pretendia atingir uma posição de destaque na sociedade... De certo modo, dona Berenice o havia preparado para isso.
Não se pode dizer que Tião tivesse alguma ambição... Ele partia do princípio de que “quanto mais alto é o coqueiro, maior é o tombo do coco”.
Em seu banco de praça, o velho se lembrava do modo como Miro conquistou Marilândia Paulista em pouco tempo... Sua “ascensão” foi digna de um Napoleão. Mas também é verdade que sua “queda”, pouco mais de um ano depois de sua chegada (28 de julho de 1930) o deixou em posição análoga à do Napoleão ao perder a guerra.
Como se vê, a história de Miro em Marilândia se tornou motivo de piada...
(...)
Dois dias depois da conversa que teve com o comendador Vamparazzo, o
pacote que ele havia prometido chegou de Belo Horizonte. E, conforme o
combinado, o chofer apareceu na hospedaria para levar o doutor até o Barreiro.
Chegaram ao destino e o motorista fez o sinal da cruz
ao estacionar em frente a uma casa azul com grades de cor amarela... Havia uma
lâmpada vermelha acesa na varanda... Miro pôde observar que várias outras casas
da vizinhança também tinham lâmpadas vermelhas acesas.
O motorista sabia que devia retornar às seis da tarde para buscar o moço
que, em seu entendimento, só podia ser depravado. Alheio a essa interpretação,
Miro tocou a sineta do portão...
(...)
Uma mulher alta, gorda e loira apareceu para recebê-lo... O doutor
calculou que, no passado, ela devia ter sido bem bonita, ao contrário do mau
gosto que aparentava então (penhoar extravagante e escandalosos sapatos
vermelhos de saltos altos).
A mulher o saudou em francês: Oh la
la! Bienvenue, cher médicin! Je suis Brigitte, la mère des jeunes dames
(ulalá! Bem-vindo, querido doutor! Eu sou Brigitte, a mãe das garotas).
Vamparazzo surgiu na sequência e chamou a atenção da mulher... Disse-lhe
que todos sabiam que ela não era francesa e que, além do nome, o máximo que
podia sustentar era o fato de ter trabalhado para uma cafetina francesa em
Salvador (capital do estado da Bahia)...
Depois ele se dirigiu ao
Miro dizendo que “as garotas o aguardavam” na sala. Brigitte fazia caras e
bicos e seguia-os dizendo que era sim francesa, e que falava em português
apenas com dificuldade.
Em seus pensamentos, Miro
se divertia com a cena...
(...)
Na “suíte presidencial”,
o doutor começou a verificar as condições de saúde de quinze garotas... Logo
percebeu que apenas uma delas estava livre de doenças.
Brigitte providenciou a espiriteira que permitiu a esterilização das
agulhas e seringas... Uma a uma, as moças tomaram injeções, receberam
comprimidos e orientações sobre prevenções.
Não demorou e a tarefa de
Miro no Barreiro terminou... Ao Vamparazzo e à Brigitte disse que retornaria
nos próximos dias... Organizou sua tralha de enfermeiro na maleta e cuidou de
acomodar a penicilina que restou.
Vamparazzo levou-o a um
canto e demonstrou sua surpresa com a rapidez do trabalho... Disse-lhe que
ainda estava muito cedo e que demoraria até que o chofer viesse apanhá-lo...
Sendo assim, o doutor poderia passar algumas horas com Brigitte.
O comendador parecia insistir
ao dizer que ela não era como as outras meninas.
Mas
no mesmo instante Miro se recusou a aceitar a proposta, pois não era “dado
àqueles costumes”.Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/04/a-legiao-negra-luta-dos-afro_3.html
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto