domingo, 8 de março de 2015

“A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”, de Oswaldo Faustino – um pouco sobre os antecedentes numa revista da barbearia; ninguém fica de fora das discussões sobre o conflito armado; “tostão em terra de milhão”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/03/a-legiao-negra-luta-dos-afro_35.html antes de ler esta postagem:

Os episódios que seguem nesta e na próxima postagem se passam na barbearia da Rua da Glória e também nas proximidades da Chácara do Carvalho na manhã daquele mesmo dia 20 de julho de 1932...
Portanto, anteriores ao encontro de Tião com o seu Quincas (dono da banca de jornal) e a conversa que tiveram a respeito da Frente Negra, da Legião, do alistamento e da aposta que o comerciante português havia feito com o italiano da sapataria.
Aqui vemos Tião se entretendo com uma revista na barbearia...
Os frequentadores do salão debatem sobre os acontecimentos que agitam a cidade. Acompanhamos Tião manipulando o periódico, cujas páginas (ilustradas por fotografias e textos que nos remetem aos antecedentes da Revolução Constitucionalista) o levam a refletir sobre a sua condição e a de seus pares.


Dois barbeiros conversam com os clientes a respeito da situação política do país... Falam sobre Getúlio Vargas e sobre a sensação que as pessoas têm a respeito de suas pretensões ditatoriais...
Num sofá a um canto do estabelecimento, Tião aguardava a sua vez de ser atendido sem dar importância à falação sobre “Constituição, Tenentismo, Revolução, Brava Gente Bandeirante, Oligarquias”...
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Acontece que o Tião estava ali apenas para cortar o cabelo e fazer a barba... Aquele tipo de discussão na barbearia era algo que costumeiramente ocorria em vários pontos da cidade... Desde o final de 1930, a parte “mais esclarecida da população” (estudantes, intelectuais, professores, artistas e políticos) andava agitada com o processo eleitoral...
Tião não se interessava e parecia não entender os motivos de tanta agitação... Sobre aqueles dias ele se lembrava da empolgação dos estudantes de Direito falando da possibilidade de o país avançar, pois a “República chegava ao fim” e isso era motivo de comemoração.
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O que aconteceu no final de 1930 foi a deposição do presidente Washington Luís... O seu candidato, Júlio Prestes, saiu-se vencedor do pleito eleitoral, porém forças revolucionárias que haviam se rebelado contra o governo durante aquela década estavam aliadas ao Partido Liberal (derrotado nas eleições) e levaram o seu candidato, Getúlio Vargas, ao poder.
Esses acontecimentos que marcaram o “fim da República Velha”, e foram tão festejados pelos jovens estudantes de Direito, ficaram conhecidos como “Revolução de 1930”.
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Em 1922 foi celebrado o centenário da Independência do Brasil...
Mas esse ano não foi marcado apenas por festividades... Ocorreram protestos como a “Revolta dos 18 do Forte de Copacabana”. Faustino lembra que a “Semana de Arte Moderna” em São Paulo também foi um duro golpe “contra o conservadorismo rançoso dos oligarcas político-econômico-culturais”...
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A revista que Tião lê na barbearia enquanto aguarda a sua vez tem um artigo sobre a “Revolução Esquecida”, que ocorreu em São Paulo no ano de 1924 (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2010/09/sao-paulo-1924.html)... Para termos uma ideia da gravidade dos fatos, até o então governador, Carlos de Campos, teve de se refugiar no interior.
Tião tinha apenas 12 anos e a única coisa de que se lembrava era do medo de ser atingido em meio às explosões e troca de tiros.
Ele observa as fotografias que estão reproduzidas nas páginas da revista... Elas apresentam os tenentes que se envolveram na “Revolução Esquecida”: “Juarez Távora, Miguel Costa, Eduardo Gomes, Índio do Brasil, João Cabanas, Joaquim Távora”... Isidoro Dias Lopes, general reformado que havia liderado os rebeldes, entrou em ação novamente em 1932.
(...)
Há mais na revista manipulada por Tião...
Há uma matéria sobre a vitória do candidato Artur Bernardes contra Nilo Peçanha nas eleições presidenciais de 1921, portanto às vésperas da turbulência tenentista que se seguiu.
O texto se refere a Nilo Peçanha como um advogado mulato do Rio de Janeiro que chegou à presidência do Brasil. Ele havia sido o vice de Affonso Penna, e que entre junho de 1909 e novembro de 1910 governou como presidente após a morte do titular.
As origens de Peçanha eram motivos de zombaria por parte dos políticos, da alta sociedade e também da imprensa, que publicava sátiras e charges alusivas à sua cor de pele... Chamavam-no de “o mestiço do Morro do Coco”.
Uma ponta de revolta chegou ao peito de Tião... Ele e sua gente eram “tostão em terra de milhão”.
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Peçanha era um "indesejado" pelas oligarquias... Ele morreu poucos meses antes da “Revolução Esquecida”, que se pretendia antioligárquica... Também ele foi relegado ao esquecimento.
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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