sexta-feira, 6 de março de 2015

“A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”, de Oswaldo Faustino – as expectativas das lideranças da Legião Negra; o rádio engajado; o português Quincas e o italiano Gino, uma aposta; o jovem Tião era bom mesmo no jogo da tiririca

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/03/a-legiao-negra-luta-dos-afro_4.html antes de ler esta postagem:

O conflito dos paulistas com o governo Vargas ocorria desde 9 de julho...
Tião era do tipo que não se interessava por política, sequer se empolgava com os discursos transmitidos pelo rádio...
Já fazia algum tempo que as noites haviam deixado de ser silenciosas. As armas de fogo tornavam as madrugadas estrondosas... Porém nem mesmo as vestimentas fardadas e os veículos militares vistos com maior frequência pelas ruas chamavam a atenção do pacato Tião.
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Por falar em rádio, um dos locutores de maior audiência, e engajado no espírito revolucionário e constitucionalista, era César Ladeira (que ficou conhecido por criar títulos artísticos a cantores como Carmen Miranda, Carlos Galhardo e Emilinha Borba). Ladeira conclamava os paulistas citando poemas de Guilherme de Almeida e outros de “vertente revolucionária”...
(...)
Vemos Tião retomando a leitura do jornal...

                                                                                 Conversamos com o Dr. Joaquim Guaraná de Sant’Anna (advogado e chefe civil da Legião Negra), que nos disse o seguinte: “Os descendentes da raça negra no Brasil aqui estão para tudo o que seja luta e sacrifício. Estamos vivendo a hora mais expressiva da nossa pátria que, com o nosso sangue, a temos redimido de todas as opressões. Somos neste instante, um dos maiores soldados dessa cruzada. Venceremos!”

Não havia como ignorar... Também a comunidade de negros estabelecida na cidade estava se mobilizando em torno do conflito... A Legião Negra recrutava combatentes e já havia formado três batalhões... Esperava atingir o número de 3500 alistados.
Tião conhecia o português dono da banca de jornal, o seu Quincas...
O comerciante já o observava com atenção há algum tempo e decidiu comentar que tinha uma aposta com Gino, o italiano sapateiro... Como viu que o que chamava a atenção do rapaz era o noticiário sobre a Legião Negra, explicou-lhe que a agremiação havia sido criada em 14 de julho e que todo “homem de cor” parava para ler os jornais... Completou que a reação era imediata... Alguns seguiam para a Alameda Eduardo Prado... Outros retomavam o rumo dos afazeres cotidianos.
A aposta dos dois imigrantes era simples... Todas as vezes que um daqueles seguia para o alistamento, o português recebia mil réis do italiano. Se não seguiam para o alistamento, era o seu Quincas quem devia pagar ao outro.
E tudo indica que eles levavam a brincadeira a sério, pois o portuga aguardava a decisão de Tião... Ele já havia faturado 33 mil réis do Gino!
Tião o desanimou, pois garantiu que não se envolveria com aquele “negócio de revolução”... Era um tipo identificado com a paz e, sendo assim, pelo menos em relação à sua decisão, o português já podia ir se preparando para entregar mil réis ao sapateiro.
Seu Quincas fez referências às palavras do doutor Joaquim Guaraná de Santana... Disse ao Tião que “ser valente só nas rodas de tiririca” não significava grande coisa, pois São Paulo esperava muito mais dele.
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Tião era bom nas rodas de tiririca (também chamada de “jogo de pernadas”, a tiririca era uma “capoeira típica de São Paulo”. Faustino explica que os homens faziam uma roda e que um deles ia para o centro dando rasteiras nos demais. Enquanto ele tentava derrubá-los, os demais procuravam se desvencilhar dos golpes. Havia rodas de tiririca em que se jogava a dinheiro)...
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Seu Quincas disse que o doutor Santana frequentava a sua banca, e que ele mesmo havia lhe dito que fundara o Partido Radical Nacionalista no Rio de Janeiro com a intenção de “unir todos os homens de cor” no país...
Era com animação que o português lembrava as palavras do próprio advogado: para promover a união político-social da raça negra.
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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