sábado, 14 de março de 2015

“A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”, de Oswaldo Faustino – anticomunismo dos dirigentes da FNB e sua identificação com o Integralismo; o episódio do ataque ao jornal “A Chibata”, de José Benedito Correia Leite; o advogado santista Joaquim Guaraná Santana se destaca o processo

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/03/a-legiao-negra-luta-dos-afro_13.html antes de ler esta postagem:

Os anarquistas sofreram dura repressão policial...
Desde o final da década de 1910 algumas lideranças operárias falavam a respeito da “luta de classes” e da necessidade de conduzir os oprimidos à Revolução... Sobretudo após a Revolução de 1917 na Rússia, os sindicatos se encheram de disposição para conduzir suas reivindicações.
Mais tarde, tanto a polícia política de Vargas quanto do governo paulista atuaram com rigor na perseguição dos agentes socialistas e comunistas.
Faustino explica que, além de intelectuais, inúmeros “operários das fábricas do Brás, Mooca ou do Ipiranga” acabaram fichados pelas forças de repressão.
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A história da Frente Negra Brasileira também foi marcada pela divergência política entre liberais e socialistas.
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Nas reuniões sindicais não poucas vezes surgiam propostas de invasão das empresas estrangeiras, Como a Light e a The São Paulo Railway Light and Power...
Vimos que o professor Arlindo Veiga dos Santos era monarquista declarado. O fundador do movimento patrionovista, que considerava a República o pior dos males para a nação, não suportava o Comunismo.
Também Isaltino Veiga dos Santos, irmão de Arlindo e secretário geral da FNB, não media consequências quando a discussão era sobre os vermelhos e seus ideais... Ele partia para as ações violentas contra os inimigos políticos.
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Para termos uma ideia dessa intolerância, o jornalista José Benedito Correia Leite (um dos fundadores da FNB) teve de deixar o movimento devido às sua tendência socialista.
Correia Leite e José de Assis Barbosa criaram o Clube Negro de Cultura Social com sede na Rua Major Quedinho... Todos os que se sentissem perseguidos pelos irmãos Veiga dos Santos na FNB podiam se filiar ao clube... E foi mais ou menos isso o que ocorreu.
Correia Leite não ficou na defensiva... Ele era conhecido por ter criado O Clarin em 1924 (depois denominado de Clarin d’Alvorada). Após sua saída da FNB, criou A Chibata, um jornal que era redigido em sua própria residência para criticar diretamente os dirigentes da FNB e os irmãos Veiga em particular.
É claro que a divergência com os Veiga dos Santos se originava no modo como concentravam amplos poderes, como se fossem os donos da Frente Negra... Mas a maior polêmica para A Chibata foi repercutir o caso amoroso de Isaltino na pequena cidade mineira de São Sebastião do Paraíso (Minas Gerais) com uma jovem de família tradicional. Um caso extraconjugal, um verdadeiro escândalo!
Então podemos dizer que, em vez do debate no campo das ideias político-sociais, dava-se preferência ao ataque pessoal à conduta imoral do adversário.
Essa história não terminou bem para A Chibata... A milícia da FNB recebeu a ordem de atacar a redação do jornal que estava apenas em sua segunda (e última) edição.
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Como se pode depreender, a religiosidade dos líderes frente-negrinos não se aplicava às divergências políticas e de ordem pessoal... Eles apelavam mesmo para o revide violento.
Isso à parte, não se pode negar o poder de persuasão do professor Arlindo... Seus discursos inflamados atraíram milhares (cerca de 20 mil) de adeptos para a causa da FNB... As carteirinhas de filiação davam dignidade aos negros como nunca antes haviam experimentado...
O crescimento da agremiação política possibilitou a formalização partidária... Faustino registra que com o início do Estado Novo, Vargas ordenou o fechamento do partido.
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O sentimento do velho Tião era de orgulho por saber que fazia parte daquele povo... Ele nunca se filiara à FNB, mas reconhecia a inteligência do professor Arlindo, que lecionou na Faculdade São Bento (que se tornou Pontifícia Universidade Católica).
Algo que a simplicidade de Tião não teria condições de criticar era a identificação ideológica dos irmãos Veiga dos Santos e sua FNB com o Integralismo de Plínio Salgado... Os integralistas eram de tendência fascista e tinham como lema “Deus, Pátria e Família”... Na FNB o lema era “Deus, Pátria, Raça e Família”...
O atentado ao A Chibata no começo de 1932 rendeu um processo contra os irmãos Veiga dos Santos... É por essa ocasião que o advogado frente-negrino Joaquim Guaraná Santana aparece como grande expoente do movimento.
A próxima postagem reserva informações interessantes a respeito do afastamento desse personagem. Como se sabe, seu nome se relaciona à fundação da Legião Negra.
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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