sexta-feira, 13 de março de 2015

“A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”, de Oswaldo Faustino – a desunião e sua origem no preconceito; Frente Negra Brasileira e sua organização; professor Arlindo Veiga dos Santos e o patrionovismo

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/03/a-legiao-negra-luta-dos-afro_11.html antes de ler esta postagem:

Estamos neste ponto em que o velho Tião refletia sobre as coisas que gostava de fazer e os ambientes que gostava de frequentar... Oitenta anos se passaram... Alguém acreditaria que tudo aquilo aconteceu?
(...)
Ninguém notou o velho que está em silêncio no banco da praça... Ele pensava em como as pessoas são desunidas e o quanto a desunião prejudica a emancipação de todos... Será que os interesses particulares devem sempre prevalecer sobre o bem comum?
Era lamentável ter de admitir que a frágil união dos negros não pudesse evitar que a “igreja dos pretos” fosse excluída da proposta de modernização do Largo do Rosário...
(...)
Tião observa os que caminham para os afazeres... Sabe que eles também têm preconceitos e que podem elencar justificativas para o mesmo... É sempre assim... O outro é que é o diferente (“baiano, gordo, preto, branco, japonês, velho ou muito moço”).
O problema é que não poucas vezes o ressentimento se torna ódio que pode levar à opressão e até mesmo à violência extremada...
Tião pensava sobre todas essas coisas e lamentava a capacidade que o ser humano tem de eliminar o seu próximo...
Mais uma vez ele se recorda da Frente Negra, e lamenta que a agremiação tenha sofrido com posturas de intolerância.
(...)
Mas o que era a Frente Negra?
Essa associação era formada por pessoas marcadas pela superação das dificuldades impostas às suas famílias desde sempre... Seus dirigentes tinham em comum o fato de terem se dedicado com afinco aos estudos... Tornaram-se respeitados pela sociedade e eram reconhecidos por seus empregos...
O ideal da Frente Negra era o de, a partir de suas atividades, “mudar o conceito que essa sociedade tinha forjado sobre os negros”... A união em torno desse objetivo seria marcada pela construção das “condições para plantar a mudança”.
A fundação da Frente Negra Brasileira data de 16 de setembro de 1931...
O encontro que resultou na criação da FNB ocorreu no Salão das Classes Laboriosas (na antiga Rua do Carmo; depois de algum tempo a sede da agremiação foi transferida para a Rua da Liberdade)... Entre os presentes, estavam Francisco Lucrécio, Raul Joviano do Amaral e José Correia Leite.
A entidade possuía um chefe geral, que concentrava amplos poderes... Vinte membros constituíam o Grande Conselho, e havia ainda um Conselho Auxiliar do qual participavam cabos distritais.
A Frente Negra era uma organização que muito se assemelhava em seu formato organizacional a muitas outras que existiam naquele tempo... Várias foram influenciadas por associações que atuavam na Europa.
A FNB possuía uma bandeira, brasão e hino... Suas fileiras contavam com uma “milícia paramilitar, cuja linha de frente era composta por capoeiristas”.
(...)
O primeiro chefe geral da entidade foi o professor Arlindo Veiga dos Santos... Recordando-se deste personagem, Tião lembra-se de que “na Frente Negra só tinha negro de classe”...
Veiga dos Santos era católico dos praticantes. Para ele, a República havia causado um grande mal aos brasileiros, sobretudo aos negros... É por isso que se assumia como “patrionovista” (de acordo com nota de Faustino, um patrionovista era “defensor ardoroso da Monarquia e da restauração do III império, chamado de Pátria Nova”).
Em 1928 ele havia fundado o Centro Monarquista de Cultura Social e Política Pátria Nova... Para os patrionovistas, a República maculava a luta abolicionista e até mesmo a Lei Áurea... Se havia alguma instituição culpada pelo estado deplorável dos negros, era a República que deviam acusar.
Arlindo Veiga dos Santos nasceu em Itu e ministrou aulas de “latim, inglês, português, história e sociologia”... Era tão inimigo da República que recusou a proposta para se tornar secretário da Educação em São Paulo.
Para muitos dos que frequentavam as reuniões, cursos e eventos festivos na Frente Negra, o professor não perdia ocasião para doutrinar os mais jovens garantindo que “negro que se preze tem de ser monarquista”.
(...)
Também Tião recebeu do próprio professor um manifesto patrionovista (“O Comando Patrionovista”)... No banco da praça ele se recorda de algumas palavras daquele papel que amarelou e se perdeu no tempo:

Patrícios! Matemos a República, antes que a República mate o Brasil! (...) Merece, essa criminosa, carinho algum dos Brasileiros? Vendeu-os, empobreceu-os, desmoralizou-os, anarquizou-os, fê-los miseráveis e desgraçados em 40 anos, sob a cor mentida do “progresso”! Morra a República!!!

Mas qual seria o posicionamento político de Tião? Monarquista ou Republicano?
O velho imagina que “para ser uma das duas coisas” seria preciso ter estudo...
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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