sexta-feira, 6 de março de 2015

“A Legião Negra – A luta dos afro-brasileiros na Revolução Constitucionalista de 1932”, de Oswaldo Faustino – atividades recreativas na sede da FNB; dissidência e fundação da Legião Negra; um comandante branco; impossível encontrar relações entre as aspirações das elites paulistas e as demandas sociais dos mais necessitados

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2015/03/a-legiao-negra-luta-dos-afro_6.html antes de ler esta postagem:

Tião não conhecia o Partido Radical Nacionalista... Ele era mesmo desligado dos assuntos políticos.
Mas sobre a Frente Negra Brasileira ele já ouvira falar... Até frequentara alguns dos bailes promovidos pela associação... Quem é que não conhecia o baile das “Rosas Negras” no Bairro da Liberdade (onde ficava a sede da FNB)?
Também o português apreciava os bailes frequentados por lindas negras... Ele se empolgou tanto que acabou soltando um comentário bem assanhado sobre as “cachopas negrinhas”... Tião o advertiu que alguns dos dirigentes das Classes Laboriosas, como o professor Vicente Ferreira e o delegado geral, doutor Valentim, não aprovariam aquele tipo de ousadia.
Quincas quis deixar claro que se identificava com a comunidade e que gostava mesmo era de estar entre os negros... Garantiu que estava tão “por dentro” dos assuntos que sabia que os dois citados por Tião, além de Joaquim Guaraná Santana e outros, acabaram expulsos da Frente Negra por não concordarem com a neutralidade da agremiação em relação à causa constitucionalista.
(...)
Então é isso...
A Legião Negra foi fundada como uma dissidência da Frente Negra Brasileira por causa do desentendimento em relação à campanha paulista contra Getúlio Vargas.
Para o jovem Tião, a posição da Frente Negra era a mais sensata. A neutralidade devia ser a resposta para o desentendimento entre a gente do poder paulista e o pessoal do presidente Getúlio.
O português Quincas, porém, tinha opinião contrária... Ele provocou o rapaz dizendo que, de acordo com o doutor Guaraná Santana, não apoiar a revolução constitucionalista era ato de traição.
Tião não admitia de nenhuma forma ser taxado de traidor... Se se alistasse nas tropas da Legião garantiria soldo para Rosa e os filhos... Por outro lado, não conseguia vislumbrar motivos dignos que o levassem ao martírio nos combates pelo estado de São Paulo.
Por isso estava confuso.
(...)
As reflexões de Tião despertavam dúvidas que exigiriam de sua parte uma tomada de posição...
Mas seus pensamentos foram interrompidos quando um veículo se aproximou da banca do Quincas... O ford bigode (modelo “T”) conversível trazia ninguém menos que o capitão Gastão Goulart... Era ele quem liderava militarmente a Legião Negra.
O automóvel era conduzido por um soldado negro bem magro... O comandante branco em seu impecável uniforme estava acomodado no banco de trás... Ele cumprimentou o Quincas com um sinal quase imperceptível.
O soldado motorista desceu e recolheu alguns jornais... Goulart dirigiu o olhar para Tião... O rapaz sentiu-se tão envergonhado como quem não encontra palavras para justificar um descumprimento de dever.
(...)
O mal estar do Tião foi passando na medida em que o carro do comandante militar (branco) da Legião Negra se afastou da banca do seu Quincas.
Já fazia seis dias que a Legião tinha sido criada... Ele não estava tão longe da sede, que ficava na Alameda Eduardo Prado, 68 (a antiga propriedade do barão de café havia sido transformada anteriormente em quartel general da Segunda Região Militar).
Parecia inevitável que aquele fosse o seu destino... E nesse caso o seu Quincas faturaria mais mil réis do italiano Gino.
(...)
A dúvida a respeito dos motivos do movimento armado não seria solucionada... Todavia os que se alistavam não eram mais esclarecidos do que ele... Sinceramente ninguém entendia o que estava por trás da revolta e da “exaltação do espírito bandeirante”...
Pelo rádio esbravejavam que São Paulo era uma locomotiva arrastando um monte de vagões vazios e deficitários...
Separatismo?
Essa não era a preocupação da maioria que vivia precariamente em barracos e cortiços... O medo de não ter onde morar era o que mais afligia os pobres...
No Bexiga e no Largo dos Piques eles sofriam constantes ameaças de despejo...
As regiões mais afastadas do centro, e até mesmo o interior do estado, pareciam ser o seu destino.
Leia: A Legião Negra. Selo Negro Edições.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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